#Resenha de livro: Antes do baile verde
No começo do ano, eu aderi ao projeto #LeiaMulheres e criei uma lista com autoras que gostaria de ler em 2016. Se fracassei nessa meta? Eu não vejo assim. Não, eu não consegui completá-la, mas, ainda assim, me sinto orgulhosa de, pelo menos, ter espalhado o projeto internet afora.
Neste dezembro, eu me desafiei a ler dois títulos da lista: Antes do baile verde (Lygia Fagundes Telles) e Mrs. Dalloway (Virginia Woolf). Este segundo, tinha começado em abril, no entanto, nunca o terminei. Sejamos todos feministas (Chimamanda Ngozi Adichie), que está na lista, eu já li no ano passado, mas a resenha acabou não saindo por de: esquecimento.
Título: Antes do baile verde
Autora: Lygia Fagundes Telles
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 205
Ano: 1970 | 2009
★★★★★ + ❤
Antes do baile verde, na verdade, foi uma releitura. Li-o no ensino médio, há uns oito anos, mas decidi relê-lo, porque sentia certa saudade desses contos. São 18, cada um com uma temática. Apesar disso, há uma marca característica da autora, que é o fluxo de consciência. Em As meninas, também romance de Lygia, esses fluxos são intensificados, mas nestes contos é suave. As histórias são rápidas de serem lidas, têm entre 4 a 6 páginas.
Para quem não está acostumado com a literatura da Lygia, acho que o entendimento das narrativas podem ser um pouco complicadas, porque são tão subjetivas e entrecortadas, muitas vezes eu terminava um conto sem ter entendido o seu sentido. Depois de um tempo, comecei a perceber que, mais do que entender, a proposta desses contos é fazer o leitor sentir - mesmo que seja confusão. O incrível das palavras da autora, tal qual Clarice e Virginia, é o sentimento. As frases parecem truncadas, desconexas e mesmo inacabadas, mas, ainda assim, nos faz sentir.
Cada conto tem personagens diversas, sempre envoltas em conversas. Os diálogos são abundantes, algo que, a certo tempo, começou a me incomodar, pois gosto muito de descrições e introspecções. Mesmo assim, são precisos e enriquecedores. A partir deles é fácil notar algo que se repete bastante ao longo do livro: os diálogos não são lineares. As personagens estão em uma conversa no presente, mas que sempre se deixa atravessar por outros assuntos, seja do passado, seja de conflitos inter-pessoais. E isso, apesar de ajudar um pouco na confusão, é algo incrível, porque passa ao leitor o transbordamento das vidas das personagens. Podemos não saber o antes e o depois completos, mas os diálogos nos oferecem pinceladas para a imaginação.
Outro ponto fácil de perceber é que os contos não têm um final, algo que amarra as histórias. Por vezes, o sentimento de surpresa e desapontamento com um "final" abrupto aflora, mas não deixa de ser encantador. Acho que, justamente por causa disso, os contos são diferenciados e despreocupados com o que o leitor quer. Eles oferecem, na verdade, o que o leitor precisa. Mesmo que seja pouco ou incompleto. Me fez pensar, por exemplo, nos recortes que fazemos de vidas alheias em nossas realidades. Nós esperamos um final, mesmo que saibamos que um final pode representar, também, um recomeço ou mesmo uma incompletude.
A riqueza das narrativas é incomparável. Refletem, acima de tudo, a brasilidade. Foram escritos em outra época (a primeira publicação é de 1970), mas ainda faz o leitor se identificar. Os contos se aproximam da ideia das crônicas, que carregam uma atemporalidade mais fincada. Características culturais da época retratada aparecem a todo instante e, para mim, foi bastante enriquecedor. Palavras em "desuso" também aparecem com frequência, mesmo que a minha edição seja a mais recente, de 2009. Adorei o fato de a editora ter mantido esses detalhes, pois manteve o caráter literário de Lygia.
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O conto homônimo "Antes do baile verde" foi escrito em 1969, em meio ao desânimo do AI-5. Mas foi o suficiente para que Lygia Fagundes Telles ganhasse o primeiro lugar do prêmio francês "Grande Prêmio Internacional Feminino para Contos Estrangeiros de Cannes". No ano seguinte, a publicação de 16 contos contidos na antologia de mesmo nome do conto premiado aconteceu. Depois de 1970, já teve 20 e, atualmente, na sua versão definitiva, tem 18.
Fique esperto!Não confie no ron-ron de Lygia Fagundes Telles.
Garras de veludo. Posfácio de Antonio Dimas (professor titular de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo).
Há um apêndice maravilhoso sobre o livro e a autora, ao final, escrito por Antonio Dimas, Carlos Drummond Andrade (uma carta) e Urbano Tavares Rodrigues (um depoimento) é igualmente enriquecedor e curioso, porque complementa os contos de forma muito harmônica e pertinente.
Love, Nina :)
Oooi!! Não conhecia a autora ainda! o que na verdade não me surpreende muito, pq eu tendo MUITO a fugir de contos, umas vez que eles me deixam frustrada hahahahaha
ResponderExcluirNão digo q pretendo ler, mas essa subjetividade que vc falou me pareceu muito interessante.
bjs
http://laedevoltaoutravezblog.blogspot.com.br/
Sim, uma das máximas da escrita da autora é levar o leitor ao sentir, bem intimamente. Infelizmente, ainda não li esse livro, mas, lógico, está em minha lista. No mês de dezembro, decidi quase não ler no intuito de postar resenhas, foi um ano corrido e dezembro é o mês que mais trabalho, cheguei a trabalhar 18h seguidas pra dar conta, mas fiz umas leituras igualmente prazerosas, como as tua, ao menos, pra mim, pareceu que essa foi uma leitura prazerosa.
ResponderExcluirNossa, que livro maravilhoso, como eu ainda não o conhecia? Adorei poder conhecer aqui no seu blog e saber um pouco sobre ele. Agradeço pela dica e por dividir com a gente essa leitura.
ResponderExcluirOi Nina, li Sejamos Todos Feministas e gostei muito. Livro curto, mas com grande conteúdo. Este Antes do Baile Verde eu não conhecia, mas os sentimentos parecem estar bem presente.
ResponderExcluirVocê pode não ter lido tudo o que se propôs, mas realmente, só o fato de divulgar este projeto, já é muito importante.
Bjs
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que não conhecia a obra mas pelas suas impressões achei ele um amorzinho. Bem meu estilo de leitura. Dica super anotada. Obrigada! Beijos
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirAchei a capa do livro muito bonita mesmo, sua resenha também ficou ótima. Eu não conhecia a obra em questão, parece ser boa, apesar de não ser do meu estilo literário, acho que animo a ler.
Bjuss
Nina querida, esse livro espero ter a oportunidade de ler, mas estou esperando por causa da faculdade que minhas colegas disseram que iriamos ler, sua resenha ficou incrível!
ResponderExcluirBeijinhos
Nina, só li um livro da autora e foi na época da faculdade.
ResponderExcluirGostei bastante e tenho vontade de ler mais coisas.
Acredito que gostaria muito desse livro, pois amo contos e pelo que você falou aqui já sei que iria gostar.
Olá!
ResponderExcluirAdorei poder essa sua resenha da obra por aqui, adoro a autora e ainda não conhecia essa edição. Achei muito interessante que os contos não tenham um final, acho isso bem típico da escrita dela, o que deixa tudo bem mais legal.
Beijos.
Olá, tudo bem? Nossa quando você falou que consegue terminar o conto sem entender alguma coisa, me deu uma dorzinha no coração. Confesso que não gosto de terminar nenhum livro assim, mesmo que seja o que a autora queira passar porque isso me dá angustia e não consigo absorver nada. Isso e a escrita diferente já me afastariam, somados a contos, que eu não leio muito, deixo passar essa dica. Mas ótima resenha, muito bem estruturada!
ResponderExcluirBeijos,
http://diariasleituras.blogspot.com.br/