#Resenha: Vaga Música
Eu nunca fui grande fã de poemas. Sempre pensei que não os entendia e que nunca seria capaz de escrever os meus próprios versos. Lego engano. A reviravolta aconteceu quando li Mosaicos, um livro de poemas da minha querida amiga Michelle C. Buss. A partir daí, comecei absorver a beleza e a unicidade que é a poesia, até mesmo deixei que alguns versos me encontrassem - e os transformei em poemas próprios <3
Bem, eu encontrei Vaga Música, da Cecília Meireles, completamente por acaso. Há alguns dias, eu fiz um teste para saber qual livro nacional eu seria (sim, eu sou viciada em testes haha!) e o resultado deu Antologia Poética, do Carlos Drummond de Andrade. Fiquei super feliz, pois não conhecia o livro e também porque nunca achei que eu fosse ser associada a um livro de poemas. Fui eu, bem animada, procurá-lo na biblioteca da PUCRS. Tenho o costume de folhear os livros antes de levá-los, por isso repeti meu ritual com este. E lá veio a minha decepção: acabei não me identificando com os formatos dos poemas do Drummond, no entanto, na mesma seção, vi uma lombada lilás escrita "Cecília Meireles". Pronto, eu tinha achado Vaga Música. Folheei-o, também, e gostei do que vi. Levei-o no mesmo instante e o li na mesma noite. E, assim, o meu amor por poemas se intensificou ainda mais!
Acho que todo mundo que já teve algumas aulas básicas de literatura contemporânea conhece a Cecília, pelo menos de nome. Confesso que eu nunca tinha parado para ler um livro dela e adorei que este primeiro tenha sido tão leve e cativante!
Título: Vaga Música
Autora: Cecília Meireles
Editora: Global Editora
Páginas: 176
Ano: 2013 - 2a edição
★★★★★ + ♥
Vaga Música foi publicado em 1942 e traz um lirismo profundo, que muito diz sobre a autora e suas experiências pessoais. Há muita metáfora em suas palavras, coisa que me fez adorar muitos de seus versos. Ela coloca sentido em coisas abstratas - como o amor, a saudade e a despedida - através de substantivos concretos, como o mar, as flores, as nuvens, as pedras, o céu, a lua. Isso foi o que mais apreciei em sua poesia. A musicalidade é inerente aos poemas de Cecília, tanto é que muitos dos títulos trazem a palavra "canção" - e são cheios de ritmo e sonoridade cadenciada.
Alguns poemas são bastante reduzidos (como Ritmo, Epigrama, Canção Mínima etc), porém, há outros que ultrapassam quatro/cinco estrofes (como Naufrágio Antigo, Da bela adormecida, Alucinação etc). Gostei de poucos poemas inteiros, no entanto. Os que gostei foram esses:
Durante a leitura, percebi que gostei mais de estrofes avulsas, não de poemas específicos. Percebi, também, muito de mim nas palavras da Cecília. Diversas vezes, lia uma estrofe e pensava que aquilo era "muito eu" e que eu mesma poderia ter escrito aquilo. Aliás, fiquei muito feliz por detectar muito do estilo dela nos poemas que tenho escrito. Algumas estrofes:
Gostei muito de a autora ter inserido parênteses e travessões em alguns versos, acho que, por mais que eles "quebrem" o ritmo da leitura, funcionaram muito bem em alguns aspectos, como dar ênfase em certas ideias transmitidas. A rima varia bastante. No princípio, achei que o livro inteiro seria composto por ABAB, mas a miscelânea de tipos de rima é bastante rica. Percebi que depende muito da proposta de cada poema, na verdade. Nunca fui muito boa em rimas e, por isso mesmo, admirei o intenso trabalho de Cecília em Vaga Música. No entanto, os versos rimados se complementam de maneira natural e sem esforços.
O lirismo contido neste livro, ao mesmo tempo em que é encantador e leve, é muito intimista e melancólico. Há muitas interrogações que costuram seus versos, que, ao invés de fazer com que o leitor mergulhe em perguntas sem respostas, apenas dá a sensação de que, por detrás de cada inquietação da autora, existe muita certeza humana em sua alma, que é desnudada aos poucos ao longo deste livro. Temas como a fugacidade do tempo, a precariedade da existência e a efemeridade das cenas cotidianas são muito bem explorados. O tema que mais gostei de ler foi sobre a solidão, que, por vezes, é ressaltada. A relação entre a solidão e a vida é algo que há muito em mim - creio que sem a solidão, eu nada seria - e percebi que essa questão é também retratada e sentida nas palavras da autora (infinitos pontos extras para ela, por isso <3). Devido a isso, senti-me muito próxima dos sentimentos expostos em cada poema. Aconteceu, também, uma identificação quase que imediata quanto aos versos lidos.
Só posso dizer que Vaga Música se tornou meu segundo livro preferido de poemas. Nunca achei que fosse me apegar a poemas desse jeito, mas aconteceu de forma muito natural. Com certeza, vou procurar outros livros da autora e dar continuidade à leitura de seu trabalho, pois a técnica e a habilidade dela me surpreenderam bastante.
A capa me cativou de imediato, por causa da cor. Como dizem meus profs de Planejamento, uma cor te remete a algo e esse lilás/roxo me remeteu a algo muito intimista e acolhedor, logo de cara. A imagem das mulheres (presumo que sejam mulheres) tocando esse instrumento (que não sei qual é; apenas sei que não é um violão) traduz com muita perfeição e lirismo a musicalidade contida no livro. E o que falar do título? Não poderia ser outro, ponto.
O livro, na verdade, é "dividido" em algumas partes. Há um espécie de prefácio escrito por João Cezar de Castro Rocha (que é professor no Instituto de Letras da UERJ) antes dos poemas. Nesta parte, João explica um pouco sobre a relevância de Cecília na literatura lírica brasileira e, também, sobre a poesia da autora se baseando em alguns versos que podem ser lidos no decorrer do livro. Aí, os poemas entram e somente acabam com uma parte chamada "cronologia", que expõe uma linha do tempo da vida da autora. Por último, há um sumário com outros poemas que não entendi se são, ou não, da autora.
Acho importante falar um pouco da trajetória da escritora (muitas informações foram retiradas da linha do tempo disposta no próprio livro):
Cecília Meireles nasceu em 1901 e foi a única filha sobrevivente do casal, que teve quatro bebês. Aos quatro anos, perdeu a mãe e passou a ser criada pela avó materna. E 1917, ela começou a exercer o magistério primário e, em seguida, ingressou no Conservatório de Música. Em 1919, publicou o primeiro livro, Espectros. A partir daí, Cecília começou sua carreira como escritora com livros não somente de poemas, mas também infantis e infantojuvenis, e com teses e ensaios para revistas e jornais. Em 1938, conquistou o prêmio Olavo Bilac de poesia da Academia Brasileira de Letras com Viagem. Seus livros foram publicados também em Portugal. Até 1964, ano de sua morte, livros inéditos da escritora eram publicados a cada ano, praticamente. No ano seguinte, conquista, postumamente, o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra.
Em breve, vou trazer meus poemas pra vocês, o que acham? :)
Love,
Nina ♥
Gostei muito de "Epigrama", o trechinho de "Em voz baixa" e "Embalo da canção". Os outros poemas também achei lindos e sua seleção deles foi ótima. Fiquei feliz com sua descoberta do mundo da poesia e com certeza quero ler as suas!
ResponderExcluirPoesia é um gênero difícil, tanto de ler quanto de escrever. Precisa ser uma síntese poderosa de mil palavras e sentimentos, e nem sempre fazer esta síntese é uma coisa simples. Li pouco de poesia na minha vida - Shakespeare, Martha Medeiros, Hilda Hilst e Castro Alves - mas nunca fui pega pelo gênero, como você foi agora. Talvez só não tenha encontrado o livro certo.
PS.: eu fiz o teste e meu livro deu "A paixão segundo GH", de Clarice Lispector. hahahahahaha PER-FEI-ÇÃO <3
Sou apaixonaaada por Cecília Meireles, então adorei o post! Já tinha lido o livro, mas é sempre legal ver outras pessoas falando do que a gente gosta. Parabéns pela resenha, ficou ótima!
ResponderExcluirSobre a playlist lá do blog, tá me dando uma dor de cabeça que vc não tem noção! O Groveshark, servidor que uso para montar as playlists do blog, caiu, e os posts ficaram daquele jeito que vc viu, com um espaço em branco enorme. Tô resolvendo isso, mas por enquanto, peço desculpa.
Vc podia colocar uma newsletter aqui no blog, pra gente saber quando tem post novo. Eu adoraria!
Beijinhos!
Julieta
www.julietices.com
Eeei, Nina! Confesso que não sou fã de poesias e são poucas as que me agradam, mas a Cecília é sempre especial, né?! *-*
ResponderExcluirAaaah, eu fiz o teste e saiu Doidas e Santas, da Martha Medeiros, minha caraaa! Hahahahahaha! <3
Beijos, Nina! ^_^
Confesso que por enquanto não leria, acho poemas legais, porém em alguns tempos da minha vida, não totalmente, poemas gostei mais, quando nova, depois fui conhecendo outros estilos e esse se aposentou!
ResponderExcluirwww.devoreumlivroeoufilme.blogspot.com.br
Oi!
ResponderExcluirQue grata surpresa vir aqui e encontrar uma resenha que difere da maioria dos blogs, geralmente são resenhas dos mesmo livros, acho um pouco cansativo.
Outro ponto mais que lindo é a escolha da autora, nossa, como amo as palavras dela. O poema não é para ser entendido, não ao pé da letra, mas sentindo. é uma dança cósmica, uma relação orgástica com as palavras. Talvez, por isso as pessoas tendem a dizer que não entendem poemas. Afinal, temos uma educação cartesiana, nos ensinam a ler numa perspectiva cartesiana.
Ainda não tenho esse livro, mas estou organizando uma estante só de AutorAS e quero tudo da Cecília. Sua resenha ficou impecável, a indicação de leitura não poderia ser melhor e maneira como você encontrou o ritmo dos poemas é tão fofa!
Não posso esquecer que fiz o test que você diz no início e deu que eu era "Morte e vida severina", de João Cabral de Melo Neto :D
http://www.poesianaalma.com.br/
Oi. Não sou muito de poesia, mas a de Cecilia Meireles tem algumas que eu gosto
ResponderExcluirOlá!!!!
ResponderExcluirNão leio muitas poesias, até gostaria de ler mais.
Existem autores fenomenais, eu gosto muito de Chão de Vento da Flora Figueiredo, e puxa a Cecilia Meireles é incrível, fiquei encantada com sua resenha. beijão*...*
http://notinhasderodape.blogspot.com.br
Olá Nina, eu confesso que não sou muito ligada a poesia, mas fiquei encantada com essas! Cecilia Meirelles é uma grande escritora e seria uma honra ler algo dela e se deliciar e se encantar por cada poema!
ResponderExcluirQuem sabe um dia?
cheireiumlivro.blogspot.com.br
Nina, já te falei que eu amo as suas resenhas? São as mais completas e bem elaboradas que eu já li pelos blogs a fora!
ResponderExcluirQuando postou sobre o outro livro de poemas que leu, comentei que não gostava muito também e eu ainda tenho um pé atrás... Mas estou gostando dos seus posts sobre eles e estão me despertando uma vontadezinha de conhecer um pouquinho mais.
Enfim, na minha turma de Literatura Brasileira II, teremos alguns seminários para apresentar, e um dos grupos irá falar sobre a Cecília e escolher um livro dela de poemas para analisar. Quem sabe não seja esse? rs
Vou ficar no aguardo e te conto depois! Estou empolgada!
Beijos,
www.miragemreal.com
Oi Nina... que resenha mais linda. Parabens.
ResponderExcluirEu não sou uma pessoa que é fã de poemas como você, mas existem alguns nomes que é simplesmente impossível de não conhecer, como a própria Cecilía Meirelles ou o meu favorito, Vinicius de Moraes.
Amei os trechos que você destacou e o cuidado que teve.
PARABENS!
beijos
Mayara
Livros & Tal
Oi Nina.
ResponderExcluirAdoreei essa resenha, adorei mesmo.
Acho que eu sou um pouco como você, gosto mais de estrofes isoladas do que poemas em si.
E acho que a autora escreve com um sentimento muito grande, e a gente sente quando lê.
Quero esse livro na minha estante! ehehe
Beijos
http://aventurandosenoslivros.blogspot.com.br/