Antes do horizonte
Ciclo é uma palavra que pode definir uma vida. Passamos por processos necessários para chegar onde se quer e onde se consegue. Eu estou fazendo como posso, como bem aprendi em 2017. Às vezes é muito difícil, porque significa ter de olhar para coisas que já não importam tanto, mas que ainda são parte de mim — porque a gente cresce e as coisas se transformam. A gente se transforma.
Passar por um ciclo às vezes pode ser doloroso. Pode ser que acabe com a gente por um período, três dias ou cinco anos. É como se esquecer de quem é temporariamente para descobrir quem é a pessoa que vai aparecer quando tudo finalmente se ajeitar. Existem ciclos felizes, que nos dão asas no peito, brilho nos olhos e uma vontade de correr atrás das borboletas. Acontece que — por acidente — espantamos todas as borboletas uma hora e a floresta fica vazia.
Eu não sei como te dizer que crescer é como um soco no estômago: a gente tem que deixar coisas importantes para trás para procurar por nós mesmos; tem que escolher o que menos vai nos ferir; tem que escolher deixar ir embora as coisas bonitas que apareceram. Vão existir as coisas bonitas que ficam, a mão que afaga, as situações que não queremos abandonar, sim.
Mas acontece que, na verdade, tudo vai embora. A gente tá indo embora. Todos os dias, a gente precisa pegar um caminho para esquecer mais ou menos o que nos cerca. Busca um novo emprego para esquecer o antigo, busca um novo hobbie para esquecer o quanto a rotina nos machuca, busca liberdade para deixar que a felicidade nos lembre que podemos ter aquilo que precisamos.
A vida é um caminho rumo à água que nos trouxe até aqui. A gente sempre sabe como voltar para casa, acontece que sem os ciclos não saberia reconhecer nossas melhores e piores partes. Não saberia correr da escuridão ou aceitá-la de vez. Não saberia por que é importante saber partir quando se é necessário. Eu sei que difícil ter de ir, porque nem sempre encontramos as palavras certas para transmitir e entender as diferenças entre quem somos e quem fomos.
A gente não é a mesma pessoa o tempo inteiro. Eu não sou a mesma — e isso é ótimo, porque nos livra das nossas piores coisas. Às vezes significa que não cabemos mais nos sonhos que tínhamos, ou que não podemos mais amar como antes, mas também significa que agora saberemos escolher e permitir melhor.
Vamos saber entender melhor a luz. Vamos saber entender melhor que não dói mais como antes.
Às vezes isso é necessário: ser cíclico para processar melhor quem somos, o que queremos e o que não mais queremos. Saber escolher o não pode ser mais importante para sobreviver. A coragem precisa ser maior. Saber renunciar é se reconstruir também. É carregar um coração mais leve, sabendo que se fez o possível.
Você fez como pôde. Soube escolher o que pôde.
Olhar para trás é dizer adeus a quem você já foi um dia, mas também dar oportunidade para enxergar o horizonte como ele realmente é: brilhante, mais bonito do que você jamais viu.
Esse novo ciclo é seu. Esse novo amor é seu.
As borboletas vão voltar, a floresta vai florir e você saberá dizer sim.
O horizonte vai te guiar.
Imagem: eberhard grossgasteiger.
Love, Nina :)
Q texto lindo!
ResponderExcluircara, eu tenho uma dificuldade imensa em amadurecer, entender que um ciclo acabou e que vai vir uma nova Bianca sabe?! Eu nunca lidei bem com isso, mas tô vendo a cada dia que passa que isso é necessário, que a gente precisa dessas mudanças pra poder se achar. Seu tecto refletiu tudo que eu tô sentindo, real mesmo. Muito obrigada por isso, Nina!
ResponderExcluirCrescer pode ser difícil é doloroso, principalmente em nossa sociedade que vai rompendo com os rituais de transição. Texto maravilhoso.
ResponderExcluirP.s.: escreve um livro de crônicas
ResponderExcluirQue texto lindo, me emocionei muito lendo ele, porque estou basicamente vivendo isso um misto de sentimentos e decisões de mudanças para um novo ciclo, adorei sua escrita.
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