RED: o amor nos tempos da fortaleza sentimental
Eu estava há, literalmente, meses para assistir a websérie RED, que foi uma recomendação da Marcia. Honestamente, não sei por que demorei tanto, porque ela é incrivelmente fácil de acompanhar e de finalizar.
Título: RED
Roteiro: Germana Belo e Viv Schiller
Direção: Fernando Belo
Ano: 2014 - atualmente
Temporadas até agora: 3
★★★★★
Apesar de RED ser "vendida" como uma série lésbica, pra falar a verdade, a narrativa não é unicamente focada na lesbianidade. O fato de ela ser pautada no amor entre duas mulheres não significa que as personagens sejam lésbicas. Apenas uma das protagonistas é, o que significa que tachar a websérie de lésbica é um super apagamento.
A história tem, a princípio, um plot simples: Liz e Mel são atrizes e são parceiras de cena em um curta que fala, também, de um romance entre mulheres. É a partir dessa parceria que, logo no primeiro episódio, nasce a "brincadeira" de que isso vai além do profissionalismo. Mel é casada com um homem que, desde o início, chama Liz de "concorrente". Liz, por outro lado, é assumidamente lésbica e não procura nenhum relacionamento sério. Mas essa dinâmica calma termina quando ambas as mulheres perceber que o que brincam pode ser verdade.
Por ser uma websérie, os episódios não são longos (têm entre oito e onze minutos). É muito fácil maratonar as três temporadas que estão disponíveis no Vimeo em um único dia - mas não por causa dos episódios serem curtos. A história é muito envolvente, mesmo que tropece em clichês narrativos. É muito fácil se ver torcendo pelas protagonistas, também. Embora tenham personalidades diferentes, as roteiristas não as transformaram naquele desafio clichê de mostrar que as diferenças se completam, pelo contrário: o que mostram é que as diferenças continuam existindo e se respeitam, sabem coexistir.
O romance que nasce entre Mel e Liz se distancia do drama que, geralmente, é apresentado em histórias sobre duas mulheres, especialmente porque elas têm consciência de suas identidades sexuais, não estão "se descobrindo", ou tentando validar suas identidades. Pelo contrário: justamente por saberem quem são que ultrapassam os limites que os cursos de suas vidas tomaram. Acredito que a personalidade de Liz se sobressaia de forma escancarada, mas a transformação de Mel, durante toda a narrativa, é algo incrível e encantador. Mel, apesar de firme, o faz de forma suave e mais vulnerável, no entanto, vemos a personagem florescer para defender o que sente por Liz. Mel, aliás, é uma peça central para muitas questões envolvendo a sexualidade e o machismo.
"Minha mãe nunca se conformou em ter um filho gay e uma filha bissexual". |
Logo no início da primeira temporada, descobrimos que Mel é bissexual - e sua identidade, infelizmente, é constantemente apagada e atacada durante os episódios. A bifobia é algo gritante na websérie, mas não de forma leviana: o espectador entende que é algo proposital, para pinçar a reflexão (embora tenha me provocado certo inconformismo). Justamente pela identidade sexual de Mel acho um apagamento horrível tachar a narrativa de "lésbica", uma vez que apenas uma das parte tem essa identidade. Se a bifobia aparece constantemente, o machismo, que parte do (ex-)marido de Mel, nasce aos poucos e, ao final, se torna abertamente óbvio.
A representatividade de RED não é invalidada, mesmo com todas as cenas bifóbicas e machistas. Considerando que a maioria das histórias - literárias e/ou audiovisuais - que foca em mulheres e, especialmente, no amor entre mulheres, tende a dramatizar e errar feio em estereótipos, a websérie oferece algo novo ao público: o amor é o verdadeiro tópico, não se limitando em colocar as personagens em caixinhas e em educar o público sobre amar sem culpa e sem amarras sociais. Aqui acompanhamos não somente o desenvolvimento afetivo entre Mel e Liz, mas o desenvolvimento pessoal de ambas. Não à toa existe muita humanização nesse desenvolvimento: é fácil notar que ambas são fortes em suas medidas, mas que não têm problema em se mostrar vulneráveis.
O romance entre Mel e Liz é algo resistente e equilibrado, ainda que suas personalidades não sejam complementares. É muito bonito ver como as diferenças são compreendidas, mas não aplacadas ou passíveis de mudanças.
As únicas ressalvas são as muitas cenas sexuais (pra falar a verdade, isso me incomoda em qualquer história) entre as protagonistas, assim como a forma com que as outras personagens também lésbicas como a Liz - e a própria Liz - se envolviam com outras mulheres de forma compulsiva (como demissexual, interações assim nunca fizeram sentido para mim, seja na ficção ou na vida real).
As únicas ressalvas são as muitas cenas sexuais (pra falar a verdade, isso me incomoda em qualquer história) entre as protagonistas, assim como a forma com que as outras personagens também lésbicas como a Liz - e a própria Liz - se envolviam com outras mulheres de forma compulsiva (como demissexual, interações assim nunca fizeram sentido para mim, seja na ficção ou na vida real).
Por ser uma websérie, os recursos são limitados, mas não dá pra retirar a maestria da produção. Ainda que a fotografia tenha me incomodado bastante, por causa dos closes exagerados e da falta de controle das distâncias de enfoque, o produto, de forma geral, é muito bem elaborada, carregando nas emoções, inserindo silêncios e apresentando pontos de tensão.
Algo impecável e que me encantou desde o início foi a trilha sonora, presente em todos os episódios. Por serem curtos, eles começam e terminam com uma única música, ou seja, para cada episódio é escolhido uma única música que, geralmente, conversa com o que é apresentado durantes aqueles minutos específicos. Assim como a trama, a trilha segue as nuances agitadas, introvertidas e vulneráveis.
RED é uma pequena parcela de uma representatividade que ainda engatinha, mas que se esforça para ser empática, para conversar com o público e para alcançar uma maior visibilidade para quem pouco se vê de forma verossímil em produtos audiovisuais.
RED é uma pequena parcela de uma representatividade que ainda engatinha, mas que se esforça para ser empática, para conversar com o público e para alcançar uma maior visibilidade para quem pouco se vê de forma verossímil em produtos audiovisuais.
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Quer começar a assistir RED?
Todos os episódios estão disponíveis gratuitamente pelo Vimeo :)
Olá, ainda não conhecia essa websérie. Muito legal sua análise da produção. Bom saber que é gratuita, quando tiver um tempinho vou assistir.
ResponderExcluirOlá, tudo bem? Não conhecia esta série, mas adorei tua dica! Não costumo assistir séries, mas para quem gosta e curte este gênero deve ser maravilhosa!
ResponderExcluirBeijos,
Duas Livreiras
Oi tudo bem?
ResponderExcluirSabe quando você termina um post dizendo para si mesma que precisa assistir essa série agora? Terminei o seu assim, nunca havia ouvido falar de read mas fiquei muito curiosa para conhecer a série.
Beijos
Que demais Nina, eu não conhecia essa série e já me senti bem atraída, parece ter sido uma beleza e tanto, ainda mais que tenha sido um texto que tu escrevestes tão fascinante e envolvente.
ResponderExcluirBeijinhos
Oi,
ResponderExcluirNão conhecia essa série, apesar de tratar esse tema diferente e tal infelizmente não me chamou muita atenção sinceramente. Deixarei para próxima.
Beijos
Raquel Machado
Leitura Kriativa
http://leiturakriativa.blogspot.com.br
Olá Nina!
ResponderExcluirNão conhecia sobre essa série. Gostei bastante do desenvolver de acordo com suas considerações, parece bem envolvente e trata de assuntos que ainda muitas pessoas ainda tem resistência no dia a dia.
Quem sabe um dia pegue para dar uma conferida.
Beijos!
Camila de Moraes
Eu ainda não conhecia e acho muito importantes falarmos sobre o tema atualmente, mas fico triste por saber que caiu nos esteriótipos. No entanto, continuo achando uma abordagem muito válida e gostei da sua indicação.
ResponderExcluirOi Nina, sou apaixonada por suas análises. Não conhecia a websérie RED e com certeza é algo que assistirei para ver como a temática é abordada, mesmo tendo alguns clichês como você colocou, outra fator que me impulsiona a assistir é a trilha sonora mencionada por você, pois sou movida a música.
ResponderExcluirBjo
Tânia Bueno
Oi Nina, não conhecia a série e por enquanto não me interessou. Entendo quando você cita sobre estereótipos em relacionamentos entre mulheres, mas isso não acontece apenas com mulheres, relacionamentos gays em geral são retratados assim, o que realmente é uma pena
ResponderExcluirBjs, Rose
Ah, sim, na verdade, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo ainda são construídos a partir de um reflexo heterossexual: alguém sempre será "a mulher" ou "o homem", por exemplo. Mas, na resenha, eu coloquei justamente o contrário: o romance delas não tem nada de estereotipado. Existem clichês narrativos, mas o plot romântico realmente passa bem longe do comum :)
ExcluirOii! Eu não conhecia essa websérie, mas achei o enredo interessante e com temas que nos fazem refletir. Fiquei curiosa para conferir, a sua crítica está muito completa. Obrigada pela dica, bjss!
ResponderExcluirNão conhecia a obra e achei muito interessante, acho que é um tema pertinente na realidade atual. Sendo sincera sobre o ponto onde a obra poderia ser desvalidada por obter o machismo e a bifobia não penso assim, eu acho que tem que ver o todo. Adorei a resenha e pretendo conferir a obra^^
ResponderExcluirOIiI!
ResponderExcluirQue bacana uma websérie... Faz muito tempo que não vejo uma. Gostei de conhecer Red e sua opinião sobre ela. Vou ver se consigo assistir um dia desses!
beijnhos,