#Uma coisa é sempre outra
Sentei aqui esperando as palavras se esvaírem de meus dedos, mas cartas nunca foram tão fáceis de serem escritas. Eu sei, parece que são apenas letras, declarações de afeto e repetições sobre saudade, mas ultimamente nem as minhas mais sinceras emoções fazem sentido. Tá meio nublado aqui dentro, um vazio automático e sem fim. Aconteceu o seguinte: eu era a última gota que faltava no oceano e, assim, ele inundou cidades e devastou tudo o que encontrou. Eu era gota pensando ser alívio. O alívio era amor pensando ser caos. O caos era pânico pensando ser festa.
O que era eu, senão apenas um fantasma?
O que era da vida, senão apenas uma mera confusão tardia?
O que era da confusão, senão apenas toda a minha existência?
Achei que sacrifício poético - morte através de cada ponto final - movesse o universo, mas esse universo morreu tentando ser tudo quando era apenas nada, ou muito pouco. Se esse fosse o último suspiro e as paredes azuis do quarto desenhassem a minha alma, a onda sem fim que levou a minha gota quebraria nos pés do fracasso. Pensei ser amor quando era apenas um sorriso qualquer que, de últimos dias, sabe demais. Meu último dia para sempre, sem igual, sem vontade nenhuma.
Seu universo me acertou lá das estrelas - ponto final, de qualquer maneira -, e não sei por onde ele anda. Acabou cedo, nem amanheceu direito, volta aqui. Não lembro por onde andei, mas venho dizer que tô procurando as pegadas deixadas pelo seu rastro de saudade, a minha saudade de você. O meu mundo era cego sem o seu azul, o azul do tudo misturado ao nada - porque tudo é nada, e você soube disso desde o começo. Você me disse que "nada" não significa "vazio" e que, se eu tinha nada, era porque tinha muito. Eu falei que tinha você, mas seus olhos foram parar longe de mim. É que nem lembro mais onde te guardei aqui dentro. Eu te guardei pra quê, se não tem nada pra lembrar? Aquele vazio... O meu nada, o seu nada. O nada da vida em anulação, convergência e destruição.
Você estava certo. Uma coisa é sempre outra. Amor não é amor - é encontro enganado, olhos nos olhos, faísca passageira. Saudade não é saudade - é dia de inverno, peito doído, mar beijando os dedinhos dos pés. Indiferença não é indiferença - é deslembrança, não olhar depois que a cortina se fecha, a vida toda pela frente. Universo não é universo - é um só verso, enlaces frágeis, acaso que quis ser destino.
Nem você é a mesma coisa. Foi embora, ficou parado na chuva, voltou para a vida. Continua universo, porque saudade sempre vem. Pega a gente pela mão e faz lembrar dos melhores momentos para nos fazer entender que voltar não dá, porque o retorno ficou a quilômetros.
O meu retorno foi te achar no meio da multidão e saber que sacrifício poético é largar os dedos do amor para deixá-lo navegar em direção ao além-mar. Um dia voltarei a ser gota e, quem sabe, a gente se encontre naquela onda que te levou.
Love, Nina :)
Nossa, estou sem palavras! Você voltou com tudo nesse seu texto novo e a poesia saiu de uma vez só, hein, lindíssimas palavras e construções de frases. Diria mais, está impecável. Minha parte favorita foi logo ali no comecinho, já me tirando o fôlego de cara "Eu era gota pensando ser alívio. O alívio era amor pensando ser caos. O caos era pânico pensando ser festa."
ResponderExcluirCada vez que vc escreve um texto novo, meu peito se enche de orgulho de ser sua amiga.
Beijão, Ruh
perplexidadesilencio.blogspot.com
<3
ExcluirEstou apaixonado por suas palavras, nossa, snif snif <3
ResponderExcluirOpa, que bom, Igor! Fico feliz! :D
ExcluirVolte sempre.
Noooooooooooooooooooooossa, que fofa! Amei o jeito que você usa as palavras, parece brincar com elas! Continue escrevendo, você vai longe ;)
ResponderExcluiririanneveloso.blogspot.com
Querida, suas palavras são sensíveis, parabéns pelo belo texto. 'O meu retorno foi te achar no meio da multidão e saber que sacrifício poético é largar os dedos do amor para deixá-lo navegar em direção ao além-mar.' fiquei sem palavras...
ResponderExcluirVocê é tão intensa! Cheia de caos e calma. Há uma dualidade tão grande que chaga ser palpável. Mas acho que a vida é assim: nunca uma única coisa. "Uma coisa é sempre outra."
ResponderExcluirBeijos!
Ai, ai, ai... você e sua escrita maravilhosa. Que talento maravilhoso, que dom. Você tem o poder de transformar as palavras em lindas frases, e textos sensíveis e tocante. Não me canso de dizer como você é incrível. Parabéns... <3
ResponderExcluirOla
ResponderExcluirParabéns pelo talento da escrita, o texto ficou lindo e bem escrito haha quero escrever como você haha
Beijos
Reality of Books
Gente, que texto lindo... Sabe quando você está lendo uma coisa e a cada linha vai ficando mais e mais assustado por se identificar tanto com as palavras? Aconteceu comigo ao ler tudo o que você escreveu. É como se estivesse descrevendo minha vida e tudo o que já aconteceu.. Adorei seu texto! ♥
ResponderExcluirBeijos,
Fernanda F. Goulart,
Império Imaginário.