#Resenha de livro: Pergunte ao pó

dezembro 01, 2015
Estou mega atrasada com resenhas? Sim, com certeza. Mas entrei ~mais ou menos~ de férias acadêmicas e terei mais tempo para escrever aqui. A resenha de hoje é a de Pergunte ao pó, de John Fante, um livro que a Ruh, do Perplexidade e Silêncio, indicou há algum tempo. 

Título original: Ask to dust
Autor: John Fante
Editora: Editora Best Seller (integrante da Record)
Páginas:176
Ano: 2010

O livro é relativamente pequeno, pois é versão de bolso. A narrativa, a princípio, é bastante esquisita. Demorei um pouco para me acostumar com o fato de o narrador, Arturo Bandini, se referir a si mesmo em terceira pessoa. Fiquei diversas vezes confusa, embora a escrita seja muito convidativa para leitores que gostam de "livros rebuscados" (meu caso haha). Depois que passa essa sensação inicial, começamos a entender o personagem principal. Ele é um aspirante a escritor que sempre se acha melhor do que realmente é. Acha que, um dia, seus escritos serão muito famosos e que será muito rico. No entanto, a realidade é outra: ele mal consegue se sustentar com o que realmente ganha pelos contos que são publicados de vez em quando em revistas locais. Achei extremamente difícil vê-lo como alguém jovem (se não me engano, ele tem 21 anos), pois seus pensamentos e atitudes, diversas vezes, remetem a um homem mais velho. 

A leitura é um pouco arrastada, mas bastante intimista. É quase que uma aventura melancólica por seus dias que de quase nada valem. Bandini não tem uma vida muito movimentada, pois é sozinho e não tem muito interesse por quase nada. Mas tudo muda quando ele conhece uma garçonete chamada Camilla Lombard, uma latina pobre e malvestida. Apesar de ele, claramente, estar apaixonado pela moça, Bandini tem um jeito totalmente tosco de demonstrar isso. É altamente rude com ela, sincero de um modo desnecessário e, diversas vezes, machista e controlador. A relação do casal é muito, muito conturbada. Camilla é bastante combativa, ou seja, devolve na mesma moeda, não leva desaforo para casa. O amor retratado é possessivo e muito auto-destrutivo.
“O amor não era tudo. As mulheres não eram tudo. Um escritor precisa conservar suas energias”.
p. 71. 
Li o livro oscilando muito entre os sentimentos de raiva, desgosto e certa compaixão (mas apenas nas partes sobre Bandini mencionar sua relação com a escrita). A narrativa é bastante sedutora, poética e, por vezes, carrega bastante em fluxos de consciência. Posso dizer que, embora o personagem não tenha me agradado em quase nada, esse livro me marcou bastante, pelo fato de ser bastante diferente das leituras com as quais estou acostumada. Fante retrata com muita lucidez o começo dos anos 1900, sendo este romance ambientado na década de 30. 

Quem já leu On The Road, de Jack Kerouac, pode se interessar pelos livros de Fante, pois ambos os autores fazem parte do movimento beat, entre as décadas de 40 e 50 (que, posteriormente, deu origem ao movimento hippie). Os autores desse movimento carregavam bastante no comprometimento de passar ao leitor uma visão mais profunda da realidade, das sensações e das situações; além disso, prezavam bastante suas próprias experiências e gostavam de níveis elevados de consciência. Não é a toa que Pergunte ao pó é semi-biográfico. Com certeza, leria de novo e recomendo :)
"Outro dia, poesia! Escreva um poema para ela, derrame seu coração para ela em doces cadências; mas eu não sabia escrever poesia. Era amor e dor comigo, rimas pobres, sentimento desajeitado. Oh, Cristo no céu, não sou um escritor; não consigo sequer escrever uma quadra, não sou bom neste mundo (...) não sou nada bom, apenas um impostor barato; nem escritor, nem amante, nem peixe, nem ave".
Love, Nina :)

6 comentários:

  1. Oiii, eu achei meio diferente do que costumo ler, mas me agradei bastante com a história, o enredo e a capa.
    Beijos

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  2. Olá Nina!
    Esse realmente não faz meu estilo de leitura, mas achei a premissa interessante e sua resenha está ótima, só não sei se eu conseguiria ler, acho que seria aquelas leituras arrastadas. =)

    Beijos
    http://aventurandosenoslivros.blogspot.com.br

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  3. Nossa, que título curiosa, é, provavelmente, o tipo de livro que compraria pelo título.. Eu também estou MEGA atrasada com resenhas, trabalho... quanto ao livro, gostei dos aspectos que você levantou, o narrador se referir a si mesmo em terceira pessoa e ser intimista, adoro!

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  4. Oiiie
    Nossa, não conhecia o livro mas sua resenha ficou ótima e me deixou curiosa pela leitura, que bom que curtiu a leitura e espero poder ler em breve e gostar também

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  5. Olá, tudo bem?

    Gostei da capa e do título, mas confesso que a premissa não me chamou muito a atenção. Não sei, a questão doachismo presente na história que vc mencionou e da forma com que aparentou pra mim, acho que é um dos motivos que não me cativa. Enfim, vou deixar passar a dica.

    Beijo!

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  6. Querida, vi esta resenha só agora! OMG *guilty face* Desculpe pelo atraso!
    Concordo com você que ele parece mais velho nos pensamentos e atitudes, e acho que nem 21 anos ele tem ainda. Se eu não me engano, ele está na casa dos 16, 17 anos ainda.
    E também me identifiquei, mais do que tudo, pelas tentativas dele em ser escritor, e acho que isso foi o que mais me marcou na estória toda. Fico feliz que você tenha curtido o livro, pois você sabe que sou entusiasta dos clássicos <3

    Beijão, minha linda
    Ruh Dias
    perplexidadesilencio.blogspot.com

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