#A Tal da Obrigação
Eu aprendi que um problema
é ser quem é.
Aprendi que você tem que
ser outro alguém, também.
Que você não pode ser como
é, não pode gostar do que é, não pode gostar do que faz.
Tem a total obrigação de
ser quem não deve ser, e quem não gostaria de ser. Tem a total obrigação de
sair à noite com as amigas, porque essa é a vida que lhe deram. Você é jovem,
tem que sair. Você é obrigada a isso. Não pode querer ficar em casa sendo quem
é, lendo seus livros de amorzinho, ou escrevendo histórias de amorzinho. Tem
que sair.
Saia, menina!
Aprendi que se você sair
com suas amigas você é legal. As pessoas vão gostar mais de você por causa
disso.
Vão gostar, aliás, de
alguém que você não é.
Então é isso.
Você tem a total obrigação
de fingir gostar de coisas que não gosta, de fingir não gostar de ler à noite,
de fingir não amar as palavras.
Você tem a total obrigação
de se doar a quem não se doa, também. De suportar gente que revira os olhos
enquanto fala contigo. De fingir que papos fúteis lhe agradam pra não passar a
imagem de introvertida. De concordar em ser maltratada. De entrar num tipo de
conluio no qual você é sempre humilhada por não fazer parte daquele velho papo
“Mas todo mundo faz isso”.
Aprendi, também, que você
pode dizer com todas as letras algo assim: “Dá licença, mas quem disse que eu
tenho essas obrigações?”.
E que se dane se a outra
pessoa, aquela que revida os olhos enquanto fala contigo, não gostou da sua
resposta. Quem sabe, você não tenha gostado de ter de explicar o modo que
passará sua noite, que não vai ao barzinho com suas amigas.
Aprendi que não adianta
explicar, as pessoas entendem o que querem. Que as pessoas se agarram a padrões
ridículos. Que acham que pra ser feliz você tem a total obrigação de sair à
noite, de estar à caça de garotos, de ficar procurando coisas que deveriam ser
achadas ao acaso.
Quem disse que a vida é
feita de projetos?
Aprendi, também, que o
mais importante é ser feliz do modo que mais lhe agrada, independentemente do
condicionamento cultural ao qual está inserida.
Não precisa sair à noite,
se assim não quiser.
Não precisa olhar todos os
garotos da sua turma tentando encontrar alguém.
Não precisa procurar o
amor a cada esquina.
Não precisa, acima de
tudo, ser feliz fingindo ser alguém que nunca seria.
Seja você.
Introvertida.
Esquisita.
Caseira.
Escritora.
Leitora.
Mas seja quem é.
Sem obrigações, Nina.
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