Carry on: a magia que une
Eu sou completamente apaixonada por literatura LGBT e faz muitos meses que estava querendo ler Carry on, da Rainbow Rowell. Assim como a maioria dos leitores de Fangirl, esperei para conhecer Simon e Baz para além das fanfics da Cath. E foi uma leitura que excedeu minhas expectativas, de tão lindinha e incrível.
Título original: Carry on
Autora: Rainbow Rowell
Editora: Novo Século
Páginas: 446
Ano: 2015
★★★★★ + ❤
As 446 páginas não foram suficientes para o meu amor por este livro. O fato de ele ser YA apenas ajudou para que eu o amasse mais a cada linha. Eu estava com receio de comprá-lo e de ele não ser "tudo isso" que imaginava. Sem contar que, quando iniciei a leitura, estava com a impressão de que o arco narrativo seria queerbaiting. Mas, ainda bem, nada de queerbaiting e eu fiquei extremamente feliz.
Quem é fã de Harry Potter vai adorar conhecer Watford, especialmente porque há bastantes, digamos, "referências". Diria que Watford (que é a escola de magia) e o Mundo dos Bruxos é uma história paralela à Hogwarts. Em Carry on temos o protagonista Simon e seu antagonista Baz. O que difere Harry Potter e Simon Snow é a escrita e o desenvolvimento escolhidos pela autora. Simon, apesar de severamente irritante no início, é cativante daquele jeito bonitinho e juvenil típico dos livros YA's. Igualmente Baz; mesmo a rudez e a frieza dele são cativantes, porque faz parte do pacote YA esperado. Mas, de maneira alguma, isso significa que seus arcos narrativos são pobres ou rasos.
"Se existe uma rachadura em Simon, então existe uma maneira de consertá-lo. E eu vou encontrá-la", p. 113
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A história, a princípio, gira em torno de Simon, um garoto órfão de dezessete (ou dezoito) anos, que tem o título de Herdeiro do Mago, ou o Escolhido, isso porque o mundo mágico vem sofrendo graduais ataques, mas não do modo que o mundo de Harry Potter sofre. Nesse mundo, a magia e o vilão são bastante diferentes da imaginação de J. K. Rowling. Eu diria - com nem um pouco de culpa - que Carry on é mais genial e mais humano. A magia, por exemplo, é um elemento que existe tanto nos bruxos quanto no mundo afora (é como se a magia fosse o wi-fi). O conflito, então, existe porque essa magia está sendo "desaparecida" por uma entidade chamada Insípidum. Onde a magia desaparece se cria um buraco, tipo o da camada de Ozônio. E essa magia não é reposta, então, significa que o mundo mágico, um dia, pode ficar sem ela. Por ser o Escolhido, Simon é o bruxo mais poderoso e que pode impedir o Insípidum.
Um dos pontos positivos que mais me chamou atenção é a sociedade: ela é muito mais saudável, pois os bruxos não vivem em um mundo à parte (apesar de não saírem por aí afirmando o que são), usam tecnologia, conhecem a cultura mundana e a utilizam de diversas maneiras. Uma das utilizações é, em especial, nos encantamentos; palavras mágicas que não dependem da habilidade mágica da pessoa, mas de sua habilidade em dicção e em locução - e também dependem muito do quanto a pessoa tem a vontade de dizer as palavras. Algo muito diferente - e até muito engraçado - é que os feitiços não significam palavras em latim, mas são frases de efeito, cantigas, trechos de canções (à exemplo do título do livro, cof cof) e ditados populares. O mais legal de perceber os nomes dos feitiços é que eles dialogam com a cultura nacional (imagino que os tradutores pelo mundo afora precisam se valer de muita pesquisa para conseguir transformar as frases em algo coerente sem perder o significado original).
O livro é narrado por, basicamente, todos os personagens - cada um deles tem um espaço de fala, o que é algo bem interessante e oferece diversas perspectivas. Os personagens mais recorrentes são Simon, Baz, Penny e Agatha (as duas últimas: amiga e ex-namorada de Simon, respectivamente). Foi muito bom perceber que as personagens femininas têm a mesma importância que os meninos. Penny é inteligente, leal e sagaz. Agatha se assemelha à menina metida e riquinha da maioria das narrativas americanas, mas com um porém: isso não é tão escancarado nela.
Simon e Baz, embora "inimigos", se veem cada vez mais unidos para desvendar o passado de Baz. Isso significa que eles estão dando uma trégua. De início, Baz continua com a pose de rude e distante, por causa do segredo que carrega (que é, em parte, o motivo de serem inimigos), mas é inevitável que, devido aos vários conflitos políticos, precise aceitar Simon mais como um aliado e menos como um inimigo. A narrativa avança de forma bem surpreendente, ganhando fôlego por causa de seus personagens. Todos eles, de seu modo, são cativantes e ocasionam sentimentos no leitor. A história vai e vem do presente para o passado, porque a premissa é desvendar segredos familiares e intrigas sociais. É marcada por vários plots twists sensacionais, que prendem o leitor, fazendo-o mirabolar sobre tudo e todos.
Não somente de magia e amizade o livro é feito. Existe certo brilhantismo, como num jogo de xadrez, para usar as personagens certas, fazendo as manobras certas (ou erradas). Apesar de as personagens serem jovens, os assuntos abordados não são brincadeirinha. A trama embola e estica muitas vezes durante as quatro partes, o que incentiva o leitor a não se desgrudar do livro. Ainda que o mundo narrativo seja ficção, Carry on não é hermético, porque sabe dialogar com o público.
Como mencionei no início, a narrativa não ilude o leitor. A trégua que Simon e Baz hasteiam, lentamente - e com um pouco de custo -, se desenvolve para um relacionamento amoroso. Apesar de Baz se afirmar como gay, Simon não sabe muito bem como se identificar, especialmente porque namorou Agatha durante três anos. Os trechos nos quais ambos falam sobre a homossexualidade tornam a narrativa mais humana e real, mas fiquei decepcionada pela autora não cogitar a bissexualidade de Simon (inclusive, tem um trecho horrível sobre ele ser "meio gay", que me indignou muito). Problemas à parte, foi muito impossível controlar os fangirl attacks, porque eu estava torcendo muito por eles - e amá-los é absurdamente fácil.
A história entrou automaticamente para a minha lista de livros do coração. A narrativa não somente diverte, mas faz refletir sobre conceitos como sociedade, preconceito e confiança. Carry on é literatura young adult sem soar forçado, mas também cumpre com a literatura universal - sem classificações - sem se arrastar. Com certeza, está acima de muitos livros de fantasia que ficam presos demais no mundo mágico, sem trazer debates e emoções incríveis. Assim como Harry Potter, aposta no amor, mas de maneira mais atual, com mais consciência e representatividade.
Love, Nina :)
Sua resenha me animou bastante *-* Vou correr atrás do livro. Pena que as pessoas tem medo da palavra bissexual, né? But it's okay, é importante que esse livro exista <3
ResponderExcluirAdoro livros que envolvem magia e afins, também sou meio fã da Rainbow, mas não li Carry On ainda, espero ler em breve. Porque se a sociedade do livro for realmente isso que cê falou, vou adorar.
ResponderExcluirBeijos, Nina!
hehehehehehe eu não sei o que é Fangirl, nem a representação disso para literatura. Também sou apaixonada pela literatura com temática LGBT, apesar de focar mais em livros adultos, gostei dessa indicação. O último que li, apesar de não ter a indicação LGBT, mas a temática esta no universo, foi Fabián e o Caos, cubano, adulto, cruel e visceral. Obviamente, o autor tem influência em Fante. Também gosto da Cassandra Rios, apesar de ser paraliteratura, curto bastante. comprei o documentário sobre ela.
ResponderExcluirOlá Nina!
ResponderExcluirEu adoro a escrita da Rainbow, mas ainda não consegui ler todos os livros dela. Já sabia que se tratava de personagens que apareceram em Fangirl, então mesmo nunca tendo lido um livro LGBT sem dúvidas vou curtir a leitura, pois a autora tem um jeitinho bem especial de narrar e nos fazer rir um bocado durante a trama.
Espero conseguir ler em breve.
Beijos!
Camila de Moraes
Olá!! :)
ResponderExcluirEu confesso que não conhecia este livro ainda, mas ainda bem que gostaste assim anto que favoritaste o mesmo!
Enfim, acho ótimo que a autora consiga passar uma mensagem clara! Já tinha ouvido falar da autora, no entanto ainda não li nada dela!
Boas leituras!! ;)
no-conforto-dos-livros.webnode.com
Oi! Há tempos quero ler uma obra de Rainbow Rowell, mas não sabia por onde começar. Agora decidi qual será minha primeira leitura Hehe
ResponderExcluirAdorei a pluralidade de assuntos que envolvem a obra, e apesar de muitas vezes dar errado toda essa mistura em alguns livros, na premissa de Carry On não pareceu que ele irá fugir de cada assunto.
Dica anotada aqui! Beijão :*
Oi Nina, já vi este livro por aí, mas não o li ainda. Peguei alguns livros lGBt e gostei, por isso este já me chamou atenção.
ResponderExcluirBjs, Rose
AAA, que legal, já amei. Também gosto muito de ler livros LGBT, principalmente quando bem escritos. E este parece ter todos os ingredientes para uma boa história. Ainda não li nada desta autora, sei que ela é bem comentada por aqui.Mas fiquei com vontade agora.
ResponderExcluirBeijos
Sem comentários sobre esse trecho que fala sobre ele ser "meio gay"... Enfim, mesmo sem levar em conta essa parte, a obra não chamou minha atenção... Talvez por eu ter lido um livro da autora cheia de expectativa e ter me decepcionado completamente. Não estou pronta pra dar uma nova chance a um livro dela. Mas que bom que entrou pra sua lista de livros do coração.
ResponderExcluirOi, Nina ^^
ResponderExcluirEstá aí um título que namoro desde o seu lançamento em território brasileiro. 💙
A capa é de uma lindeza cativante!
A comparação que todos fazem com Harry Potter me parece ser válida. Afinal, referências a outros mestres da escrita é bem positiva.
Um dos motivos deu amar fantasias são justamente o foco no mundo mágico, mas reconheço que tem muitos enredos por aí que peçam na construção pessoal dos personagens e suas relações humanas, que apresentam histórias clichês. Espero sinceramente que Carry On não seja assim, que mostre pessoas reais e não clichês.
Algum dia irei ler essa obra. Ah se vou. 💙
Obrigado por essa resenha maravilhosa!!!
Abraços.
Adimiro sua forma de relatar o texto,sempre quando venho aqui mim motiva mas a ler! E já quero esse livro
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