Famílias invisíveis: um pouco de tudo

Recebi a coletânea Famílias Invisíveis pela Lorena Miyuki, do Marcado com letras, que organizou um book tour do livro. 

Eu não sabia exatamente o que esperar, apenas sabia que eram textos LGBT+ e, pela temática me interessar, tinha a sensação de que iria gostar da leitura. Não foi bem o caso, pois me senti incomodada com algumas coisas e, na verdade, os textos, de forma geral, pouco me tocaram.


Título: Famílias Invisíveis
Organizadores: Daniel Galvão Borges, Darlan Carling von Dollinger 
e Thiago Alves da Silva Costa
Editora: Crivo
Páginas: 64
Ano: 2018
★★★

A coletânea, organizada por três homens, tem uma abordagem boa, mas nada inovadora. É claro que ainda é difícil encontrar textos direcionados para a temática, mas pela popularização, posso dizer que falar sobre sexualidade e gênero não é mais como tentar encontrar algo "proibido". 

O direcionamento sobre famílias também não é inovador e alguns textos simplesmente tratam da sexualidade, então não entendi o que fazem ali, pelo tema mais aberto. Temos bastantes poemas e crônicas e alguns mini contos. De forma geral não consegui me conectar de verdade com nenhum deles, apenas com frases soltas. Alguns textos são bem criativos, mas confusos. 

A sensação que tive foi estar lendo textos amadores de pessoas que, apesar de conhecerem sobre o tema, não sabiam como transformá-lo em algo literário. A própria coletânea tem um pouco disso, já que peca na revisão e na formatação. 

Apesar disso, gostei de sete textos: "Prazer, sou LGBT!", que fala sobre todas as identidades de gênero e sexualidade, marcando bem suas violências restritas (achei bem atual e didático); "Descanse em paz, meu amor", que exprime sobre como a violência terminou com a vida de uma pessoa LGBT (achei bem sensível e triste); "Decifrando o amor", que narra sobre a vida de um homem que tem dois pais (atual e bonito!); "Café com Miranda", que foca num senhor gay vivendo num asilo (adorei pela visibilização); "Sou homem", um poema que fala que ser gay efeminado não é deixar de ser homem (gostei demais de uma estrofe dele); "Plateia particular", que também fala sobre famílias destradicionais, no caso constituída por dois pais (é o meu texto preferido, pois foi fácil lê-lo sem estranheza); e "Alzheimer", que fala se forma sutil sobre o alzheimer, mas também fala sobre aceitação e amor (achei sensível e tocante). 

Ainda que a coletânea passe a ideia de diversidade, não foi isso que vi. Cada autor/a é identificado/a no topo, levando sua orientação sexual e identidade de gênero. E o que notei foi que a coletânea foi majoritariamente composta sobre homens cis gays. Se isso já não fosse problemático o suficiente, não tem absolutamente nenhum texto de uma lésbica. Ou seja, o que li foi, na verdade, mais apagamento do que visibilidade. Como sempre, os gays têm mais voz frente à comunidade, coisa que já acontece em muitas ocasiões dentro do movimento. Por conta disso, acabei desgostando da coletânea como um todo. Achei que foi um produto bem pensado, mas muito mal executado e muito frustante frente aos leitores. 

Foi uma experiência diferente, mas não a repetiria. Para quem conhece e gosta da temática não recomendo, pois é capaz de se decepcionar assim como eu me decepcionei. 

luto / para ser / o homem que sou / não preciso aprender / a ser homem.

Love, Nina :) 

9 comentários:

  1. A frase que você finalizou a resenha e incrível, apesar de que muito pontos dessa obra te incomodaram, e concordo com vários deles, como por exemplo o fato de não ter incluído nenhuma mulher, outro fato de que acaba excluindo do que incluído. Que ao meu ver seria a proposta da obra. Confesso que tenho vontade de me aprofundar sobre o assunto e em um primeiro momento me senti interessada pela obra, mas por fim fiquei com bastante receio.

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    1. Oi, Lana. Existem mulheres publicada, sim, mas nenhuma delas foi identificada como lésbica.

      Love, Nina.

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  2. Oii, tudo bem?

    Nossa, quando comecei a ler sua resenha eu fiquei bem interessada pela leitura, mas depois que você citou os problemas na obra, fiquei bem desanimada. Acho que só o fato de a obra ter excluído mais que incluído, que primeiramente era a proposta, me faria não ter vontade de ler, e isso sem contar com os textos meio confusos e etc.

    Beijinhos!!

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  3. Adorei a sua sinceridade! Quando eu vi o livro a primeira vez eu achei que seria uma boa leitura, mas pelo que vi aqui na sua resenha eu também me decepcionaria e por isso acredito que eu não darei uma chance à obra.

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  4. Oi, tudo bem? Não conhecia o livro mas achei a premissa diferente. Uma pena não ter funcionado pra você. O bom de ser leitores é que estamos suscetíveis a gostar ou não dos títulos que lemos. As vezes acontece de não dar certo mas sempre aprendemos algo. Quem sabe a próxima leitura seja mais prazerosa. Beijos, Érika =^.^=

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  5. Olá Nina!
    Eu particularmente nunca li sobre a temática LGBT+ pois me sinto muito pensativa quanto a possível frustração com a narrativa. Eu acho que quando recebemos algo, sempre estamos propícios a gostar ou não, e acho bacana você expor sua opinião sem pudores. Foi objetiva e assertiva com suas emoções pela obra.

    Mas concordo que, um livro sem formatação e revisão, como devem ter, já é um ponto bem difícil de lidar... Eu sou bem chata nesses detalhes.

    www.palavrasambulantes.com.

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  6. A questão que você levantou é muito interessante, é uma pena um livro que diz falar sobre algo de forma ampla, no fim acabe deixando algo igualmente importante de lado. :/ Apesar disso fiquei curiosa para ler os textos. Adorei a resenha.
    beijos

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  7. Também participamos desse booktour e a nossa colunista que o leu realmente ficou bem tocada pela história. Uma pena o livro não ter abrangido mais.

    Debyh
    Eu Insisto

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  8. Boa noite. Que bom que uma das histórias que gostou foi Café com Miranda. Sou o autor dela. Obrigado!

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