#Colecionando infinitos
A estrada tá meio longa; não consegui prever todas as pedras no sapato e todas as outras que me fizeram cair. Ando meio assim tropeçando pelos cantos, pelos corredores, pelas bifurcações. Acho que tô meio perdida, o que nem é uma novidade pra ninguém. Não tô sabendo lidar com as ações que o exterior me causam, nem com o mar revolto que se tornou o meu infinito. Você saberia o que me dizer, eu sei que sim. Diria que aquele meu sonhado "um dia" apareceria. Só que ele poderia ser amanhã, ou no mês que vem, ou daqui a dez anos. Não se preocupe, ele vai chegar. Mas, para tanto, eu não deveria esperar esperando. Deveria esperar vivendo, porque nada é mais triste do que se desencontrar de si mesma.
Um dia, você disse que, caso eu me perdesse, me acharia. Mas não achou. E é por isso que tô procurando você sozinha, embrenhada na solidão, tateando no escuro. Não fuja, não. É que eu tô precisando das suas palavras. Você as teria encontrado antes de todos os outros e as oferecido para mim como um presente. Toma aí, é pra você colecionar. Ainda coleciono, e é por isso que me lembro de tudo. Lembro até das palavras que nunca precisaram ser ditas e que foram expressas pelo seu sorriso mínimo e pelos seus olhos quase inescrutáveis. O pior de ser apanhadora de lembranças é que, às vezes, as malditas não se vão. Gostaria que me largassem, que fugissem. Seria mais suportável; talvez, assim, eu estivesse esperando vivendo, e não colecionando memórias que apenas me fazem crer que a espera é imutável e necessária. Fico esperando, porque tô com medo de te perder pra sempre. É, você diria que tô fazendo tudo errado, bagunçaria meu cabelo e confabularia consigo mesmo: Todo mundo vai se perder, menina. Cê não entende nada da vida. É que eu não sei o que tô fazendo com ela, com a vida. Tô fingindo que tô vivendo, embrulhada num sonho impossível. É que a espera tá me matando. Tá matando meu sono, minha alegria e minha conformação.
Você tinha me dito que eu não precisava esperar que tudo estivesse muito ruim para recorrer a sua ajuda. A minha concepção de "pouquinho ruim" já valia de algo. Não vou mentir: tá tudo um caos, um troço esquisito mesmo. Há dias ruins e dias não tão ruins assim. Mas, generalizando, tá tudo ridiculamente ruim. Ruim, ruim, ruim. Daquele tipo que nem dá vontade de sair da cama, de fazer as coisas que amo e de ver as pessoas que aprendi a adorar. Tão ruim que peço a você, onde quer que esteja, que me ajude a ficar forte. Digo a você que não aguento mais, repetidas vezes, e não há resposta. Isso é o que me mata. O silêncio. A indiferença de você saber que tô morrendo e não fazer nada para tentar reverter isso. Acho que, no fim, é mesmo pra eu morrer, pouco a pouco.
Creio que fico, na verdade, colecionando mortes. Todas as suas palavras foram sopros que, algum dia, estavam vivos. Coleciono silêncios, porque eles não são nada mais do que a alma definhando, sem condições para pedir socorro. Coleciono memórias, porque elas foram pequenas alegrias que, somadas ao caos, morreram em algum lugar dentro do meu infinito.
Tudo o que sou é infinito. Você diria que essa minha esquisitice não existe. O infinito é apenas milhares de finitos entrelaçados, que constroem a nossa vida. Talvez, eu não tenha finitos em mim. Tudo o que carrego são, erroneamente, partes de tudo que gostaria de perder. E, parte a parte, formam a minha infinitude. É que a vida é um troço estranho. Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva.
Nina ♥
Hum...post legal!
ResponderExcluirBj e fk c Deus
Nana
http://www.procurandoamigosvirtuais.blogspot.com
Nina lindona amei o texto, engraçado como as vezes as pessoas fazem muita falta em nossa vida, pode ser por nos acostumarmos a sua presença, ou mesmo o medo de seguir sozinha em frente. beijos
ResponderExcluirJoyce
www.livrosencantos.com
Poético e triste.
ResponderExcluirbjos
Você tem uma pegada poética melancólica em seus textos e eu adoro isso. Colecionar mortes é muito sugestivo e profundo.
ResponderExcluirEiei,
ResponderExcluirNina, sua linda! <3 Adorei! eu sempre amo seus textos, mas ultimamente não tem como não amar! Agora eu já sei porque virei sua fã (há muito tempo, já nem é novidade mais). E essa frase "Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva."... me define. Define muito do que eu penso e percebo com as "ridicularidades" da vida. Mais uma vez, sublime!
Sinceramente, Ana
http://nabordadocaderno.blogspot.com.br/
"É que a vida é um troço estranho. Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva. "
ResponderExcluirDe queixo caído com esta frase. Sensacional. Um jeito perfeito de terminar um texto perfeito.
Oi Nina,
ResponderExcluiracho que é a segunda vez que leio um texto seu. e assim como o outro eu adorei!
parabéns você escreve muitíssimo bem;)
bjs
Foi você que escreveu? O texto ficou muito bom, adorei, parabéens!!!
ResponderExcluirFiquei super feliz com elogio que fez ao meu blog *---*
Beijos, Love is Colorful
Mas o infinito não é para sempre?! No fundo o texto traz palavras de esperança, mesmo que com melancolia, desencontrando de si mesma. (minhas tentativas de interpretação srsrs)
ResponderExcluirBravo! Bravíssimo! Lindo textos.
Beijos!
Seu texto sempre muito lindo! E muito triste, no caso desse.
ResponderExcluirAdorei a ideia de apanhadora de lembranças... mas já não gostei tanto da ideia de colecionadora de mortes... muita solidão.
Infinitos Livros
Oiee
ResponderExcluirParabéns pelo texto... Amei!!!
Mesmo tendo sentindo um toque de solidão e melancolia enquanto lia no final foi diferente... Senti um toque de esperança.
Coração Leitor
Nina que perfeito!!!
ResponderExcluirPerfeito sem dúvidas é a palavra... você conseguiu me deixar emocionada com esse texto, principalmente com o ultimo paragrafo...
PERFEITO!!!
beijos
Mayara
Livros & Tal
Oi, tudo bem. Muito bom o texto, lindo mesmo. E nossa, a última frase foi um fechamento de ouro, e só nela já dá pra filosofa muito, rs
ResponderExcluirbeijos
http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/
Oi, Nina. Texto incrível, cheio de frases marcantes e reflexivas. Impossível não se identificar um pouco com suas palavras. Beijos e parabéns!
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