Alice Júnior: uma celebração trans

fevereiro 04, 2021

Alice Júnior estreou na Netflix em outubro do ano passado, mas eu só fui saber dele em dezembro. Infelizmente, levei ainda um pouquinho para ver. Quis ver dentro do mês da visibilidade trans (janeiro), mas acabei não conseguindo, então assisti ontem. 




Título: Alice Júnior

Direção: Gil Barone

Ano: 2019

Onde assistir: Netflix

★★★★


Eu juro que não esperava nada demais, mas a narrativa adolescente me convenceu. Não de cara. De cara, eu achei meio chatinho, porque estava me agoniando todo o bullying que a Alice sofria. E, apesar do filme ser doloroso, ele não é apenas isso.


Alice é uma celebridade teen: já participou de um programa de moda e é youtuber. Mas o mundo dela vira do avesso quando o pai, que trabalha fazendo perfumes, anuncia que ele precisa mudar se cidade para conseguir uma nova fórmula de perfume, proveniente da pinha. Acontece que a cidade para a qual eles vão não é nada grande, divertida ou bombástica: é uma cidadezinha interiorana e, para piorar, o colégio para o qual Alice vai é católico.


No colégio, ela começa a encontrar barreiras para ser como é. Os garotos são transfóbicos e machistas com ela, apelidando-a de nomes e colocando-a em situações desconfortáveis e violentas. Alice, entretanto, até que ganha amigos que a aceitam como é. Como eu disse, o filme foca em violências. Há, também, violência homofóbica, que é dirigida a um colega de Alice, por quem ela nutre um desafeto mútuo, mas que, com o tempo,  também vira seu amigo. 


Ainda que o filme seja vendido como comédia, mas eu não ri muito, não. A Alice começa muito chatinha, a típica adolescente dramática, mas o espectador se envolve bastante nas situações. O bom do filme é que ele tem um ritmo acelerado e os efeitos visuais são bem condizentes e legais, o que torna a fotografia bastante agradável. 


Para mim, o que me pegou foi mesmo o final. Depois que acontece uma reviravolta com Alice, a narrativa é bem rápida e eu achei que, quando finalmente o filme ficou bom, ele acabou rs. 


Ainda assim, gostei muito da narrativa adolescente, pois é a minha preferida, apesar de, hoje em dia, o drama bobinho não me motivar muito mais. Ainda assim, a mensagem que o longa passa é bonita e é muito bom ver uma atriz trans vencendo barreiras e estando em festivais internacionais, por exemplo. Para quem nunca viu uma história com protagonismo trans, é uma ótima pedida.


Todos os personagens são legais e envolventes, apesar de os secundários não serem desenvolvidos.  Não há profundidade emocional, por exemplo, nem mesmo na Alice. Ela navega por águas bem rasas, soando como uma adolescente estereotipada, o que não dá chance de conhecê-la tão bem durante a narrativa, só aquilo que é proposto.


Algo que notei é que, apesar de o filme ter representatividade LGT (as L e G bem menos ricas), não há uma diversidade racial. O único negro que tem algum tempo bom de tela é Bruno, um amigo/crush. Apesar de Alice se mudar para o interior do Paraná, acho que isso não é uma desculpa para não investir em personagens negros. E, como Bruno é o único, na verdade, ele só serve de apoio à Alice, não tem realmente uma história. Na verdade, nenhum dos secundários tem uma história paralela, todos vivem em função de Alice. E, para mim, esse foi o ponto negativo do filme. 


Ainda assim, gostei muito e recomendo bastante, especialmente para quem não é familiarizado com personagens trans. Alice é uma personagem, é claro, estereotipada, mas também serve de aprendizado para conversas sobre transfobia e bullying. 


Não importa o que você é, mas quem, e para chegar a essa conclusão, a gente precisa se deixar transbordar. 

5 comentários:

  1. Oi! Tudo bem?
    Que dica bacana para quem não tem o hábito ou a oportunidade de assistir uma obra com protagonista trans e por abordar assuntos importantes, tais como a violência, de forma a causar reflexão ao telespectador. Entretanto não consegui sentir vontade de assistir essa obra, ainda mais por já ter superado a fase de narrativas adolescentes e personagens estereotipados sabe, aquela sensação de mais do mesmo acaba sendo perpetuada, ainda mais por você ter citado a ausência de desenvolvimento de alguns personagens e de profundidade emocional

    Abraços.

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  2. Oi Nina.

    Achei sua dica de filme interessante, pois não conhecia este filme e também porque serve de aprendizado para conversas sobre transfobia e bullying. Confesso que não sou de assistir filmes com protagonistas abordando esses assuntos, por falta de hábito mesmo, mas quando descubro dicas assim e com recomendação citando pontos positivos eu gosto de conferir. Já anotei a dica para assistir em breve. Obrigada pela dica.

    Bjos
    https://historiasexistemparaseremcontadas.blogspot.com/

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  3. Oi Nina!!

    Nossa menina, você acredita que eu coloquei esse filme na minha lista quando lançou e até agora eu não assisti?! Eu vi muitas pessoas falando dele quando foi lançado e depois disso acabei não vendo mais ninguém falando. Eu acho que vou assistir mas já vou preparada porque não gosto muuto de filmes que foquem na violência e que os personagens secundários não são bem trabalhados, mas vou apostar, quem sabe né?!

    Adorei tua critica!!

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  4. Oi Nina!!

    Menina vi esse filme no dia que estreou, assim como você eu gostei bastante dele, mas, houveram pontos que também me me incomodaram um pouco. Toda a premissa do filme é interessante, gostei dos desafios que a Alice precisa passar, mas o final me incomodou, achei meio "irreal" a forma como as coisas se resolveram para a Alice no final, não to dizendo que ela tinha que sofrer, só que achei forçado DEMAIS kkkkkkk mas é verdade o que você falou quando o filme de fato fica bom, ele acaba!!

    Beijos!
    Eita Já Li

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  5. Oi, tudo bem?
    Nossa, eu nunca ouvi falar sobre esse filme. Fiquei muito interessada em assistir, principalmente porque não tive a oportunidade ainda de ver nenhum filme com personagem trans. Além disso, gosto muito dessa narrativa adolescente, mesmo você tendo achado que o final foi meio corrido, e gostei de saber que o filme passa uma mensagem bonita.
    Amei a indicação e com certeza vou querer assistir.
    Beijos

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Editado por Alice Gonçalves . Tecnologia do Blogger.