Quando te conheci: não é permitido sentir
Li poucas resenhas desse filme antes de ele estar disponível na Netflix. Todas muito positivas. Foi muito por acaso que descobri que já está no catálogo da plataforma e fiquei bastante feliz. A história é essencial por muitos motivos e seu enfoque se assemelha ao filme O doador de memórias - que é tocante e lindíssimo, então, também o recomendo.
Título original: Equals
Diretor: Drake Doremus
Duração: 1h e 41 minutos
Ano: 2016
Gênero: sci-fi / drama
★★★★★ + ❤
Apesar de o título em português ser bastante poético (e triste, apesar de assertivo), prefiro o original, que é Equals. É mais objetivo e cru. Tanto é que mal reparei que era o mesmo filme no catálogo por causa disso - só tive a confirmação porque sabia que os protagonistas eram a Kristen Stuart e o Nicholas Holt. Além disso, a palavra resume a atmosfera do filme.
Quando te conheci não fala apenas de amor romântico, mas de todo e qualquer sentimento. A essência do filme é justamente a do não-sentir. As pessoas dessa sociedade em questão não transparecem sentir emoções - dor, compaixão, medo. Elas nem mesmo reconhecem os sentidos humanos, como a sensação da água do chuveiro na pele. É chocante, inclusive, lembrar que, se nenhuma emoção pode ser sentida, então, a maternidade é algo solitário - não existe sexo entre duas pessoas e qualquer atividade sexual é, também, combatida. Algo notável é que homens e mulheres têm cabelos curtos, talvez justamente para inibir o desejo sexual (?). Tudo é automático - as relações, em especial, pois a sociedade preza o profissionalismo. E é muito fácil entender isso ao analisar as inúmeras cenas em que os protagonistas exibem suas habilidades na empresa em que trabalham.
Se o "natural" é o não-sentir, quem é classificado o oposto precisa passar por uma consulta e, dependendo do nível de SOS (switched-on-syndrome), o tratamento é diferenciado. O mais impressionante da narrativa é o quanto ela se aproxima de temáticas que debatem a saúde mental, já que o sentir em excesso ou atipicamente - como ansiedade, depressão, bipolaridade e outros transtornos - seguem o mesmo caminho oferecido (e não oferecido) do filme.
Silas é ilustrador e está encaixado naquele local, a princípio. Nia é roteirista e imita seus colegas. A storyline, aqui, não é muito surpreendente - as consequências, o conflito central e o entrelace das vidas de Silas e Nia podem ser inferidos a certa altura do filme. No entanto, foi impossível não me tensionar e me apegar. Ainda que exista muita inexpressividade e frieza, a narrativa oferece o oposto disso tudo na medida certa. O romance é gradual e muito condizente com a sociedade - existe medo e recusa, mas também existe sutileza e encanto.
– Mas há valor em viver. Ser um “esconderijo” te lembra disso (...) É difícil ver coisas e não se comover. Então você faz pequenas coisas para ajudar. Apenas olhar alguém nos olhos pode fazê-los sentir que não estão sozinhos. Dá esperança a eles. (...) Prefiro ficar com pessoas que sentem. Que sentem intensamente. Me lembra quem eu sou e por que escolhi continuar a viver. Todos dizem que não é contagioso. Todos os anos, por pior que seja, todo dia sinto uma forte afinidade com outras pessoas.
Silas e Nia precisam não somente se unir, mas se proteger mutuamente para que o Coletivo não os descubra e as consequências sejam desastrosas. No casal, vemos mais uma vez a narrativa se aproximar da questão da saúde mental. Por causa do desvio emocional de ambos, não existe apenas amor, mas dificuldades e barreiras. A associação à transtornos mentais é incrivelmente fácil. Ali, as pessoas fora do padrão são estigmatizadas, excluídas e forçadas a se readequarem. Alguns, como Silas, podem apenas tomar pílulas que vão equilibrar seu emocional - mas outros podem sofrer tratamentos desumanos, como eletrochoques (Esther e sua depressão em A redoma de vidro). É dito, aliás, que muitos acabam se suicidando e que o suicídio é algo incentivado dentro das equipes de saúde.
A beleza de Quanto te conheci é amena, subjetiva e contida - mas que, no momento certo, se alastra e se torna tudo aquilo que a sociedade fictícia combate. A fotografia é quase monocromática, apagada e triste. São raras as cenas em que a cor explode na tela. É interessante perceber como isso muda de acordo com os sentimentos das personagens, inclusive. E há muitos closes, que podem incomodar alguns - eu, particularmente, gostei muito, pois oferece o caráter intimista. Ah, muito se fala que a Kristen é apática como atriz e, sim, você verá exatamente isso - e, honestamente, ela é incrível nisso. Tanto ela como o Nicholas exercem os papéis de seus personagens de forma adorável e convincente - interpretando cenas solos ou em conjunto, ambos estão perfeitos. Não poderia amar menos a história e seus desdobramentos - alguns, inclusive, me deixaram muito angustiada. O desfecho, quando acontece, pode te deixar frustrada e inconformada. Assim que a narrativa terminou, tive vontade de rever tudo, porque a atmosfera e a mensagem do filme casaram bastante com a minha essência subjetiva e neuro-atípica. Impossível recomendar menos ❤
– Sentimentos produzem sentimentos. SOS nem é uma doença. É o que eles dizem, mas eles nos adormecem entre a concepção e o nascimento. SOS é quem realmente somos e os inibidores são mais uma tentativa de esmagar isso.– Eu não sei. Pelo menos com os inibidores eu consigo relevar. Mas agora, eu preferiria não sentir nada. (Sentir) nada é melhor do que isso.
Love, Nina :)
Ainda não havia encontrado essa pérola no catálogo da netflix. Mas é uma proposta que tem sido recorrente em livros (como na trilogia Delirium) e filmes. Não gosto muito da atuação da Kristen, mas acredito que darei uma chance ao filme.
ResponderExcluirObrigada pela dica.
Bjsss
Luana- www.umasegundaopiniao.com
Oi, Nina ^^
ResponderExcluirNossa, que fantástico! 😍
Mais um enredo em estilo de O Doador de Memórias? Já estou querendo ver!
Acho muito interessante esses enredos distopicos onde os sentimentos humanos foram desativados. É chocante o quantos que a sociedade combate os que pensam diferente.
Kristen Stewart é muito apatica e sem sal então deve casar mesmo perfeitamente com o enredo. Assim como esse autor que já fez Skins. Ahaushsu
Obrigado por essa indicação que com certeza eu passaria longe só por ter a Kristen, mas o enredo não pode ser ignorado e eu assim que possível irei ver essa película.
Adorei a sua análise. Está linda, Nina. ^^
Bjs
Olá ! eu não conhecia o filme. E confesso, que estou impressionada. Pois isso de alguma forma, é o que se passa, na nossa sociedade. Muito profissionalismo, e pouco sentimentalismo. E quando a sentimentos , alguns são totalmente doentios. Amar dá trabalho, e ser feliz não é tarefa fácil, por isso a letargia. Se torna uma opção segura, para evitar sofrimentos...
ResponderExcluirBjs
http://entrepaginasemuitashistorias.blogspot.com.br/
Nossa eu estou muito em dúvida com esse filme! Eu adicionei ele para assisti no netflix, mas o tanto que escuto bem sobre ele escuto falarem mal kk
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirEu não tinha visto esse filme na Netflix ainda.
Me parece ser cansativo com esse enredo, não faz muito meu estilo de filmes que dou preferência.
Talvez em uma próxima oportunidade aproveite a dica.
Beijos!
Camila de Moraes.
Não conhecia o filme, nunca li resenha sobre ele, não que eu lembre. Sobre o ‘O doador de memórias’, eu vi e não curti tanto, nem consegui chegar ao final. Mas eu sou um pouco difícil para TV, cinema, etc. “Elas nem mesmo reconhecem os sentidos humanos, como a sensação da água do chuveiro na pele.” Eu gostei disso, me remete deveras a filosofia Biocêntrica. Na tua resenha, eu já vi aspectos de afetividade, sexualidade e transcendência.
ResponderExcluirOlá! Que bom que curtiu o filme. Tinha visto o trailer e não me despertou interesse. Mas agora lendo sua resenha vou dar uma chance ao filme. Que bom que ele o final deixa a vontade de rever. Apesar de muitos falarem mal da atuação da Kristen Stewart, eu gosto dela como atriz. Beijos'
ResponderExcluirOlá! Eu vi esse filme na Netflix mas nem liguei, a sinopse não tinha me agradado e não gosto da Kristen como atriz (pelo menos nos filmes que já a vi atuando) rs
ResponderExcluirNo entanto amei sua opinião do filme e vou ver hoje mesmo!
Já havia lido uma postagem sobre o filme e não me empolguei para assisti-lo, apesar de parecer realmente passar uma mensagem, como você mesmo comentou, a Kristen poderia ganhar um prêmio de atriz estátua, mas enfim, sua personagem nesse filme parece ter sido feito para ela. Quem sabe esse eu assista... Não sei...
ResponderExcluirNara Dias
www.viagensdepapel.com
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirAI MEU DEUS, ESSE FILME PARECE SER LINNNNNNDOOO DEMAIS! TEM A KRISTENNNN, AMO ELA DEMAIS, mesmo sendo uma atriz estátua! Bom, gostei pelo fato de ser uma ficção científica, acredita que eu tinha adicionado ele na minha lista faz um tempinho? Mas até hoje não assisti! HUAHAAAUHU, depois dessa resenha linda vou conferir logo, logo! <33
Beijos,
Lu - @justificou
Eu vi alguns comentários negativos em relação a esse filme e fiquei meio assim em assistir, mesmo não sabendo do que se trata. Não que eu não tome decisões independentes, mas é que a Kristen desde de Crepúsculo, não me passa confiança. No entanto, vejo que a história tem um significado todo especial, como "O Doador de Memórias".
ResponderExcluirNossa, não conhecia esse filme, mas parece ótimo!!! Fiquei bastante curiosa ao ler que se assemelha ao "Doador de Memórias". No momento estou sem Netflix, mas já anotei o nome para assistir na primeira oportunidade.
ResponderExcluirbjs
www.livrosdabeta.blogspot.com.br
Já conhecia o livro, mas o enredo dele não tinha me chamado muito atenção. Fico feliz que tenha gostado, mas não sei se vou ver.
ResponderExcluirBjs
Oi!
ResponderExcluirAssisti a esse filme há alguns dias por recomendação de um outro blog e tive as mesmas impressões que você. A trama é tocante e as atuações são muito boas. Quem gosta desse estilo de história com certeza vai adorar esse filme.
Beijos!
Olá Nina, tudo bem?
ResponderExcluirEm primeiro lugar, parabéns pelo blog, ele é lindíssimo!
Em segundo, parabéns pela sua escrita detalhada. Até então não tinha ouvido falar deste filme em lugar nenhum, mas depois de ler sobre ele fiquei super interessada em dedicar um tempinho do meu dia à ele. A história parece ser daquelas que te prende em um nível master!
enquantoleitora.blogspot.com