Milk and Honey: as quatro etapas para o amor-próprio

Escolhi este livro propositalmente para o Leia Mulheres (2017), porque já o queria na minha estante há meses.


Título: Milk and honey
Autora: Rupi Kaur
Editora: Andrews McMeel Publishing
Páginas: 204
Ano: 2015
★★★★★

Os poemas da Rupi Kaur são viscerais. Embora a massiva maioria deles seja curtíssima, a intensidade é sublime - quase como uma desconstrução da alma: de dentro para fora. É impossível acabar de ler alguns versos e não parar por um instante um instante e perceber que está acontecendo uma implosão na gente. 

A leitura é facílima, em um pouco mais de uma hora eu concluí a minha. Apesar de eu ter escolhido comprar a versão original (em inglês) (e, apesar de eu não ser fluente no idioma), o entendimento dos versos é muito natural e direto. Raramente encontrei palavras cujos significados não sabia e, mesmo assim, o entendimento aconteceu. Isso porque todos os poemas de Milk and Honey têm sentidos muito óbvios e são muito simplistas - mas sem deixar de causa no leitor uma catástrofe sentimental, ora de angústia, ora de orgulho, ora de devastação, ora de fascínio.

O livro é dividido em quatro partes: (1) a dor, (2) o amor, (3) a quebra e (4) a cura. Em cada um dos capítulos, a autora nos apresenta momentos que se interliguem com o tema. Em (1) a dor, existe muitas memórias de infância, abuso (relacionados ao estupro) e relações tóxicas. É muito bonita a forma como os poemas, nesta primeira parte, trazem a maternidade; Rupi traz, em todas essas vezes, sua mãe como a figura materna - a partir dela, continua falando de abuso (atrelado ao pai). 

Em (2) o amor, o enfoque é nos relacionamentos que a autora teve. Além do erotismo, há elementos muito simples, como a sinestesia, a prosopopeia e o eufemismo. (3) a quebra é meio que uma continuação de (2) o amor, pois o que lemos é a consequência do que existiu anteriormente, mas trazendo tristeza, angústia e frustração. Nesta terceira parte, somos encaminhados para a ruptura dos amores construídos a partir de momentos muito únicos e, ao mesmo tempo, muito universais. Fala-se muito de abandono, de se estar perdida, de melancolia e de desamar a si mesma. 

(4) a cura é a minha parte preferida, há muito mais marcações minhas de poemas neste do que nos outros capítulos. Se até (3), os sentimentos eram de construção (primeiramente de algo bom e, depois, de muitas toxidades), em (4), os sentimentos são de coragem, de gratitude, de amor-próprio e de retomada de si mesma. Em (4) temos, realmente, a cura - conseguimos sentir toda a energia voltando a habitar as palavras e os sentidos. A reconstrução é palpável, de dentro para fora. É quase uma evolução que desemboca em sentimentos incríveis e brilhantes.



Eu sou suspeita para falar sobre o que mais amei neste livro. O que mais me marcou, com certeza, foi o aprendizado a se re-construir depois de muita dor e muito desamor. Como eu mesma passei por isso em 2016, parecia que eu estava me sentindo através das páginas - toda a cura que li, todos os poemas que grifei, todos os baques que senti eram eu. Ter conseguido me identificar em cada palavra foi uma das coisas mais especiais. 

Além disso, apesar de muita coisa ser sobre o amor romântico, você não precisa lê-lo com o propósito de encontrar alento para isso - há muitos outros tipos de amor nas entrelinhas. O amor-próprio é o mais evidente no final, depois do romântico. E o sentido de cura não precisa ser, necessariamente, de cunho inter-relacional, já que a cura pode servir apenas para nós mesmos, como uma espécie de "fazer as pazes" com nossa própria alma. 

Milk and Honey é de uma literatura intrinsecamente simplista, incrível e emocional. As ilustrações que acompanham muitos dos poemas casam perfeitamente com os sentidos e os elementos poéticos. Elas não têm a intenção de serem realistas, são semelhantes a rabiscos/rascunhos e, ainda assim, são lindíssimas. A simplicidade também está nelas, o que faz da obra um casamento entre palavras, sentidos e imagens. 

O miolo, assim como a grafia do título, é em caixa baixa. Eu sou uma leitora e escritora que sempre preza pela grafia e pela gramática, porque acho isso importante na literatura. Mas, neste livro, eu esqueci isso. Não que eu ache que, por ser poesia, precisa quebrar completamente com o padrão usual, mas acredito que a falta de pontuação e os versos corridos (sem o aparecimento de maiúsculas) deram outro tom ao livro. Fez dele algo bastante próximo, mais intimista e marcante. 

Por ser uma edição americana, há a ausência de orelhas, mas não me incomodou. Assim como a capa negra, a dedicatória e os anunciamentos dos capítulos também têm fundo negro. Parece algo monocromático e "chato", mas, na verdade, ao olhar é muito impactante, pois o contraste das páginas amareladas dos poemas são quase que o oposto das "marcações" em páginas negras. 

E o que falar da capa? Uma das minhas preferidas. Aliás, eu decidi não comprar a versão nacional (já lançada pela Planeta de Livros), porque achei o design completamente sem correlação com a original (apesar de se correlacionar com as ilustrações internas). Ah, acabei não gostando do título brasileiro, também. 

Não poderia amar mais Milk and Honey. Foi interessante, aliás, notar que toda a expectativa que estava nutrindo ao longo de todos esses meses de espera foi atingida e mais: superada de forma graciosa. Gratidão é a palavra que uso por ter tido a sorte de ler este livro e por tê-lo na estante. Não pense que vou conseguir me desgarrar dele tão cedo (haha).










Rupi Kaur nasceu na Índia, mas aos quatro anos se mudou para o Canadá. Ela se iniciou na poesia a partir do Instagram e do Tumblr. Sua visibilidade cresceu quando, em 2015,  fez um ensaio chamado "Period" no Instagram e teve as fotos apagadas. É adepta do feminismo (sua literatura já deixa isso bastante óbvio). 


Love, Nina :)

16 comentários:

  1. Que resenha linda, Nina. Fiquei apaixonada.
    Tem esse livro na versão português? Preciso ler.

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  2. Uau!
    Adorei o livro e a divisão das partes. Acho muito legal esses temas!
    Já quero ler!
    Beijos!

    Camila de Moraes.

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  3. Olá, ainda não conhecia esse livro mas pelo seu post já fiquei com vontade de lê-lo. Acho interessantíssimas obras que estimulem o amor-próprio, ainda mais se forem nesse estilo poético que a autora traz em sua obra. Amei a resenha.

    petalasdeliberdade.blogspot.com

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  4. Oi Nina, tudo bem?
    Eu não sou fã de poesias, mas tenho que admitir que os trechos que você postou ganharam meu coração! Estou louca pra ler Milk and Honey, em inglês mesmo!
    Beijos,

    Priih
    Infinitas Vidas

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  5. Oi, tudo bem?
    Que delicia de livro, fiquei bem curiosa para conhecer. Quais as chances de ser publicado no Brasil? Meu inglês é terrível! Muito legal conhecer essa autora e sua obra! Parabéns pelo post e por trazer essa novidade!

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    1. Oi, Sophia. Ele já foi publicado :)
      O título nacional é "Outros jeitos de usar a boca".

      Love, Nina.

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  6. Olá, tudo bem? Nossa não conhecia a autora, nem a obra. Gostei bastante do que foi mostrado na resenha e fique bem curiosa. Terei que ler ele em português, porque sou bem ruim no inglês hehe
    Beijos,
    diariasleituras.blogspot.com

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  7. Oi Nina, tirando a parte 1 da quebra, me pareceu (peço perdão se entendi errado) que as outras partes ficaram como se fossem uma construção do amor até a hora em que é preciso seguir em frente. De qualquer forma, achei bem interessante a forma como ela dividiu o livro. Eu gostaria de ler, mas na versão nacional, pois não sei se conseguiria ler em inglês como você. Mesmo você ressaltando que não é fluente.
    Bjs.

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  8. Oi, Nina! Tudo bom?
    Puxaaa, já tem um tempinho que quero ler este livro!!! Assim que vi um pessoal comentando a respeito sobre ele em algumas redes sociais eu decidi que preciso ler urgentemente este livro! Eu acho essa capa linda, apesar de ser bem simples e tipo, essa edição está lindíssima pelo visto <3 Gostei bastante dos seus comentários sobre e é cada coisa maravilhosa que achei dele! Espero ler logo, logo!

    Beijos,
    Lu - @justificou

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  9. Oi, tudo bem?
    Eu confesso que não conhecia essa obra ainda e que não costumo ler muitos poemas, sabe? Mas lendo sua resenha deu para perceber que se trata de uma boa obra, gostei de saber que o entendimento é fácil e direto, sem contar que os temas abordados são bem interessante. Acredito que a parte 4 também seria a minha favorita, pois gosto de textos que são sobre amor-próprio, coragem, etc. Enfim, parece ser realmente uma bela obra, por isso vou marcar a dica e espero ler algum dia.

    Beijos :*

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  10. Oiii NIna, tudo bem?
    Que surpresa esse livro pra mim garota, eu sou toda errada no inglês e digo pra ti que tenho tanta vontade de aprender, acho um idioma apaixonante e lindo quem sabe falar e ler fluentemente, ótima publicação e fiquei encantada com o livro.
    Abraços

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  11. Nina!
    Que livro maravilhoso!
    Eu não conhecia e estou super curiosa. E pelas fotos, gostaria até mesmo de ler na verão original, porque meu inglês me permitiu entender. haha

    Achei sensacional e a sua resenha é muito íntima e honesta.

    Anotado. :)

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  12. deve ser uma leitura realmente tocante e sensivel...apesar de serem inglês, acho que me atreveria a ler, mesmo não dominando tão bem o idioma...
    não conhecia a autora, mas já vou pesquisar mais sobre ela...fiquei curiosa...
    bjs...

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  13. Oi.

    Hoje mesmo vi o nome dessa autora, mas nunca cheguei a ler nada sobre ela. Até parece ser um livro bem legal pelo o que você falou sobre os poemas, o problema é que eu não entendo nada de inglês. Vou procurar e ver se tem esse livro em português, se tiver, então talvez eu leia.

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  14. Olá, não conhecia a obra, nem a autora...mas já fiquei encantada com a temática e curiosa para ler também. Ótima dica! Já está anotada aqui.

    Abraços

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  15. Sonhando com essa molhier muito antes de saber quem ela é por motivos de ter encontrado vários poeminhas dela no pinterest e ter tido vontade de ter 6 testas extras só pra poder tatuar cada um nelas.
    Quero muuuito lê-lo! <3

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Olá, obrigada pelo comentário, mas, para evitar passar vergonha na internet, por favor, não seja machista, LGBTQAfóbico(a), ou racista. O mundo agradece :)

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Editado por Alice Gonçalves . Tecnologia do Blogger.