Dicas para escritores: e agora?

Da última vez que dei dicas para escritores, tive a ilustre ajuda da Virginia Woolf, e já faz algum tempo. 

Como eu entrei novamente no processo de escrita, depois de um ano parada (exceto pela publicação de um conto), percebi que existe muita coisa nesse processo que, talvez, também agonie outros escritores ou aspirantes a escritores. 

É comum, mesmo autores e autoras com experiência, se verem meio empacados em meio de uma história que gostariam de escrever. 

Algumas pessoas não têm dificuldades com começos, outras têm - depende da ideia, dos personagens, da vida pessoal; muitos fatores contribuem ou atrapalham para que livros comecem a ser delineados. E sempre existe aquela pergunta, às vezes, desesperada: e agora, por onde começo? 

Coloco aqui que esse post não é um processo universal, muito menos regras que todos devem seguir. É o meu processo, mas nem tanto regras. Digamos que sejam um caminho. 

1. Esboce a sua ideia

Escritores e a mania de esquecerem de anotar frases, diálogos, detalhes. Acontece toda hora. Mas esquecer ideias longas - histórias que cabem num romance - pode atrapalhar extremamente o andamento da escrita. Então, que tal escrever uma espécie de ficha do livro, com informações básicas (descrição dos personagens, elevator pitch da história, resumo mais detalhado do enredo) e informações icebergs (aquelas que, talvez, apenas você saberá, mas que são valiosas na hora da construção tanto do enredo como dos personagens - os passados dos personagens, manias, detalhes da personalidade, livros preferidos, árvore genealógica, círculo de amizades etc).

2. Seja a personagem

Uma das coisas que mais aprendi enquanto escritora é que, assim como em tantas outras profissões, você precisa apurar informações, pesquisar dúvidas, conhecer de verdade o que quer abordar. A ficção não é mera imaginação, existe muito estudo por trás de uma boa história. E, para que o leitor entenda isso - todo o seu esforço por detrás de cada parágrafo -, você precisa também entrar no personagem. Ser a personagem. Escutar a personagem. E é só somente depois de todo o estudo que isso acontece, porque você já saberá, por exemplo, como a personagem pode agir em tal situação pesquisada. 

3. Seja você

Depois que você já entendeu o que a sua personagem quer, até onde ela pode chegar, é hora de saber o que você quer. É bem comum ter uma história nas mãos, mas não saber o que fazer com ela, mesmo depois de muito estudo e muito esboço. Uma boa dica é ser você. Você gosta de ir a baladas? Ler na sua cafeteria preferida? Ajudar animais abandonados? Use o seu tempo e suas atividades a seu favor mesmo na hora da escrita. Quem sabe não é daí que você vai entender melhor o propósito da sua história? 

4. Siga o seu ritmo

Ninguém está obrigando você a escrever (espero), o que significa que você não tem um deadline. Não deu para começar hoje? Não deixe a culpa dizer que você é um fracasso. As pessoas têm tempos e ritmos únicos, então, nada também de se comparar aos outros. Você é você. As palavras vão te encontrar quando for a hora.

5. Quebre regras

Neil Gaiman sabe há muito tempo que não tem nada mais desestimulante do que se obrigar a caber em regras (mesmo as suas regras). Você acha que esboços não funcionam muito bem? Tudo bem, pule essa parte. Mas, é sério, não pule a parte da pesquisa, por favor. Você gosta de não planejar cada capítulo, apenas ir no ritmo da maré? Vai em frente. Você quer escrever o final primeiro? Ótima ideia. Eu (e o Neil) só esperamos que você esteja fazendo boa arte com ou sem regras. 

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Love, Nina :)