TOP 5: mulheres da Geração Beat
Por eu estar fazendo uma pesquisa sobre o movimento beat para a composição de uma personagem do meu novo romance, eu encontrei Meninas que vestiam preto, uma miniantologia que traz cinco mulheres escritoras do movimento.
Enquanto lia sobre as autoras, percebi que elas rompiam padrões tanto na literatura quanto na vida privada. E foi por isso que eu as trouxe para esse mês das mulheres. Falar de feminismo (movimento no qual acredito e trago para o blog sempre que posso) é falar de emancipação, de modo que essas autoras com certeza foram "subversivas" e emancipatórias.
O movimento
O movimento nasceu entre a década de 50 e 60 nos Estados Unidos, justamente dentro da cultura, especialmente entre escritores e poetas que queriam se expressar livremente. Com um estilo de vida antimaterialista, o beatnik iniciou o movimento hippie, e era contracultural e acreditava na corrente filosófica existencialista, cujo "pensamento filosófico começa com o sujeito humano, não meramente o sujeito pensante, mas as suas ações, sentimentos e a vivência de um ser humano individual"(fonte).
Autores nacionais desse geração são, por exemplo, Paulo Leminski e Alice Ruiz (dos que conheço, realmente não achei nada na internet).
O autor Jack Kerouac, que escreveu "On the Road", é considerado o "pai dos beats".
Trazer mais mulheres para cá é um objetivo do blog a cada ano que passa e, apesar de não estas não serem nacionais, acho que todo conhecimento é válido :)
Anne Waldman
Poeta desde a década de 60, expressava-se de forma fora do contexto, discutia a crise do verso e queria recuperar a crítica textual e a densidade da poesia. Usava técnicas de poesia oral, na música e influências xamânicas. No livro "A mulher que fala rápido / Fast Speaking Woman" estabeleceu o retorno às fontes da oralidade poética e da poesia de performance. Uma coisa curiosa sobre ela é que, ao invés de rejeitar a energia masculina, ela a traz para si, numa tentativa de rejeitar a construção social do antagonismo homem/mulher.
No aniversário de Walt Whitman
(....)
É simples: uma mulher se levanta
e se espreguiça
O mundo é seu espelho & portal.
Diane di Prima
Conhecida por ter escrito "Memórias de uma beanik", ela se afastava da moralidade social opressora e do patriarcado. Ela fundou uma editora e publicou colegas próximos. Tem 43 livros de prosa e poesia.
esbarramos nos silêncios das nossas entranhas
desajeitados, de um lugar a outro
como crianças que fogem para brincar
num barco à noite
e o barco escapa de suas amarras,
e elas olham para as estrelas
sobre as quais nada saber, tentando descobrir
para onde elas estão indo
Elise Cowen
Nasceu numa família judia de classe média, teve um relacionamento com uma amiga, mas era afetada por sua saúde mental frágil, que lhe rendeu algumas internações psiquiátricas. Em 1962 se suicidou. A maioria de sua literatura foi destruída a pedido dos pais, que não se sentiam confortáveis com a sexualidade dela.
Sem amor
Sem compaixão
Sem inteligência
Sem beleza
Sem humildade
Vinte e sete anos são o bastante
Mãe - é tarde demais - anos de loucura - Desculpe
(...)
Marie Ponsot
Ela criou sete filhos totalmente sozinha enquanto escrevia a maioria de suas obras. Fazia o uso de composições poéticas como a sextina e a trintina. Falava muito da cena urbana e considerava as formas fixas um desafio que a levava a descobrir novos procedimentos de composição. Ainda está viva e tem 97 anos.
Manhãs & Louvores
(...)
Inquieta, incauta, eu quero falar de violência,
falar poemas selvagens, silêncios, calma, rezar pela
graça eterna; e depois, descansar no teu denso
e obscuro abraço,
adormecida entre a terra e o céu.
Denise Levertov
De origem judia, tinha o hábito da leitura desde pequena e com cinco anos declarou ser escritora. Apesar de seus primeiros livros ainda utilizarem formas tradicionais, começou a adotar diálogos em sua escrita. Em 1967, lançou a coletânea "The Sorrow Dance / A dança da tristeza", usando a poesia para se inserir na luta política e no movimento feminista.
O segredo
(...)
Amo essas meninas
por encontrarem o que
não posso encontrar,
e por me amarem
pelo verso que escrevi,
e por esquecê-lo
e assim
mil vezes, até a morte
Sobre as poetas da Geração Beat, Gregory Corso escreveu: "Havia mulheres, eu as conheci, também estavam lá. Suas famílias as internavam em sanatórios e elas recebiam choques elétricos. Na década de 50, se você fosse um homem poderia ser um rebelde, mas se você fosse mulher, sua família poderia trancá-la (...)".
Links legais
★ Paulista Cláudio Willer explica os reflexos da geração beat no Brasil (Uai)
★ Leia mulheres: as poetas da geração Beat (Delirium Nerd)
★ O que foi a geração beat? (Superinteressante)
Love, Nina :)
Oi Nina, adorei o post. Eu sou uma entusiasta do movimento beatnik, tendo claro, como leitor preferido o Jack Kerouac. Mas, vejo que peco em não ter lido autoras, mulheres que viveram e irromperam nesse mesmo movimento. Nunca tinha me atentado a isso. Obrigada pelo toque. Beijão
ResponderExcluirCara, que post maravilhoso, adorei!
ResponderExcluirAcho super importante levantar essa questão sempre que for possivel e também quando não for, adorei. Tô louca pra conhecer esse seu novo romance, deve ser maravilhoso, por falar nisso, acabei de comprar alguns de seus ebooks na amazon, depois desse post me deu vontade de conhecer o seu trabalho, adorei!!
Oiii Nina
ResponderExcluirSuper interessante, tanto o movimento em si como conhecer um pouco dessas 5 personalidades. Acho que já ouvi falar da Elise, justamente por ser judia e ter tido uma relação com uma amiga. Nunca tinha lido nenhum verso escrito por ela e gostei de conhecer. Adorei conhecer um pouco da Marie, caramba, que lutadora, criou um monte de filhos e conseguiu deixar sua marca, lindo isso!
Beijos
www.derepentenoultimolivro.com
Ahh o bom é que vc pesquisa e compartilha com a gente <3
ResponderExcluirAchei muito interessante e gostei de saber um pouquinho sobre essas 5 personalidades. Não conhecia nenhum dos nomes, mas despertou meu interesse para pesquisar mais. =D
Sai da Minha Lente
Ainda não li nada de nenhuma dessa mulheres, mas acho fundamental falarmos sobre esse movimento que a décadas vem lutando por cada uma de nós. Vou anotar esses nomes, quero conhece-las.
ResponderExcluirAbraços.
Que post interessante! Há alguns anos li "On the Road" que me apresentou ao movimento beat. Amei conhecer um pouquinho sobre essas cinco autoras, vou deixar o post nos favoritos para poder pesquisar mais sobre cada uma.
ResponderExcluirOi Nina
ResponderExcluirQue aperto no coração lendo trechos desse texto. O trecho final, apertou o coração. Sobre a poeta que teve a maioria de seus textos destruídos por pedido dos próprios pais... Tristeza somente e esperança de que, logo, ninguém sinta vergonha da própria sexualidade nem de quem é próximo.
Vidas em Preto e Branco