Primeiras impressões: Dolls

Faz muito tempo que eu não fecho parcerias no blog, porque estava bem inviável conciliar as minhas leituras pessoais com as de autores parceiros, mas, assim que vi que Dolls, da A. S. Victorian, tem temática lésbica, não pensei duas vezes em fazer a inscrição na seleção proposta pela autora. 

Título: Dolls

Autora: A. S. Victorian

Ano: 2018

★★★★★ + ❤

Lendo a sinopse, a história me pareceu bem clichê, nada que eu já não tenha lido antes, e por isso não iniciei a amostra com tantas expectativas. E isso foi ótimo, porque os capítulos cedidos oferecem bem mais do que está escrito na sinopse e me surpreenderam muito. 

Eu não sou muito chegada às narrativas em terceira pessoa, porque não me fazem "entrar" na trama direito, acho impessoal e distante, mas Dolls conseguiu me fisgar, especialmente porque equilibra bem descrições com diálogos. E mesmo os sentimentos das personagens são muito evidentes, não soam superficiais ou endurecidos. 

Somos apresentados a duas meninas: Jaqueline e Edeline. Elas não poderiam ser mais diferentes. Jaqueline vem de uma família rica e poderosa, mas que tem valores bem deturpados em relação ao amor familiar. Adeline é mais simples e, apesar de o pai ter problemas com álcool, a gente entende que ela é amada tanto por ele quanto pela mãe. 

No início, Jack e Ede são crianças e a autora descreve bastante da dinâmica familiar de ambas. Depois de um acidente na escola, existe um flashfoward que contextualiza as vidas das personagens dez anos à frente, quando elas já têm dezessete anos e estão no último ano do ensino médio. 

Na adolescência, o leitor percebe que os problemas pessoais tanto de Jack quanto de Ede não mudaram, mas pioraram consideravelmente. É nessa época que conseguimos entender mais quem são as personagens, o que querem e qual a proposta narrativa do livro. 

Edeline passou alguns dias observando Jack. A cada segundo, juntava no peito toda coragem que possuía só para ela se dissolver no instante seguinte.

Posso adiantar que é uma leitura que quero fazer até o final. Apesar de, até agora (página 50), não ter rolado nada em relação à descoberta ou à confirmação das sexualidades das protagonistas, Dolls fala bem mais do que orientação sexual, que foram os motivos que me fizeram querer conhecer mais essa história. 

Por termos duas mulheres como personagens centrais, encontramos muita misoginia, machismo e violência. E a autora conseguiu tratar desses assuntos com responsabilidade, decência e sabedoria. Eles não estão jogados na trama, eles fazem parte dela. E, por eu ser mulher, eles me acertaram, me sensibilizaram e me enojaram de uma forma gigantesca. Eu só posso agradecer pela autora ter inserido esses temas, não somente porque é uma realidade, mas porque é necessário plantar debates e reflexões, coisa que ainda vejo muito pouco na literatura atual. 

A relação de Jack e Ede me lembrou a de Bianca e Giovana, do livro O furacão chamado ensino médio [Marcia Dantas], porque no início existe um estranhamento e algumas patadas, mas, num dado momento, elas começam a construir um laço de irmandade muito bonito. Eu adorei que a relação delas evolui para uma amizade de verdade depois de uma situação extremamente vulnerável e violenta (não vou contar, claro!), porque é aí que o leitor percebe que muito mais do que uma mera amizade, existe sororidade. E eu achei isso tão lindo e necessário! Mostra o quanto mulheres devem apoiar (e acreditar em) mulheres.

O livro é muito bem ambientado e delineado, mas algo me deixou confusa: o leitor não sabe onde se passa a trama. A autora não menciona país ou cidade. Existe uma coisa estranha, também, em relação aos nomes das personagens. Se considerarmos apenas os nomes das protagonistas, talvez possamos dizer que o livro se passa nos Estados Unidos, ou em algum país de idioma inglês. Mas temos  também nomes comuns brasileiros, como Carlos. Não entendi muito bem e me deixou bem confusa. 

Outra coisa que me incomodou também foi a revisão. Apesar de não ser constante, existem erros que, para uma pessoa bem atenta ao português, como eu, são difíceis de ser ignorados. Não sei se a amostra enviada não é a revisão final, ou o quê, mas erros de português sempre me irritam. 

Eu não sei por que a autora decidiu colocar o título em inglês, mas eu tenho muita resistência com essa renegação à língua portuguesa. Fico meio decepcionada com autores que não honram o que é nosso, especialmente a língua. 

Imagina se pudéssemos morrer no lugar que mais amamos em toda a Terra?

Mas, mesmo com essas ressalvas - que não atrapalham em nada a leitura! -, Dolls é uma história que não se restringe e levanta questões urgentes de uma forma incrível. Ela não idealiza a vida e acho que isso é uma coisa ótima, especialmente porque os problemas que assolam as garotas não são exagerados ou aquela sucessão de coisas tristes só para ganhar o leitor. 

Apesar de eu ter começado a leitura com zero expectativas, agora minhas expectativas estão bem animadas para continuar a ler sobre Jack e Edeline. 

~

Dolls, A. S. Victorian:

I. A versão física será lançada em agosto

II. Versão e-book

III. Playlist no Spotify

IV. Skoob

A. S. Victorian no Facebook.

Love, Nina :)