#Here & Now
Ela é linda.
Simplesmente não consigo desgrudar meus
olhos de seu rosto sereno, tão puro e doce. É quase ridícula a maneira e a
frequência com a qual penso isso. Essas palavras se espiralaram por tanto tempo
em minha mente, quase como um redemoinho de poeira tóxica, que, agora, elas me
escapam como o vento – atingem quem eu quero e, especialmente, me libertam.
Desligo a TV e tento não me mover mais.
Quero estar tão imóvel quanto um camaleão escapando de uma águia; assim posso
admirá-la por tempo indeterminado, até o momento em que sei que ela despertará
assustada e esfregará os olhos lentamente para se livrar da visão turva. Não
posso me conter com o que vejo: seus cabelos negros emoldurando seu rosto sem
maquiagem, seus cílios tão longos, seus lábios descansando confortavelmente,
seu diafragma fazendo seus ombros encolher e se expandir conforme sua
respiração cadenciada.
É sábado. Não conversamos quase nada desde a
minha chegada, na noite anterior. Instalei tudo o que precisava em seu quarto
como de costume, incitei conversas inócuas, brinquei com seus gatos e suportei
mais uma vez assistir a My Fair Lady.
Nunca serei capaz de admitir para ela pessoalmente, mas sinto ânsias só de
pensar na Audrey Hepburn.
Mas nada do que eu realmente programara para
ocorrer de fato ocorreu. Nenhuma das frases que me foi apagada da mente por
conta da exaustão foi proferida a ela. Nem mesmo a que eu escondi por tanto
tempo.
Não houve oportunidade explícita nem
pretexto para que o motivo pelo qual estou passando meu fim de semana inteiro
em sua casa fosse desvendado inteiramente. É claro que de uma parte ela já tem
ciência – não seria a minha melhor amiga se não tivesse. Mas o essencial, o
primordial, ah, isso vai assustá-la. Porque ela nem imagina o porquê sua canção
especial se tornou igualmente especial para mim. E, é preciso admitir, ela não
tem conhecimento de quantos filmes assisti carregando-a no pensamento, desejando
que todas aquelas coisas bobas – as frases irritantemente românticas, as
canções dançadas pelos protagonistas, os montes de dinheiros gastos em flores e,
talvez o mais importante, as declarações de amor – pudessem fazer parte de
nossa história. Todo o drama, todo o encantamento, todos os suspiros.
Sei que tudo está estranho – não, diferente.
Estamos apenas rondando o terreno como cães farejadores. Quando tentamos pular
o muro, alguém sempre aciona o apito e, obedientes, sentamos e esperamos. Apesar
de tudo, não consigo evitar a ansiedade e a expectativa. Quero danificar todos
os apitos e pular o mais alto que consigo para, enfim, ultrapassar o muro. No
entanto, está claro que não ainda não tenho permissão para tal façanha – ela está de posse de todos os utensílios e me doma tão facilmente quanto uma
criança assustada.
Suspiro com todos os pensamentos emaranhados
formados na minha mente. Chego a cogitar permanecer por mais alguns minutos ali
– o suficiente para que eu adormeça – ou acordá-la, mesmo tendo certeza de que
ela me enxotaria de sua cama com o seu doce “Boa noite” e daria as costas para
mim, sinalizando o fim de qualquer tentativa minha de aproximação.
Mesmo odiando a ideia de, mais uma vez,
falhar com o objetivo da minha missão não encontro alternativas: livro-me da
coberta e, focando meus olhos nela pela última vez na noite, deixo sua cama. Com uma
espécie de frustração me embolo no colchão localizado ao lado de sua cama e
tento fechar os olhos, apagar o que vi e o que senti. Sou incapaz. Estou
irrequieto demais para conseguir descansar.
Não sei exatamente quantos minutos se
arrastaram, mas meus olhos continuam abertos, fixos no teto. A frustração ainda
não cedeu e há um adicional: sinto-me sufocar como nunca antes. Quando o rosto
dela, mais uma vez, chispa pela minha memória, sua voz rouca me diz:
- Não se sinta culpado.
Mas a culpa, de imediato, se alastra pelo
meu corpo mais rápido que morfina. É inevitável.
Love, Nina.
Adorei,fiquei muito encantada com o texto nina,até suspirei aqui haha mtu mtu fofo Obrigada pela visita sempre e pelos comentários
ResponderExcluirbeijocas
http://cantinhodanina19.blogspot.com.br/
Adorei o texto, vc tem um lindo talento e pretendo voltar mais vezes. Bjão!
ResponderExcluirOi Nina, tudo bom?
ResponderExcluirNossa, que texto lindo, delicado, romântico. Consegui visualizar toda sua narrativa e abria um sorriso a cada parte doce em que me identificava.
Parabéns
Tem post novo e promoção de um Kindle! Vai perder?
Beijos
Endless Poem
Oiiii Nina, lembra de mim? haha
ResponderExcluirEu andei bem sumida aqui da blogsfera, até tive que dar uma pausa no meu blog por causa da escola, mas enquanto não volto a ativa lá no blog ,vim aqui fazer uma visitinha aqui seu blog me deparo com esse texto lindo!
Com uma sensibilidade incrível, uma foma muito linda de colocar sentimentos em forma de palavras, eu tenho que dizer que eu amei esse texto! Você escreve muito bem flor! :D
Beijoocas flor, parabéns mais uma vez! :*
http://meuuniversox.blogspot.com (blog em pausa, mas logo a ativa novamente!)