Essential book: julho

Não sei se todo mundo sabe, mas amanhã (25) é comemorado o dia nacional do escritor. Como já saiu um tema sobre a essência do(a) autor(a) preferido em 2016, o tema para esse mês é focado no Brasil, com a essência do livro nacional preferido

Eu amo demais os livros nacionais contemporâneos, mas, desde os meus dezesseis anos, elegi Capitães da Areia, do Jorge Amado, como meu livro nacional preferido. Faz dez anos e, apesar de eu nunca o ter relido, meu sentimento em relação a essa história não mudou. Ainda é o meu preferido. 

O motivo principal de Capitães da Areia ser o meu livro preferido é que ele foi o primeiro que me fez refletir sobre consciência de classe, de cor e de diferentes contextos sociais. A obra foi escrita em 1937 e se passa na Bahia. Fazia menos de 50 anos que a escravidão tinha sido "abolida" no país, mas acontece que a gente sabe que pessoas negras nunca realmente pararam de ser tratadas como inferiores. Apesar de algumas coisas já terem mudado desde 1937, Capitães da Areia consegue trazer toda a solidão, a marginalização e a opressão de pessoas negras. 

E essa pungência racial é ainda mais dolorida quando percebemos que os personagens não são adultos, mas crianças e adolescentes que, infelizmente, não tiveram alternativas e oportunidades para serem diferentes de quem são. 



Acho que todo mundo que leu a obra se lembra da Dora, a única garota do trapiche. É incrível perceber todos os papéis que ela desempenha, que vão muito além dos relegados formalmente às mulheres. 

Ela é irmã, mãe e esposa, mas também é arma, resiliência e poder. De início, encontrou resistência para ser incluída nas participações do bando, mas o estereótipo de "sexo frágil" foi desaparecendo para os meninos depois de um tempo. 


Como falei, Capitães da areia foi escrito em 1937 e se passa na Bahia, um estado que, na época, continuava a passar por conflitos. Desde 1925, já enfrentava revoltas. Em 1935 houve a Revolta dos Malês e, no ano de sua publicação, a Sabinada, sendo esta a maior das revoltas históricas ocorridas na Bahia. 

O livro, então, transmite muito desse conturbado contexto histórico-social. O que se lê não é simplesmente crianças tentando sobreviver, mas todo um estado que tentava reagir às opressões e que buscava uma libertação dos estereótipos, das mazelas e do preconceito. 

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Links legais:
Racismo e desigualdade na Bahia (Geledés)
Campanha "Racismo. Como você enfrenta?" (Ministério Público do Estado da Bahia)
Um homem negro mudou seus looks para ver se as pessoas o tratariam de forma diferente (Buzzfeed)
Quem tem medo do feminismo negro (Valkirias)
A opressão que você não sente, a opressão que você não vê (Medium)


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O tema de junho foi
a essência de ser diferente
e você pode conferir AQUI.



Love, Nina :)

9 comentários:

  1. Ai, Capitães! É perfeito demais, esse é realmente inesquecível. Falar tb da questão racial nele é mto importante; ele é lírico, social, político e libertário, como só o Amadão sabia ser <3

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  2. Nina, eu nunca li esta obra. Mas ela foi tema de TCC da minha irmã (ela cursou letras), por isso ouvi bastante sobre a história. Apesar de já ter lido o autor (que inclusive adoro) nunca dei uma chance para esse livro. Porém amei saber o seu amor pela trama e o quanto ela significou pra vc. Racismo é um assunto que deveria ter ficado lá no passado, mas infelizmente AINDA EXISTE e a gente convive com isso diariamente. Acabei de ler um post sobre racismo no futebol.. agora encontrei sua publicação. Estou amando essa tema ser debatido =D


    Sai da Minha Lente

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  3. Ainda não li a obra - que está na lista. Fiquei com mais vontade depois desse post.

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  4. Olá!
    Já tem tanto tempo que li esse livro que não me recordo mais sobre a essência e tudo que o autor quis passar nessa trama.
    Preciso pegar pra reler e refletir sobre todos os elementos.
    No entanto, pela sua postagem não precisa entrar na leitura pra sabermos que tem muita coisa errada mesmo passado tanto tempo. Racismo, preconceitos de todas as formas deveriam ser abolidos, mas infelizmente nos deparamos diariamente seja em algumas leituras, no dia a dia e isso deveria ter um basta.
    Ótima postagem e que sirva de reflexão para as pessoas.
    Beijos!

    Camila de MOraes

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  5. Cara, que post maravilhoso! Eu já ouvi falar muito desse livro, mas confesso que nunca rolou interesse ao ponto de eu parar pra ler sinopse pra ver do que se trata, sabe? Mas agora lendo a resenha, eu só consigo pensar em como não dei uma chance pra essa leitura antes. Acho importantíssimo a gente tratar de assuntos como a desigualdade social (e se é importantíssimo na época em que a gente tá, imagina lá em 1937), vou ver se consigo esse livro emprestado pra realizar a leitura. :)
    Um beijão,
    Gabs | likegabs.blogspot.com ❥

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  6. Oi Nina, caramba não sabia que esse era o seu livro favorito e faz um tempão que eu fiz a leitura dele, não consigo mais lembrar o que eu pensei da história na época mas, por causa da sua bela explicação vou fazer a releitura dele com toda certeza e resenhá-lo no meu blog. Olha, fico triste porque perdi de fazer um post bem legal como o seu para comemorar essa data, parabéns pela ideia e obrigada pela dica literária.

    Beijos e Abraços Vivi
    Resenhas da Viviane

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  7. Oi, Nina! Achei interessante a proposta de seu post e gostei bastante. Eu já li Capitães da Areia e realmente ele mostra um cenário cheio de preconceitos com os negros e, de um modo geral, de outras minorias. Os pais de Dora morreram de bexiga, que na época era tão ruim quanto a lepra. Barandão era homossexual e não podia assumir porque era proibido no grupo.
    Gostei muito do seu post, matou um pouco a saudade desse livro.
    bjs
    Lucy - Por essas páginas

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  8. Olá Nina, adorei esse projeto e sua escolha do seu livro favorito, eu li Capitães da Areia na época que prestei vestibular, sem duvida é um livro que trata muito bem sobre o preconceito em diversas nuances.

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  9. Olá, tudo bem?

    Achei muito interessante a sua proposta, gostei bastante do projeto. Você acredita que eu nunca li "Capitães da Areia"?? Parece ser um belo livro, tenho vontade de ler. Eu também adorei as suas fotos, ficaram bem legais.
    Abraço!

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