A arte de ser normal: sobre parar de se esconder e aproveitar a vida
Confesso que coloquei A arte de ser normal, da Lisa Williamson, no meu desafio de 2018 para o Leia Mulheres sem esperar nada, pois já tinha tido uma experiência não muito boa com Fera, que foi uma narrativa literária sobre a transexualidade que deixou a desejar e que, infelizmente, reforçou os papéis de gênero.
Mas em A arte de ser normal nada disso acontece e eu o li completamente apaixonada. Por nem mesmo ter lido a sinopse direito, o livro pôde me surpreender e me fazer ter uma leitura extremamente rápida.
Título original: The art of being normal
Autora: Lisa Williamson
Editora: Rocco
Páginas: 382
Ano: 2015
★★★★★ + ❤
Nessa obra temos dois personagens: David e Leo. Enquanto David está saindo da adolescência, tem uma família bem estruturada, Leo já está na adolescência, não conhece o pai e mantém uma relação horrível com a mãe. Apesar desse antagonismo, o clichê é maravilhoso e necessário, pois mostra o quanto apoio familiar é importante e como a ignorância sobre a transexualidade pode ser maléfica.
A vida de David, que coleciona referências femininas e que confere seu próprio corpo todas as noites, muda bastante quando Leo é transferido para a sua escola. Essa escola é mais de elite, então Leo, que não tem um poder aquisitivo bom e que, de fato, não mora num bairro "bonito", sofre com boatos. Todo mundo acha que ele é um transgressor sem coração, mas não poderiam estar mais longe da verdade. A relação dos dois garotos não é próxima no início, mas, conforme Leo destranca sua vida para David, permitindo-o ficar por perto para além das aulas particulares de matemática, vai nascendo uma amizade tímida e, posteriormente, muito importante.
É muito bonito perceber como o apoio de David, que não conhece muito da vida de Leo, é capaz de fazer com os pré-conceitos de Leo em relação a se manter perto das pessoas. Como Leo quer conhecer o pai e, num dado momento, acha que pode encontrá-lo, ambos partem para outro estado em busca desse homem.
Engraçado como o cérebro de cada um é programado de um jeito tão diferente, né?
A arte de ser normal suscita no leitor algo bem específico, que acho que apenas os YAs conseguem com mais facilidade: a empatia. Eu me identifico como uma mulher cis, mas eu pude completamente entender e me afeiçoar à temática, justamente por causa do desenvolvimento das personagens. Apesar de a história ser maravilhosa, isso se deve, especialmente, a quem a está contando. Leo e David têm capítulos intercalados, o que ajudou a construir a personalidade de ambos. A maneira como cada um age e mesmo fala serve para que, a cada novo capítulo, saibamos quem está falando.
Aqui fala-se de amor romântico, mas não como o esperado. Cada personagem tem o seu próprio núcleo de histórias paralelas, as quais acabam afetando todo o enredo. E é muito legal perceber, inclusive, que o amor romântico não é a peça central da trama, isso me fez ficar ainda mais feliz. Não sei dizer o que mais me cativou, mas, com certeza, a maneira com que a autora conseguiu falar sobre o tema de forma menos estereotipada que a maioria das histórias, com certeza é uma dessas coisas.
A autora, felizmente, entende melhor o que é a transexualidade e, pro isso mesmo, não se dedica a falar exaustivamente sobre ela e não pretende escrever um "manual" sobre como ser transexual. Diferentemente de Fera, não há papéis de gênero ou mesmo uma estereotipagem sobre o que é ser mulher e o que é ser homem, uma vez que esses conceitos não são fixos e imutáveis. A arte de ser normal consegue ser responsável, lindo e muito cativante, não importando se você tem ou não familiaridade com o tema, já que muitas vezes você se pega aprendendo com o livro de um modo muito natural.
– Mas normal é uma palavra idiota. [...] O que significa, afinal?
Eu amei absolutamente tudo nesse livro e o recomendo para todos, sem exceção. Ele é um passo importante na literatura, pois desmistifica o que é ser transexual e o entrelaça com o amadurecimento, demonstrando que a transexualidade não é uma doença que, de uma hora para outra, se manifesta nas pessoas desse grupo. Falar sobre gênero e falar de sua desconstrução é sempre necessário e a obra cumpre muito bem isso também.
Love, Nina :)
Aquelas resenhas que só aumentam a nossa vontade de ler um livro! Adorei! <3
ResponderExcluirLembro de ter visto o Paulo do livraria em casa falar sobre esse livro, fiquei muito curiosa para conhecer mas acabei esquecendo dele totalmente, fico feliz por ter dado de cara com a sua resenha, obrigada por isso!
ResponderExcluirUau!
ResponderExcluirNão conhecia o livro, e já acho maravilhoso! Parece um livro muito bem escrito e trata de um tema muito importante, desmistificando o que é ser transexual com muita responsabilidade. Adorei!
Oii!
ResponderExcluirNão sabia nada sobre esse livro ainda, mas adorei saber que fala sobre transexualidade. É difícil achar livros com esse tema, pelo menos até agora só li o Fera mesmo. E que bom saber que essa obra consegue desenvolver melhor o assunto.
beijos
Olá,
ResponderExcluirEsse livro é bem diferente em vários aspectos e falar sobre um assunto bastante importante para ler não sabia do que o livro se tratava vou anotar a dica
Adicionei na minha lista de desejados e quero ler ano que vem. Gostei do assunto abordado e fiquei curiosa para saer como foi trabalhado na história. <3Sua resenha ficou sensacional, obrigada pela recomendação de leitura.
ResponderExcluirSai da Minha Lente
Oi, Nina! Curti muito a premissa do livro e suas impressões, acho que é uma leitura mais que necessária, ainda mais nos dias de hoje, com tantas (des)informações sendo passadas inconsequentemente. Parabéns!
ResponderExcluirBjs
Lucy - Por essas páginas
olá, Nina. já tinha visto algumas resenhas da obra na blogosfera, e apesar de achar extremamente importante discutir essa temática, não senti vibe pra fazer a leitura... bacanas as suas impressões sobre o livro e pelo fato de ter sido melhor aproveitado que a leitura anterior da autora...
ResponderExcluirbjs...