#Resenha de livro: Fake

Desde o começo do ano, eu estava morrendo de vontade de comprar Fake, do autor Felipe Barenco, mas, como esse ano eu tive que maneirar na compra de livros, só pude comprá-lo no mês passado. Depois de ter lido a resenha dele, feita pela Lorena no Marcado com Letras, tive a plena certeza de que tinha que dar um jeito de comprá-lo e, para a minha alegria, alguns dias depois, vi que o livro estava em promoção no site dele. 

Título: Fake
Autor: Felipe Barenco 
Editora: UMÔ - Usina de Criação
Ano: 2014
Páginas: 259
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Comecei Fake sem saber para onde ele poderia me levar por três motivos: 1) o significado no camaleão na arte da capa, 2) o significado do título do livro e 3) o significado do trecho na contra-capa. No início, estranhei bastante a narrativa e o personagem principal, Téo. Especialmente ele não conseguiu me conquistar logo de cara, apesar de, aos poucos, eu me divertir com a narrativa bastante engraçada. 

Téo acabou de entrar na faculdade de Direito, que orgulha especialmente o pai, tem um melhor amigo gay e está tentando revelar sua sexualidade para a família. O modo como o autor abordou o drama vivenciado pelo personagem me deixou bastante feliz, pois ficou muito natural e convincente. Não é nada daqueles chororôs bobos em que há muito sofrimento. Téo, ao contrário de muitos personagens literários gays por aí, aceita e assume sua sexualidade para si mesmo. Não fica lutando contra isso. A partir disso, então, é fácil entender que Téo quer se libertar das amarras familiares. Quando, enfim, conta aos pais a relação entre eles fica estremecida: seu pai passa a tratá-lo com indiferença e sua mãe, uma espécie de capacho do marido, não se pronuncia quanto ao assunto. 
Mas e se eles soubessem? A dúvida perturbadora que me assombrou durante anos caiu como uma tonelada de aço sobre o meu bolo enquanto eu assoprava as velinhas e fazia um pedido. E se eles soubessem... Eles me amam de verdade? Meus pais me amam independente de qualquer preconceito? Será que eles organizariam uma festa de aniversário para o filho viadinho diante de todos os familiares?”.
p. 46 
Nesse meio tempo, ele conhece Davi. A paixão se faz imediata, claro. Na maioria das vezes, eu critico esse tipo de coisa dentro da literatura, pois acredito que existe, à primeira vista, uma atração e/ou curiosidade, mas que somente depois evolui para paixão ou amor. Deixando isso de lado, é bom dizer que Téo se torna um pouco obcecado por Davi. Fica naquela coisa de esperar SMS, uma ligação, qualquer coisa. Como quase nada acontece, Téo segue em frente e, um ano depois, o reencontra. Eu sei, parece milagre, levando em conta que Davi estava no Rio para tentar ser ator e vamos combinar que a cidade é bastante grande, né? A partir do reencontro, eles se tornam bastante próximos e acontecem algumas investidas da parte de ambos. 

Tudo está muito bonito, até que Téo briga com o pai e é expulso de casa, pelo fato de ser gay. Não posso entrar na particularidade desse fato (certo vs. errado), já que sei o quanto é comum que este tipo de ruptura ocorra nas famílias cujos filhos são homossexuais, mas posso dizer que este novo plot conferiu bastante verossimilhança e incentivo na leitura. Ele vai morar com o melhor amigo e tenta seguir a vida. Até que descobre que Davi tem HIV e isso joga todas as suas expectativas morro abaixo, mas decide que vai apoiá-lo. 
“Impressionante como a nossa vida, de uma hora para outra, pode se transformar numa grande merda generalizada. E sem que você tenha noção por onde deve começar a arrumar a bagunça”.
p. 110 
A inserção deste assunto (o HIV) foi muito bem trabalhado e exposto no decorrer do livro. Convincente mesmo. Foi muito bom entender como isso afetou o relacionamento dos personagens (tendo em vista que Davi não queria fazer sexo para não contaminar o Téo) e o quanto falar sobre isso ainda é um tabu. Diversas vezes, o melhor amigo dele o desencorajava a estar com Davi por causa da doença, já que achava que isso o privava de estar em um relacionamento "normal". O próprio Davi, que trabalhava numa loja de roupas, não se arriscava em conseguir um papel em comerciais justamente devido a isso, achava que, se descobrissem que ele tinha HIV, perderia o emprego. 

Téo e Davi são dois garotos, a seu modo, diferentes. Téo é tipicamente um rapaz que condiz com sua idade, mas Davi aparentava ser frágil, pouco decidido e, com certeza, se mostrou muito querido desde o princípio. O namoro deles é muito verdadeiro, há brigas, amor, estagnação assim como qualquer outro namoro. O modo como o relacionamento deles foi narrado é surpreendente. Como eu mencionei antes, eu comecei o livro sem saber para onde ele me levaria e isso foi sensacional. A maneira como tudo foi construído, todas as certezas e convicções, para depois ser destruído com várias pistas e segredos revelados foi a melhor coisa do livro. 

Meu amor por este livro é imenso. Claro, há alguns pontos que deixaram a desejar, como as passagens machistas, misóginas e bifóbicas (que, ok, podem passar despercebidas por muitos, mas como eu luto a favor do feminismo e dos direitos LGBT, sei identificar tais elementos em qualquer lugar). Ainda assim, recomendo a leitura para qualquer pessoa, seja você fã, ou não, da literatura queer). 
“Assim como eu acredito que ninguém escolhe ser gay, ninguém escolhe por quem se apaixonar. Quando você percebe, já era”.
p. 221

Love, Nina :)

6 comentários:

  1. Oiii

    Já vi resenhas muito boas sobre esse livro, e confesso que estou com uma imensa curiosidade para ler a história.

    Beijos

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  2. Oláá
    Nossa, que bom que curtiu tanto a leitura, eu li faz um tempo e gostei bastante também, é uma ótima história e super gostoso e acompanhar, bela resenha e dica.

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  3. OI Nina, não conhecia o livro e gostei demais do que você contou. Realmente, pegar um personagem bem resolvido consigo mesmo como o Téo é ótimo. Não gosto muito quando fica aquele sofrimento interminável, deste jeito além de mais perto da realidade, a leitura é mais prazerosa.
    Bjs, Rose.

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  4. A questão da bifobia me incomodou, mas preciso entender como isso é tratado no livro. Intencionalidade discursiva, discurso ideológico e tal. Sobre o HIV, me chamou atenção, pois tenho acompanhado um caso similar. Quanto as paixões furtivas, adoro. Sinceramente, acho um saco esse romantismo romântico/cristão determinista.

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  5. Oie! Eu não tinha lido nenhuma resenha do livro, mas acompanho o autor no Facebook, acho interessante a premissa, mas como tu disse, a renda está curta esse ano, então acho que se for comprar vai ser em uma promoção ou no final do ano.
    http://k-secretmagic.blogspot.com.br/
    Xoxo

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  6. Acho que as mesmas coisas que te incomodaram foram as que me incomodaram também! Mas, depois de ler lido e repensado, é bom a gente saber que, como a trama é narrada em primeira pessoa, aquela era a visão do Téo... e, infelizmente, de muita gente. Isso dá mais fidelidade ao livro, sim, apesar de ainda reforçar "certas prerrogativas", né.
    Enfim, fico feliz que tenha gostado! E que tenha gostado pela minha indicação HAHAHA ❤
    Tô esperando a minha resenha ❤❤

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Olá, obrigada pelo comentário, mas, para evitar passar vergonha na internet, por favor, não seja machista, LGBTQAfóbico(a), ou racista. O mundo agradece :)

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