#She Is Love
Carta Número
11.
Não
vou fingir que sei lidar ou entender a mente feminina, muito menos a sua – seria
como tentar destilar as sinapses de Einstein que, ao invés de números e muita
filosofia, abriga títulos de livros esquecidos, uma lista interminável de
canções e citações que nunca, jamais, pessoas comuns utilizam em seus
cotidianos.
É
muita coisa estranha e incompreensível junta. Por isso, de algum modo, isso faz de você muito mais do que todos podem ver.
Você provoca surpresa e júbilo; raiva e inveja; inspiração e admiração. Você é tudo o que muitos tentam e não conseguem ser – e
nunca serão; quem poderia reproduzir com exatidão o discurso de O
Ditador, ou as falas mais belas de Amélie Poulain? Quem poderia distribuir
tanta simpatia, mas tanta seriedade, ao mesmo tempo? Você é firme, autodidata,
orgulhosa, insuportável, perseverante. Eles dizem isso constantemente. Eu
apenas detecto toda a doçura diluída nos seus olhos profundos – esses mesmos
olhos que, acima de tudo, me assustam até hoje –, toda a sua hiperatividade
mascarada de alegria e de diálogos infindáveis (e que nunca permanecem no mesmo
assunto), todo o seu altruísmo disfarçado de sorrisos distribuídos aos mais
carentes e toda a sua inteligência acima da média que não deixa, de jeito
algum, explícita a sua irritação defronte todos os erros cometidos pelos outros
– não tem nada de errado em querer ser mais do que poderia se contentar.
Gosto
quando o seu joelho toca o meu, ou quando nossas mãos se entrelaçam, ou quando
suas pernas estão sobre as minhas enquanto você tenta incutir alguma
aprendizagem mirabolante no meu cérebro pequeno (que, você diz, é muito
proporcional para alguém do meu tamanho; apenas enfrento empecilhos de
cognição, assim como todos). Admiro a sua capacidade de repetir, dos mais
diferentes métodos, a mesma explicação para que, no fim, você possa sorrir e dizer
"Agora, vamos para o próximo". Com você há sempre mais – mais um
questionamento, mais um exercício, mais uma reflexão, mais uma canção, mais um
minutinho. Não me canso do seu incansável. Gosto de fazê-la rir, não por saber
que me acha engraçado, mas porque existe algo no timbre da sua risada que te
deixa irresistível. E não dá para acreditar; todas as nossas canções, você já
cantou e imortalizou. Você é melodia.
Gosto
das nossas brigas (daquelas que você desaparece pelo restante da noite, mas que
está em meus braços de novo na manhã seguinte), do jeito disparado que fala
enquanto está nervosa demais, da rapidez descomunal que consegue dar um nó
perfeito na minha gravata preferida sem nunca deixar escapar minhas poucas
palavras baixas na sua orelha, do modo como mais ninguém é capaz de entender
por que estamos juntos, de rir contigo sobre algo que apenas nós conhecemos, de
gastar nossas noites dividindo cachorros-quentes enquanto revemos parte do
trabalho do Woody Allen (e você nunca perde a oportunidade de elucidar com
brilhantismo todas as minhas dúvidas crassas), do modo como as suas saias são
curtas o suficiente para chamar a atenção dos outros garotos (mas, apesar de
tudo, você sempre termina na minha cama no final da noite), de não conhecer
seus novos amigos e ouvir dizê-la que "nunca presta muita atenção no que
eles dizem, porque nenhum deles sou eu", do seu interesse exacerbado por
tramas policiais e românticas.
Você
homenageia pessoas mortas, mas tem medo das vivas; dá valor às palavras bem mais
do que beijos; prefere gatos a cachorros, mas tem adoração pelos meus cães;
tudo tem de fazer referência aos seus livros e personagens literários
preferidos; coleciona documentários entediantes e filmes estrangeiros, porque
"não vai se sucumbir à mídia hollywoodiana"; aborda temas polêmicos e
incomuns, pois tem fascínio pelo "pensamento do contrário"; não mata
galinhas em videogames e nomeia o gambá como nosso mascote; se tem uma opção a
utiliza com sabedoria, sempre em prol dos fracos e oprimidos; gosta de palavras
como "outcast" e "overdog", porque elas a definem; não quer
presentes, quer cartas; aprecia a simplicidade e nunca vai se dar bem com as
novas tecnologias; sabe o valor sentimental das coisas; despreza a Madonna, mas
poderia passar suas noites escutando indie-rock; sempre tem a palavra final;
acha que nasceu na época errada e precisa, urgentemente, de uma máquina do
tempo.
Tenho
que aceitar o fato de que você vai conquistar tudo o que deseja. Você sempre
consegue usar o seu dom da retórica para persuadir e/ou convencer todos de suas
opiniões. Dizem que você é convencida demais, tem nariz empinado e poderia
parar de levantar a mão sempre que há debates nas aulas acerca dos textos
dados. Gosto de rir de toda essa gente, porque você não é convencida: apenas
tem certeza das suas convicções com muito mais atitude que a maioria; não tem
nariz empinado: nunca olha as pessoas de cima abaixo - você e todos os outros
estão no mesmo pedestal; e como você poderia parar de levantar a mão, se sempre
sabe todas as respostas que nunca ninguém nem imagina? Por favor, continue a
irritar a todos. É a nossa diversão pessoal.
Você
é uma solução, não um meio - você lembra disso? Suas respostas sempre me fazem
parar de me sentir sem utilidade. Meu cérebro nunca funciona com a rapidez e
com a frequência que o seu. Você é mais. Você é demais. Você é minha. Por que deveríamos prestar explicações? Nenhuma
informação será suficiente e sempre haverá outra brecha para a dúvida.
"Ela
é errada para você".
"O
que você vê nela?"
"Como
você a suporta?"
Amigos, deixem
disso. Ela é minha,
penso. Você é minha. Você é amor. Não quero provar
nada a ninguém - e por que deveria? Não dizem que não existe razão nem
explicação para o amor? Pois então, que lancem mão disso! Você é assustadora,
mas minha. Incoerente, mas minha. Renegada, mas minha. Difamada, mas minha.
Surtada, mas minha. Colorida, mas minha. Cercada de amigos, mas minha.
Mergulhada em mundos paralelos, mas minha. Opinativa, mas minha. Insatisfeita,
mas minha. Sempre minha. Você sempre volta para mim, independentemente de
quantas caminhadas sozinhas faça. É capaz de ser autônoma, mas não gosta de se
ver longe de mim. Diz gostar das nossas diferenças, das nossas discussões que
sempre terminam em risadas, das nossas horinhas de descuido, dos nossos
silêncios, das nossas estrelas no teto, dos nossos pés frios juntos, das nossas
tentativas de inovar tudo, das nossas aventuras despropositadas, das canções da
nossa vida, dos nossos pais num almoço de domingo, das festas na piscina que
resultam em filmes toscos de fraternidade.
Se
eu pudesse te roubava para mim.
~*~
Muitas cartas de amor pra vocês, Nina.
Awn, ficou incrível, muito bom *O*
ResponderExcluirbjus ;*