#SetembroAmarelo: o esconderijo amarelo
Em junho eu fiz um combo especial sobre o mês dos namorados e por gostar tanto da experiência de "sair da caixinha" e fazer algo temático com que me identificasse e gostasse de escrever, resolvi repetir a ideia em setembro, com outro tema.
No mesmo mês, ano passado, eu li um texto sensacional que, além de me sensibilizar, me fez conhecer e entender melhor sobre uma situação que muita gente ignora: o suicídio.
Entendo que essa ignorância, muitas vezes, vem do fato de estarmos constantemente tentando fingir que a morte não existe, ou que está muito longe - mas, para muita gente, ela está mais perto do que se imagina. Acontece que, quem pouco entende, ou não entende da complexidade do assunto tende a achar que o aviso de suicídio vai aparecer num outdoor. Mas não é assim.
A mídia não fala sobre o tema a não ser em datas específicas (vide todos os setembros desde 2014, quando se iniciou a campanha #SetembroAmarelo), nossos amigos desdenham da fragilidade de alguém que busca a última opção para cessar um sofrimento, nossos pais acreditam que morrerão primeiro (porque, esse é o ciclo da vida, afinal) e a sociedade silencia, de forma geral, quem se encontra nessa situação.
Não fale sobre morte.
Morte não é legal.
Ih, gente, vamos trocar de assunto?
Esse assunto é pesado.
Os gatilhos que levam alguém a esse estágio são infinitos. A depressão, muitas vezes, é uma das causas que pode responder o que leva alguém a tentar e/ou conseguir o suicídio. E falar de depressão aqui também é algo infinito. Os gatilhos também o são.
Não posso falar por todos, mas posso falar por mim. Em 2011, passei durante meses deprimida. Descobri isso anos depois, quando comecei a ler textos sobre as diferenças entre estar deprimida e estar em depressão. Naquele ano, perdi muitas aulas do cursinho, porque sentia muita enxaqueca, o tempo inteiro. Passava mais tempo na cama do que em qualquer outro lugar. Se saía de casa para o cursinho, não assistia à maioria das aulas, porque estava lendo, e voltava o quanto antes. Meu roteiro de vida estava divido em dormir, ler e estudar em casa. De 2012 a 2014, minha rotina se normalizou. O ciclo recomeçou ano passado, depois de períodos de infelicidade com a faculdade. Dessa vez, não se tratou de "estar deprimida". Dessa vez, eu sabia que estava em depressão, embora para todo mundo eu estivesse bem. Constantemente, eu dizia que estava cansada, infeliz e que desejava desistir da faculdade. Só não desisti, porque adoro o lugar onde estagio. Existe algo muito claro entre estar deprimida e estar em depressão: é a morte. Você pensa na morte o tempo todo, quando está nesse nível de vazio. Ainda que as pessoas achem que, quem está em depressão não consegue nem levantar da cama, eu continuei com todas as minhas responsabilidades. Levantei da cama todos os dias, fui à faculdade todos os dias e saí com amigos. Mas havia um vazio intenso em mim, que me fazia chorar quase todas as noites, voltando para casa ou nas infinitas madrugadas de insônia. Havia tanta angústia em mim que comecei a desejar morrer. Implorei de seis a oito vezes, num período de quase um ano. A morte ficou somente nos meus pensamentos, porque eu sabia que não desejava a morte por causa dela, mas por causa da dor. Eu só queria que a dor desaparecesse.
Contei isso, porque a depressão e o suicídio não é igual para todo mundo. Cada um reage e lida de uma forma, exatamente como a ansiedade, por exemplo. Depende da bagagem de cada um.
A prevenção não é apenas estar bem informado sobre o assunto. O que realmente ajuda é o apoio ao seu redor. E quando digo apoio, não é aquela pessoa que te chama de covarde, ou que diz que isso é besteira. Pode ser um bom amigo ouvinte, seu pai, sua mãe, seu irmão, um terapeuta ou psiquiatra. Ou pode ser qualquer coisa que te faça sentir seguro e calmo. A gama de apoio também é infinita.
A questão é que a gente precisa falar o tempo inteiro, como se fala de outras doenças (oi, câncer). Existe essa fronteira invisível que diz, polidamente, que não devemos, porque iremos chatear os outros, ou fazer com que nos olhem torto, ou tenham pena da gente. Não. A fronteira não pode existir. Se ninguém fala, como é que alguém vai saber? Como vai poder ajudar? Como vai poder explicar aos que ficarão?
Por lugares incríveis, Jennifer Niven, p. 295
Por lugares incríveis, Jennifer Niven. Nota da autora.
Por lugares incríveis, Jennifer Niven. Nota da autora.
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Espero ajudar. Porque sempre existe uma saída. Não desista agora.
Se eu tivesse desistido, eu teria perdido ótimos momentos.
Precisa de ajuda?
Centro de Valorização da Vida: www.cvv.org.br | Telefone: 141
O CVV - Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email, chat e Skype 24 horas todos os dias.
Em breve, mais um post do combo. Fique de olho.
Love, Nina :)
Nina, tô aqui aplaudindo o seu texto e querendo mostrar pro mundo, você deixa?
ResponderExcluirQueria dizer que é preciso muita coragem para compartilhar uma história pessoal assim, e fico feliz que você tenha o feito.
Eu sei bem da importância de se falar sobre a morte, sobre o suicídio, sobre a depressão e sobre a saúde mental em geral. Afinal eu sou estudante de Psicologia! E por esse mesmo motivo também conheço de perto a relutância das pessoas em procurar por uma ajuda, por uma terapia. Psicólogo e Psiquiatra ainda é visto como "coisa de louco", depressão é besteira e a saúde mental é sempre deixada para escanteio enquanto a saúde do físico é mais importante. Ninguém parece se tocar de que as duas estão intimamente ligadas.
Adorei o texto, adorei a ideia de um "combo" Setembro Amarelo. O mundo precisa de gente assim como você. Sou fã.
Beijão
www.blogrefugio.com
U A U.
ResponderExcluirNão sei nem por onde começar a comentar este post.
Como psicóloga e como pessoa que já teve depressão, tudo o que posso fazer é apalaudir e apoiar sua iniciativa. Exige coragem e um coração enorme.
Você é incrível, flor.
Um beijo,
Ruh Dias
perplexidadesilencio.blogspot.com
Oi linda,
ResponderExcluirAcho que caiu um cisco no meu olho! Mentira, estou quase chorando escrevendo isso aqui.
Sabe o que é mais diferente para mim? Sempre valorizei mais minha saúde mental do que a física e quando percebi que estava depressiva corri para pedir ajuda. Foram 2 anos lutando pela vontade de morrer e pedir secretamente para as pessoas não pensassem que eu era louca ou psicótica.
Agradeço aos céus por sempre gostar de estudar e buscar mais conhecimentos, porque com todo a bagagem que eu tinha pode engolir o orgulho e clamar por ajuda e apoio. E vieram médicos, psicólogos e psiquiatras para me orientar nessa fase e mais o apoio de amigos, familiares e meu namorado na época.
Uma coisa que eu sempre gostei e vou gostar é falar da morte porque é ela que dar valor a vida...é ela que lembra que a vida é curta e requer cuidados e que sempre teremos que precisar de outras pessoas e pode contar comigo para ajudá-la.
Qualquer mãozinha que precisa é só me mandar um email.
Beijocas!
jhoaniceoliveira@gmail.com
Já li inúmeras histórias que falam sobre suicídio, inclusive por lugares incríveis e fico feliz por encararem esse assunto no mês do setembro amarelo. Não podemos deixar de falar desse assunto tão delicado.
ResponderExcluirSe você quiser se aprofundar mais no assunto leia "eu estive aqui". Tem resenha lá no meu blog
beijos
Ninaaaaaaaa, me dá um mega abraço por favor!!!!!
ResponderExcluirSeu texto ficou um arraso e estou adorando acompanhar essas suas ideias, o mês dos namorados ficou um amor e e esse mês agora sem palavras, realmente é um momento bastante importante para a maioria das pessoas e espero que este projeto ajude de alguma maneira, adorei a indicação da obra, ainda não tive oportunidade de ler, mas o quero.
Beijinhos
Oi Nina!
ResponderExcluirMuito legal seu texto, seu depoimento me fez perceber que passei tempo demais deprimida, mais do que eu gostaria de admitir. Hoje eu tô legal e seguindo com a vida, mas não vou negar que esse período me deixou sequelas, não tinha ninguém pra conversar e passava muito tempo me auto questionando a respeito daquilo: "Será que não é bobagem da minha cabeça?" ,"A minha vida não é tão ruim assim, tem muitos que estão em situações bem piores que a minha e estão de cabeça erguida". Hoje eu percebo que não posso me comparar a outras pessoas e que cada um vive sua batalha diária. Passei a respeitar muito mais as pessoas e suas individualidade depois disso.
Abraços
Olá, Nina!
ResponderExcluirUAU!
Não sei nem o que dizer... Realmente existe uma enorme diferença entre estar deprimida e estar em depressão, estou passando exatamente por esses dois momentos, tem momentos que estou deprimida e outros que já estou em depressão. Tenho lutado demais contra isso, porém é muito difícil, e hoje estou sendo mais direta com todos, pois eu sei que eu preciso de ajuda antes que algo mais sério aconteça, e o problema é que para muitas pessoas isso é frescura, é bobagem. Porém, nós sabemos que não é, e que precisamos estar abertas para ouvir!
Adorei o post, parabéns!
Um beijo
Iniciativa incrível em criar um post e falar sobre o tema, ainda mais relatando uma situação pessoal. Muitas vezes o que vai fazer diferença é o apoio de quem está perto, é alguém prestar atenção ao que está acontecendo com um filho, amigo ou parente antes que o pior aconteça. Parabéns por sua força !!! bjo
ResponderExcluirhttp://blogaventuraliteraria.blogspot.com.br/
Olá, tudo bem.
ResponderExcluirEste texto é perfeito. pois aborda vários aspectos importantes, desde que, as pessoas tem que entender que a depressão é uma doença grave. E foi muito comovente e corajoso seu relato também. Quanto as frases do livro Por Lugares Incríveis são maravilhosas. Eu já li este livro e amei. Ele foi avassalador, mas necessário.
Abraços...
Oi!!
ResponderExcluirEu confesso que conversar sobre a morte é algo muito pesado mesmo, mas temos que encarar esse tema, principalmente nos dias de hoje em que o stress é cada vez maior, o número de pessoas que sofrem com a depressão é muito grande e muitas vezes estão bem perto de nós e não nos damos conta que muitas vezes a pessoa está ali ao seu lado sofrendo, querendo fugir e muitas vezes pensando em como dar um fim a esse sofrimento.
Parabéns, por ter vindo aqui e contado um pouco de sua história, isso é muito importante e eu entendo muito bem pelo que você passou, eu tive Síndrome do Pânico, fiquei dois anos praticamente sem sair de casa, ficava muito ruim quando tentava sair, fiquei meses sem conseguir ir até o portão do condomínio onde morava e tudo começou quando saí da minha cidade e fui morar sozinha em um lugar que não conhecia ninguém, sentia medo o tempo todo, hoje agradeço por essa fase ter passado.
Beijão!
Sabe quando a gente comece a ler um post já pensando "que legal encontrar esta campanha por aqui"? Então... Foi assim pra mim quando comecei a ler o se. Mas ao longo da leitura vi que tinha algo muito especial nele, não só por ter dividido conosco a sua experiência mas por ver nisso uma chance de apoiar quem lê. Seu desfecho não me deixa exagerar e eu espero que cada leitor possa sentir com todo o coração as suas palavras e o quanto é importante olhar o outro com cuidado.
ResponderExcluirParabéns e obrigada por espalhar essa campanha, Nina! Que fique td mais amarelo blogosfera a fora! <3
Bjs,
Yohana Sanfer
http://www.papelpalavracoracao.com.br/
Olá Nina, adorei o seu post, texto incrível e reflexivo, do jeitinho que eu gosto :)
ResponderExcluirEsse é um tema complicado, tanto pensar quanto falar sobre a morte é difícil, algumas pessoas não compreendem pois nunca passaram por alguma experiência ligada à morte.
Recebi a obra 'Por lugares incríveis' essa semana, como uma das cortesias do Skoob da promoção que realizaram durante a Bienal, estou doida para ler...sei que é complicado, mas eu nunca entendi os fatos que levam uma pessoa a querer tirar a própria vida...depressão? Desilusão? O que realmente se passa na cabeça de alguém a ponto de não querer mais viver? É difícil de saber.
Abraços
Cheguei bem atrasada, mas ainda a tempo de comentar!
ResponderExcluirEu não conhecia o Setembro Amarelo até o início desse mês, quando vi várias pessoas compartilhando postagens sobre isso. Mas eu já tinha uma ideia de que as pessoas precisam saber mais sobre suicídio, depressão e doenças/transtornos psicológicos. Isso porque passei por um período de instabilidade emocional, e fui completamente maltratada por uma pessoa que disse "eu quero te ajudar, mas você não deixa". Depois disso, eu percebi o quanto as pessoas são ignorantes sobre essas questões, e o quanto elas precisam de empatia e informação. Não desejo que ninguém ouça as coisas que ouvi naquele dia.
Agora voltando ao post: eu adorei a forma como você falou da sua situação pessoal, e digo que é muita coragem sua ter compartilhado com as pessoas. Graças ao acontecimento que relatei acima, eu aprendi a esconder meus problemas quando sei que não vale a pena falar deles. A gente sempre está com medo de ser julgado, de ter que ouvir mais uma vez o famoso "é frescura".
Também gostei muito da forma sensível que você falou. Já li outros textos sobre o assunto esse mês, mas a maioria deles era bem objetiva, com estatísticas a informações tiradas do site da campanha. Até eu caí nessa quando fiz meu próprio texto... Gostei muito do texto no blog "Sobre o cinza". Foi o mais sensível que já li!
Oii, tudo bem?
ResponderExcluirAcho super bacana essa temática do setembro amarelo.
Essa ideia de focar na prevenção do suicídio e tudo o mais.
Adorei o post, parabéns.
Abraços da Mary
http://leiturasdamary.blogspot.com.br/