#Colecionando infinitos

julho 20, 2015
A estrada tá meio longa; não consegui prever todas as pedras no sapato e todas as outras que me fizeram cair. Ando meio assim tropeçando pelos cantos, pelos corredores, pelas bifurcações. Acho que tô meio perdida, o que nem é uma novidade pra ninguém. Não tô sabendo lidar com as ações que o exterior me causam, nem com o mar revolto que se tornou o meu infinito. Você saberia o que me dizer, eu sei que sim. Diria que aquele meu sonhado "um dia" apareceria. Só que ele poderia ser amanhã, ou no mês que vem, ou daqui a dez anos. Não se preocupe, ele vai chegar. Mas, para tanto, eu não deveria esperar esperando. Deveria esperar vivendo, porque nada é mais triste do que se desencontrar de si mesma. 

Um dia, você disse que, caso eu me perdesse, me acharia. Mas não achou. E é por isso que tô procurando você sozinha, embrenhada na solidão, tateando no escuro. Não fuja, não. É que eu tô precisando das suas palavras. Você as teria encontrado antes de todos os outros e as oferecido para mim como um presente. Toma aí, é pra você colecionar. Ainda coleciono, e é por isso que me lembro de tudo. Lembro até das palavras que nunca precisaram ser ditas e que foram expressas pelo seu sorriso mínimo e pelos seus olhos quase inescrutáveis. O pior de ser apanhadora de lembranças é que, às vezes, as malditas não se vão. Gostaria que me largassem, que fugissem. Seria mais suportável; talvez, assim, eu estivesse esperando vivendo, e não colecionando memórias que apenas me fazem crer que a espera é imutável e necessária. Fico esperando, porque tô com medo de te perder pra sempre. É, você diria que tô fazendo tudo errado, bagunçaria meu cabelo e confabularia consigo mesmo: Todo mundo vai se perder, menina. Cê não entende nada da vida. É que eu não sei o que tô fazendo com ela, com a vida. Tô fingindo que tô vivendo, embrulhada num sonho impossível. É que a espera tá me matando. Tá matando meu sono, minha alegria e minha conformação. 

Você tinha me dito que eu não precisava esperar que tudo estivesse muito ruim para recorrer a sua ajuda. A minha concepção de "pouquinho ruim" já valia de algo. Não vou mentir: tá tudo um caos, um troço esquisito mesmo. Há dias ruins e dias não tão ruins assim. Mas, generalizando, tá tudo ridiculamente ruim. Ruim, ruim, ruim. Daquele tipo que nem dá vontade de sair da cama, de fazer as coisas que amo e de ver as pessoas que aprendi a adorar. Tão ruim que peço a você, onde quer que esteja, que me ajude a ficar forte. Digo a você que não aguento mais, repetidas vezes, e não há resposta. Isso é o que me mata. O silêncio. A indiferença de você saber que tô morrendo e não fazer nada para tentar reverter isso. Acho que, no fim, é mesmo pra eu morrer, pouco a pouco.

Creio que fico, na verdade, colecionando mortes. Todas as suas palavras foram sopros que, algum dia, estavam vivos. Coleciono silêncios, porque eles não são nada mais do que a alma definhando, sem condições para pedir socorro. Coleciono memórias, porque elas foram pequenas alegrias que, somadas ao caos, morreram em algum lugar dentro do meu infinito. 

Tudo o que sou é infinito. Você diria que essa minha esquisitice não existe. O infinito é apenas milhares de finitos entrelaçados, que constroem a nossa vida. Talvez, eu não tenha finitos em mim. Tudo o que carrego são, erroneamente, partes de tudo que gostaria de perder. E, parte a parte, formam a minha infinitude. É que a vida é um troço estranho. Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva. 


Nina 

14 comentários:

  1. Hum...post legal!
    Bj e fk c Deus
    Nana
    http://www.procurandoamigosvirtuais.blogspot.com

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  2. Nina lindona amei o texto, engraçado como as vezes as pessoas fazem muita falta em nossa vida, pode ser por nos acostumarmos a sua presença, ou mesmo o medo de seguir sozinha em frente. beijos

    Joyce​
    www.livrosencantos.com

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  3. Você tem uma pegada poética melancólica em seus textos e eu adoro isso. Colecionar mortes é muito sugestivo e profundo.

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  4. Eiei,
    Nina, sua linda! <3 Adorei! eu sempre amo seus textos, mas ultimamente não tem como não amar! Agora eu já sei porque virei sua fã (há muito tempo, já nem é novidade mais). E essa frase "Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva."... me define. Define muito do que eu penso e percebo com as "ridicularidades" da vida. Mais uma vez, sublime!

    Sinceramente, Ana
    http://nabordadocaderno.blogspot.com.br/

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  5. "É que a vida é um troço estranho. Você nasce pra morrer e morre pra saber que tava viva. "
    De queixo caído com esta frase. Sensacional. Um jeito perfeito de terminar um texto perfeito.

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  6. Oi Nina,
    acho que é a segunda vez que leio um texto seu. e assim como o outro eu adorei!
    parabéns você escreve muitíssimo bem;)
    bjs

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  7. Foi você que escreveu? O texto ficou muito bom, adorei, parabéens!!!
    Fiquei super feliz com elogio que fez ao meu blog *---*

    Beijos, Love is Colorful

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  8. Mas o infinito não é para sempre?! No fundo o texto traz palavras de esperança, mesmo que com melancolia, desencontrando de si mesma. (minhas tentativas de interpretação srsrs)

    Bravo! Bravíssimo! Lindo textos.


    Beijos!

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  9. Seu texto sempre muito lindo! E muito triste, no caso desse.
    Adorei a ideia de apanhadora de lembranças... mas já não gostei tanto da ideia de colecionadora de mortes... muita solidão.

    Infinitos Livros

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  10. Oiee
    Parabéns pelo texto... Amei!!!
    Mesmo tendo sentindo um toque de solidão e melancolia enquanto lia no final foi diferente... Senti um toque de esperança.

    Coração Leitor

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  11. Nina que perfeito!!!
    Perfeito sem dúvidas é a palavra... você conseguiu me deixar emocionada com esse texto, principalmente com o ultimo paragrafo...
    PERFEITO!!!

    beijos
    Mayara
    Livros & Tal

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  12. Oi, tudo bem. Muito bom o texto, lindo mesmo. E nossa, a última frase foi um fechamento de ouro, e só nela já dá pra filosofa muito, rs
    beijos
    http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/

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  13. Oi, Nina. Texto incrível, cheio de frases marcantes e reflexivas. Impossível não se identificar um pouco com suas palavras. Beijos e parabéns!

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