A árvore enfim florescendo
Existe um papel no meu quarto, marcado a lápis, que diz: It takes an ocean not to break.
O mar sempre foi parte de mim, para tudo. Para as coisas incríveis e para as não tão incríveis assim. Mas, ultimamente, eu tenho boiado e deixado que as ondas me levem. Eu entendo que nem sempre vou conseguir chegar a um lugar bonito. E, às vezes, começa uma tempestade tão terrível que eu penso em me afogar. Só que eu sei que boiar é tudo o que consigo fazer agora. E o oceano entende isso também e sabe que precisa ser mais gentil, da mesma forma que estou tentando ser comigo mesma.
Eu estou boiando a um tempo já e me acostumando com a água que sobe, às vezes, nas minhas bochechas de uma forma tão afável. Às vezes, essa água leva embora as minhas lágrimas depois de um dia ruim.
A gente fala muito sobre cura sem entender que ninguém vai se curar. Não é agora, num segundo. Não é depois, por causa de alguém que tem a paciência e o amor de descobrir o que podemos ou não oferecer.
A cura é como um caminho no meio da floresta. E a floresta, você sabe, guarda um mundo inteiro. Às vezes, mais de um mundo: aqueles que sequer podemos imaginar, ou enxergar. Não importa o quanto você limpe a floresta, vão continuar existindo partes invisíveis que provocam mudanças invisíveis. Você pode pisar nas folhas e na terra molhada, mas não vai conseguir chegar à raiz da árvore mais antiga.
Eu nunca estive na copa de uma árvore antes, você já? Não posso imaginar como deve ser, assim como não imagino como é me afastar das mãozinhas da tristeza. Eu moro com a tristeza há muito tempo, mais tempo do que posso recapitular em sessões de terapia. Às vezes, não sei bem quem sou e quem ela é. Eu imagino que somos a mesma respiração que anda, cautelosa, por entre a floresta. Imagino que somos o cervo de olho no caçador, esperando o momento certo para ter a nossa chance de escape ao abate. Acontece que nem sempre a gente vence.
Nem sempre estamos no topo da árvore mais bonita.
Mas, às vezes, estamos pisoteando o que quer nascer lá no chão. Isso significa que estamos matando coisas que nem sabemos que existem. Coisas que sequer tiveram a chance de olhar o céu azul.
A cura mata algumas coisas, também. Às vezes, é de propósito. Mas, quase sempre, é porque a floresta precisa se preservar. Ela sempre sabe o que pode oferecer e, assim, sabe também o que vai aguentar. Ela entende que existe um tempo para que as coisas acabem e possam recomeçar. A raiz da árvore mais antiga sabe que leva certo tempo para a água chegar à folha mais alta. Mas, por mais demorado que seja, ela não desiste. Ela sabe que precisa aguardar. A água vai chegar.
Algumas árvores têm o tempo certo para existirem e oferecerem o que têm. E tudo o que eram se torna parte das outras, o que quer dizer que, pra falar a verdade, elas nunca morrem. Essas árvores apenas continuam.
Eu sei que renascer de quem você era é difícil.
É toda uma nova vida para assimilar outros processos, outras necessidades e outros cuidados. Nem sempre a gente vai saber onde quer chegar. Nem sempre vai saber o que precisa manter e o que precisa abrir mão, por mais que ainda seja um lugar bonito. Por mais que ainda queira acreditar que é um lugar bonito. Algumas copas precisam ser desocupadas.
Perto da minha casa, em um muro, escreveram esse titulo: A árvore enfim florescendo. Eu diria que árvores não florescem, mas reflorescem. Elas já foram gigantes e incríveis e invencíveis um dia, mas faz parte da cura também lembrar a elas que nada é para sempre.
Muitas florestas estão morrendo, apesar de reflorescerem constantemente. Renascer nem sempre é o suficiente. Mas não significa que você deva parar.
Eu ainda acredito que, um dia, estaremos no topo da árvore mais bonita. Só que essa árvore ainda está crescendo. Ela estará gigante e incrível e invencível quando chegar a hora.
Você ainda não está onde pode chegar. Mas a raiz da árvore mais antiga vai te ajudar a chegar lá.
Imagem: Brooke Shaden.
Love, Nina :)
Oi Nina,
ResponderExcluirQue texto mais forte. Eu penso muito em cura e felicidade, mas cheguei à conclusão que não há nada a ser curado e que a felicidade nada mais é do que momentos bons que guardamos em nosso coração e memória. O importante, a meu ver, não é chegar no topo da árvore é enfrentar todos os desafios e jamais desistir de subir.
Amei seu texto, sua forma poética de escrever e sinceridade.
Beijos ♥
Olá, tudo bem? Uau, que texto mais impactante e inspirador. Adorei tudo o que tu escreveu e me senti até melhor depois de ler. Que todos nós possamos chegar, um dia, ao topo da árvore mais bonita!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Oi Nina
ResponderExcluirComo sempre seus textos nos fazem repensar em muitas coisas, sempre uso a natureza para me inspirar e me recuperar, sim, vou a um lugar aqui perto, onde é quieto , um lugar inspirador, com muitas arvores e vejo sempre que, até aquela que caiu, que morreu, deixou algo de bom: deu chance de vida a outras, e amo esse ciclo.
Espero que todos possamos subir ao topo mais lindo da nossa arvore, no momento certo, e apreciar a vista que ela nos oferecer.
Bjus
Nossa, fiquei um tempo refletindo sobre o que eu li antes de, finalmente, vir comentar! Você sempre escreve com muita intensidade e seus textos vão de encontro aos nossos corações. Cada vez que visito o seu blog eu encontro uma mensagem forte como essa. O texto está sensacional.
ResponderExcluirQue lindo e marcante esse texto. Somos seres em constante transformação, a vida é um eterno recomeço. Precisamos de muita paciência, fé e determinação para alcançar todo o nosso potencial.
ResponderExcluirQue textão!
ResponderExcluirForte, bonito, reflexivo e tocante.
Que possamos alcançar o topo da arvore mais bonita, a da felicidade.
Beijos
Olá!
ResponderExcluirQue bela reflexão! Você escreve e desenvolve suas ideias muito bem. Parabéns
Abraços
Oi Nina, como vai? Gosto de visitar o seu blog porque constantemente você traz algumas reflexões interessante e bem desenvolvidas, fico hora e horas pensando nos seus textos após a leitura dele..rs! Parabéns pelo talento, amei conhecer a sua opinião.
ResponderExcluirBeijos e Abraços Vivi
Resenhas da Viviane
O trecho que mais me tocou foi "Mas, às vezes, estamos pisoteando o que quer nascer lá no chão. Isso significa que estamos matando coisas que nem sabemos que existem. Coisas que sequer tiveram a chance de olhar o céu azul.". Me fez pensar como as vezes matamos sonhos e esperanças dentro de nós, ao invés de deixar que floresçam.
ResponderExcluirOla Nina
ResponderExcluirAcredito que eu acompanho o seu blog desde o inicio e sempre fui muito apaixonada e admiradora dos seus textos. Ler esse texto hoje só me fez lembrar o quanto admiro o seu trabalho.
Lindo! Inspirador e completamente reflexivo.
Beijos
Lindo texto e linda reflexão! Realmente as coisas dão trabalho e levam tempo para chegarem e se tornarem o que são. Nada que vem rápido será valoroso, e as coisas boas e concretas precisam ser moldadas :)
ResponderExcluirOlá
ResponderExcluirSeus textos sempre me colocam para pensar em algumas coisas. Mais acho o oceano fascinante como em alguns momentos ele esta calmos e outras a tempestades que chegam deixam ele revolto assim como as pessoas. São seus textos me inspiram ótimos pensamentos
Olá,
ResponderExcluirQueria eu ter o dom de tirar as confusões do meu cérebro e colocar no papel de maneira tão bonita, reflexiva e legal como você fez. Seu texto conversou muito comigo, me ajudou a entender algo que há dias venho ruminando. Parabéns! Espero ler mais textos seus.
Beijos,
oculoselivrosblog.blogspot.com.br/