#Resenha de livro: O céu é logo ali

O céu é logo ali, da Lilian Farias, é um dos livros recebidos devido às novas parcerias fechadas nas férias. O livro é bastante curto, de modo que o li muito rapidamente, no entanto, demorei bastante para começar a resenha, porque ainda estava/estou tentando colocar em ordem os meus sentimentos em relação a essa história. 

Título: O céu é logo ali
Autora: Lilian Farias
Editora: Literata 
Páginas: 115
Ano: 2014

Se tem algo que procuro na literatura é a intensidade. Nada me frustra mais do que ler algo que não me faça refletir e até mesmo me incomodar. Quando encontro em um livro algo que me incomoda é uma prova de que, opa, tem algo aí. Gosto de me sentir inquieta com personagens e temáticas. O céu é logo ali me provocou exatamente isso: incômodo. 

A atmosfera da trama condiz muito com o pouco que já li de escritoras como Lygia Fagundes Telles e Clarice Lispector. O fluxo de consciência e a introspecção são pincelados nas vidas das duas protagonistas femininas de maneira fluída e bastante assertiva. A narrativa em terceira pessoa acompanha sem muita cronologia as vidas de Clarice e Dolores. O fato de não haver temporalidade não me incomodou, pois me permitiu me adentrar mais na cronologia psicológica de ambas e refletir acerca das questões humanas apresentadas. Dolores é uma mulher que poucas vezes sentiu-se notada ou desejada, de forma que espera que a libertação lhe aconteça. Ainda assim, não é do tipo sonhadora, mas se alegra com as pequenas coisas. Clarice é quase que o contraponto de Dolores. É livre, vive intensamente e recebe tudo o que quer: dinheiro, amor, atenção. 

É notória a poeticidade na escrita da autora, uma das coisas que me fez adorar a leitura. A escrita de Lilian é madura e muito contrabalanceada: mistura sinestesia com o concretismo e sabe lidar com maestria com as antíteses provenientes das metáforas utilizadas em meio às ideias propostas pelo livro. O motor de O céu é logo ali é, justamente, a metáfora da vida e da morte. Lilian conseguiu administrar esse jogo de palavras enquanto introduzia o meio-termo entre esses extremos: o desejo de transformação. 
Dolores vê a vida devagar e sem saber aonde chegar. As rédeas estavam soltas e desenfreadas. O equilibro buscava um lugar no céu.
p. 23 
Confesso que ainda é muito difícil escrever sobre esse livro, pois ainda estou "digerindo" tudo o que ele me provocou. Creio que o maior objetivo da trama não tenha sido apresentar personagens reais, que podem ser identificadas por tantas mulheres, mas o de conseguir se entranhar no leitor de modo ele consiga mensurar sua própria vida. 

As duas protagonistas, que nos mostram suas vidas e seus anseios de forma intercalada na trama, me deixaram a lição de que a sobrevivência vem de variadas maneiras. E, independentemente de qual maneira que a escolhemos, devemos entender que, para tanto, precisamos batalhar pela transformação. Essa é a palavra-chave do livro inteiro. Foi, inclusive, o que mais me tocou durante a leitura. Fez-me entender por que eu mesma reluto pela transformação e tento me esconder nas minhas camadas de medo e de insegurança. A partir, principalmente, de Dolores pude entender que dentro de cada mulher há aspectos de vida, metamorfose e morte. Depende de cada uma, entretanto, saber como cada um desses "eixos" se apresentam e como influenciam em quem somos. 

A auto-descoberta é, também, um ponto muito importante tanto para Dolores quanto para Clarice e, a partir delas, pude encontrar o meu próprio equilíbrio. Às vezes, achamos que se descobrir é algo que acontece no decorrer da vida e, por isso, acabamos ignorando os momentos que pedem a nossa reflexão mais demorada e sincera. As personagens nos mostram que as descobertas acontecem quando menos esperamos e que cada uma delas podem interferir no hoje e no amanhã. A busca pela transformação é libertadora e nos humaniza, fazendo-nos entender o mundo. Essa nova visão diante da perspectiva do futuro é um dos trâmites avaliativos que o livro permite ao leitor. 
Aceitar o próprio perdão é dar um passo largo rumo ao horizonte.
p. 37
O único ponto negativo foi a revisão, que foi feita de maneira muito leviana. Os tempos verbais apareciam de forma confusa, ora no presente e ora no passado, por exemplo. E os pontos de exclamação, a meu ver, foram usados muito aleatoriamente e de forma desnecessária.

As letras são grandes, por isso, a leitura é muito confortável. A capa é uma graça, muito atraente, embora eu ache que, se houvesse borboletas, casaria melhor com a proposta do livro. Cada começo de capítulo há um título e cada um deles é muito poético. Apesar de curto, O céu é logo ali nos proporciona uma incursão dentro de nós mesmos e nos arranca várias verdades. Altamente recomendado :) 


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*BÔNUS: entrevista com a autora. 


1) Há uma grande carga de metáfora na sua escrita. O quanto disso influencia a sua vida e o quanto disso vem, particularmente, de quem você é?
Considerando que vejo poesia na vida, explica bastante sobre o contexto do livro O céu é logo ali. No geral, não seria uma característica minha, mas de todas as mulheres que cederam suas histórias, anseios e experiências para serem colocadas no livro. Enfim, meus livros nascem de relatos e experiências vivenciadas por mulheres.

2) O protagonismo feminino é evidente em seu trabalho. Por que decidiu por esse viés?
Eu ser mulher é um fator decisivo. Mas, eu ser mulher, nordestina, bissexual, empoderada e ativista social, descreve melhor.

3) O que seria uma "borboleta sem asas" na sua opinião e por que você acredita que a metamorfose precisa ser aplicada no cotidiano?
Eu acredito que a metamorfose precisa ser aplicada no cotidiano?
Não conheço um conceito restrito para uma ‘borboleta sem asas’, tudo depende do contexto... mas, considerando que metamorfose pode ser poesia, poesia pode ser vida, não há vida sem vivência... 

*Lembrando que o BÔNUS acontece após resenhas de livros de autores parceiros. 

Mais resenhas de autores parceiros, em breve! :)

10 comentários:

  1. Somos duas então Nina, livros que incomodam no profundo e me fazem refletir é o que eu procuro também. Fiquei curiosíssima pra ler esta obra logo!

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  2. Ola Nina lindona estou com esse livro em casa, ganhei em um sorteio preciso ler logo, gostei de toda intensidade no livro, assim como você gosto de livros que mexam com nossas emoções. Uma pena a revisão deixar a desejar. beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  3. Oie nina! concordo plenamente com você, é muito frustrante mesmo. heheheh
    Amei a resenha do livro e a premissa me agradou muito. espero ter a oportunidade de ler o livro em breve.

    Beijos,

    Dai | www.cheirodelivronacional.com.br

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  4. Oi, achei o livro intenso e bem interessante a sua resenha, e fiquei curiosa para lê-lo.
    Dica anotada.
    bjus
    http://recantoliterarioeversos.blogspot.com.br/

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  5. Uma pena que um livro bom como este parece ter sido não recebeu a devida atenção da editora na sua revisão.
    Bjs, Rose.

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  6. Olaaa
    sempre quis conhecer os livros da autora e sua escrita, a capa desse está linda, quero muito ler em breve e adorei a entrevista, ótimo post e resenha.

    Beijos
    Reality of Books

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  7. Há li outras resenhas desse livro da Lilian, mas a sua, Nina, foi a que me deu uma dimensão maior de tudo o que o livro aborda. Falar sobre o protagonismo feminino com uma linguagem poeticamente não é tarefa fácil. E pelos aspectos pontuados na resenha, acho que Lilian consegue mesmo incomodado o leitor. E como você falou, a literatura tem que puxar o tapete do leitor sempre.
    Espero pela oportunidade de ler essa obra também

    Beijos!

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  8. Oie Nina!!!
    desafio uma pessoa a ler sua resenha e não ficar morrendo de vontade de ler o livro, já estava curiosa sobre ele antes, agora então....
    espero ter a oportunidade de lê-lo em breve ;)
    bjs

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  9. Oie, tudo bom?
    Gostei muito do título da obra, mas não me interessei muito pelo livro. A história parece ter uma pegada poética interessante.
    Beijos,
    http://livrosyviagens.blogspot.com.br/

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  10. Oii Nina, você tem um jeito todo especial de fazer a sua resenha que faz com que nos encantemos com a obra em si antes de lê-la.
    Não conhecia esse livro da Lilian, mas gostei muito do enredo. Vou procurá-lo.

    beijos
    Mayara
    Livros & Tal

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