#Resenha de filme: Menino 23 - Infâncias perdidas no Brasil
Faz tanto tempo que não resenho filmes. Primeiro, porque tenho preguiça. E segundo, porque não assisto tantos filmes quanto gostaria. Apesar da Netflix ser ótima e eu, realmente, gostar bastante do catálogo, acho que a minha preguiça já começa em escolher qual assistir.
A resenha do filme que trago, entretanto, não está na Netflix. Assisti em uma casa de cinema alternativa aqui da minha cidade. A exibição dele foi feita por dois motivos: I. a semana da consciência negra e II. o filme estar indicado ao Oscar 2017.
Título: Menino 23 - Infâncias perdidas no Brasil
Direção: Belisario Franca
Ano: 2016
Nacionalidade: Brasil
Duração: 84 minutos
Gênero: documentário
★★★★★
Para quem não é acostumado a documentários, não se assuste: a temática e as personagens não caem na chatice. Por ser bastante rápido (menos de uma hora e meia), é também dinâmico. A paleta de cores escolhida é marcante, em momentos específicos, e funcionou muito bem para alternar narrações e pontos de vista. A fotografia é sensacional, humana e, novamente, muito marcante.
Menino 23 é sobre garotos órfãos, na década de 30, que foram passados para famílias poderosas do país com a promessa de escolaridade, profissionalização e liberdade. Mas os garotos, todos negros, na verdade, foram escravizados na fazenda para qual foram mandados. Mesmo que a escravidão legítima tenha terminado 50 anos antes, em 1888, as imagens de arquivo, documentos e fotografias deixam evidentes que a sociedade da época acreditava que o trabalho escravo ainda era o "normal".
Tudo isso foi possível, porque foi promovido por grupos com pensamentos eugenistas, que faziam parte do Movimento Integralista (bastante influenciado pelo fascismo italiano). Por se tratar da elite brasileira e por disseminar ideias que também estavam na Constituição, o movimento ganhou apoio de muita gente que tinha terras e poder público e político. A cada cena, cada revelação é mais chocante que a outra. Na época, por exemplo, o Brasil tinha a segunda maior concentração de apoiadores do nazismo do mundo (perdendo somente para, obviamente, a Alemanha).
O documentário foi construído a partir de um estudo do historiador Sydney Aguilar. Depois que uma aluna dele falou que, na fazenda da família, haviam tijolos com a insígnia da suástica, Aguilar foi atrás de muitos depoentes, informações e dados para investigar qual era a explicação daqueles tijolos. Afinal, nazismo no Brasil? Que tipo de nazismo? E para quê?
São apresentadas três personagens. Aluízio e Algemiro são depoentes que, com suas falas e imagens, comprovaram situações, lembranças e informações. Aluízio, quase com 80 anos, ainda carrega marcas emocionais de sua infância roubada. Ele tem raiva e tristeza. Algemiro, apesar de também ter sofrido, afastou essas memórias e construiu sua vida a partir dessa supressão de acontecimentos. O personagem mais conhecido como "2" já faleceu, então, foi reconstituído a partir de falas dos outros personagens, além de parentes ainda vivos (filho e viúva).
Aluízio e Algerimo foram crianças negras colocadas para o trabalho forçado no campo, enquanto "2" era a criança negra "amadrinhada", de modo que tinha um lugar dentro da casa da fazenda, mas não significava que não era igualmente escravizada - ele cuidava das crianças da elite, cozinhava, servia, limpava; tudo isso por um prato de comida e algumas roupas bonitas. "2" me lembrou a típica situação da dona de casa que diz que a empregada é "praticamente da família".
Só existem duas palavras para descrever Menino 23: chocante e revoltante. Ele traz à tona coisas extremamente tristes, que muitos de nós nunca nem tivemos ciência. Os relatos são muito humanos e, a partir da perspectiva de uma espectadora, evocam muita inconformação. Fica evidente que existiu uma "limpeza" de cor na época, que continua, obviamente, até hoje.
O viés histórico me agradou muito, pois sou muito ligada a isso e, justamente pelas informações históricas, é que o documentário se tornou verídico e importantíssimo. Por causa da historiografia, tudo ganhou outro rumo, mais credibilidade e visibilidade.
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Dia 20 de novembro é uma data para lembrar que os negros existem,
têm direitos e que o racismo precisa ser combatido.
Links recomendados
> Menino 23 (Site oficial do documentário)
> 18 expressões racistas que você usa sem saber (Geledés - Instituto da mulher negra)
> Por que só o esforço individual não garante o sucesso (Jornal Nexo)
> Consciência negra: por quê? Para quê? É de comer? (Insectashoes)
> Os argentinos não são brancos (Revista Época)
> Você sabe o que é racismo institucional? (Catraca Livre)
> Racismo institucional é central na desigualdade brasileira (Carta Maior)
+ filmes
Livros
Love, Nina :)
Olá Nina =)
ResponderExcluirAdoro filme mas nunca fiz resenha de um, deve ser pela preguicinha. 😛
Vejo bem mesmo filme estilo documentário como gostaria, mas fico feliz em saber que esse não cai na chatice. Imagino que realmente seja chocante e revoltante, pois já vi filme dessa épocas e relata muita tristeza e violência que a raça negra sofria. Eu não sabia que o Brasil foi a segunda maior concentração de apoiadores do nazismo do mundo, apenas que estava próximo a isso. Gostei de conhecer esse filme, anotei a dica quando eu tiver a oportunidade vou assisti. Dos filmes que você citou não cheguei a ver nenhum, mas vi um com essa temática e indico, ele é emocionante e divertido ao mesmo tempo, chama "Histórias Cruzadas", não sei se você já chegou a assistir. Beijos'
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ResponderExcluirOlá Nina, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que não conhecia esse documentário, quase não assisto obras do gênero. Acho legal essa pegada histórica, pela obra se passar na década de 30, as dificuldades deveriam ser bem maiores. Deve ser chocante mesmo!
Bjus
Olá!
ResponderExcluirGosto muito de documentários e assim que vi o título fiquei curiosa e vim conferir. Apesar de ser uma realidade triste o filme traz informações históricas importantes pelo que vc diz e provavelmente algo que nos faça refletir e até fazer uma analogia entra a década de 30 com a atual.
Já que não tem na Netflix, deve ter pra baixar, vou pesquisar.
Bjs
Mundo Literário
Oi Nina, não tenho o costume de resenhar filmes, mesmo vendo vários. Até estou pensando em começar a fazer isso, mas são planos para 2017.
ResponderExcluirNão conhecia o filme/documentário, na verdade assisto a poucos documentário e não sabia desta faceta nazista brasileira.
Bjs
Olá!
ResponderExcluirSe eu tiver oportunidade, assistirei esse documentário. Fiquei chocada ao saber sobre essa "limpeza de cor", através da resenha. Desses filmes listados, assisti apenas "a cor púrpura" e os livros não cheguei a ler nenhum deles.
Bjos!
Adoro documentários, e esse parece excelente. E muito de acordo com a data que você refere, o 20 de novembro. Eu não conhecia o filme, mas já vou colocá-lo em minha lista, pois gostei muito do que li em sua resenha, que está ótima, por sinal.
ResponderExcluirTatiana
Oieee
ResponderExcluirTudo bom?
Eu não costumo ver muito nos blogs resenhas de filmes, mas infelizmente documentário não é a minha praia pois gosto mais de fantasia, realidade já basta o que vivemos todos os dias.
Beijos
olá, Nina.confesso que não sabia desse documentário, mas fiquei feliz em vê-lo por aqui... tentarei assistir assim que possível... além da temática me interessar bastante,ainda tem a questão nazista... disso eu sabia, sobre sua influência aqui no país e talz...
ResponderExcluirdica anotada...
curti as referências a filmes que você colocou ao fim do post...alguns estão em minha lista de 'quero ver'...
bjs...
Ai meu deus, amei a resenha desss filme? Com certeza quero correr para poder conferir e além disso gostei muito das suas dicas de livros, sempro procuro literatura negra e vejo pouca coisa sobre o assunto,então anotei todas as dicas, meu professor sempre me indica "quarto de despejo"
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Não conhecia o filme e fiquei bastante curiosa para ver ainda mais sendo documentário.Esses filmes com temos atuais nos chocam com toda certeza! Dica anotada.
ResponderExcluirBeijos,
diariasleituras.blogspot.com
Oie
ResponderExcluirComecei a assistir esse filme, mas acabei parando. Ele é dinâmico mas tem algumas partes bem fortes e sou muito fácil para chorar. Sua dica foi anotada e pretendo assistir novamente.