Irmandade: o colapso do sistema prisional brasileiro

novembro 16, 2019
Vamos ao segundo post voltado para o Mês da Consciência Negra? :)

O Brasil tem a quarta população carcerária do mundo, contando com mais de 600 mil pessoas. Segundo pesquisas, o crescimento dessa população triplicou nos últimos 16 anos. Isso, claro, afeta o espaço disponível nos presídios: onde deveriam existir oito pessoas presas, são acomodadas treze. Além disso, 75% dos presos são homens negros, então temos aí uma situação assintomática de, também, condição social, educação precária e privação de direitos fundamentais. 


Título: Irmandade
Temperadas: 1 (até o presente)
Ano: 2019
Onde assistir: Netflix
★★★★★

É falando desse assunto que Irmandade conquista o espectador. Num país que acha que "bandido bom é bandido morto", o seriado nos ajuda a entender sobre nós mesmos. Sobre como queremos justiça retirando direitos, ao invés de buscar na educação e na reabilitação essa justiça. No fundo, eu sei, a maioria acredita que bandido não tem salvação. É por isso que Irmandade é tão importante: mostra as várias faces de um sistema falido, protagonizado justamente por aqueles que não têm voz.

O seriado acompanha Cristina, uma advogada que teve o irmão mais velho preso nos anos 70. Ela ainda era uma criança na época e, por causa do pai, acaba rompendo os laços com este irmão preso por tráfico de drogas. Mas acontece que vinte anos depois, em 1994, ela reencontra o irmão a partir de um documento sobre seu julgamento. Acaba indo a uma audiência e percebe que precisa ajudar o irmão a, pelo menos, ter uma vida mais digna dentro do presídio. 

Edson é o preso que, junto com Carniça, fundou a Irmandade, uma facção que pede por mais direitos aos presos. Ele convive com a tortura dentro do presídio e não é uma pessoa resignada. Como ele nunca colabora com o diretor do presídio, acaba sofrendo consequências desumanas. 

Cristina, então, falsifica a assinatura da chefe dela num documento que pede a averiguação dos direitos humanos onde Edson está preso. Edson acaba voltando para a cela, mas Cristina é descoberta e acaba presa. Aí é que tudo muda: o delegado diz que, se ela cooperar em destruir a Irmandade, ele a livra da cadeia. Relutante, ela aceita e é assim que, aos poucos, ela se infiltra na Irmandade. 

Eu amei demais o seriado, nem sei como expressar direito o que eu senti durante os episódios. Ele é muito bem desenvolvido, sem deixar pontas soltas, e atinge a gente de uma forma violenta. A crueza das cenas é algo de tirar o fôlego, especialmente naquelas mais pesadas. Há muita tensão, mas também cenas mais leves, que nos mostram que bandido é gente: se apaixona, quer fazer o certo, quer ter um futuro. 

Apesar de se passar na década de 90, Irmandade reflete muito bem os dias atuais. Fala sobre como é assintomático que o sistema não mais funcione e como há um cabo de guerra entre presos e autoridades. Mostra, também, como a política faz parte deste problema, que acha que assegurar os direitos humanos é coisa de quem não está apto para acabar com o crime. No presídio retratado não há absolutamente nada de humano: a reabilitação social passa longe. E isso acarreta no depois: 70% dos presos voltam a cometer crimes e são presos de novo, ou seja, é um ciclo que não tem um fim. 

Irmandade também dá protagonismo às mulheres, pois Cristina e a esposa de Edson, a Darlene, do lado de fora são as mandantes de muitas ações. Cristina, apesar de estar dividida, dá muitas ideias para a facção e acaba por se tornar uma "cabeça" dentro desse sistema. A protagonista é uma mulher incrível. Apesar de ela fazer muitas escolhas erradas, o espectador acaba torcendo por ela e pelos criminosos. A humanização é linda, pois nos proporciona conhecer as personagens e, no fim, acabar torcendo para a vitória delas. 

O seriado me conquistou logo de cara e é impossível parar de assistir, mesmo que os episódios sejam meio longos (mais de 40 minutos). A atmosfera criada é perfeita e a trilha sonora ajudou muito na hora de o espectador se colocar na cena. E o que falar do casting? Todos perfeitos, passam muita verdade na atuação. 

Por tratar de um tema tão pesado, você também verá cenas pesadas, especialmente de violência corporal. Eu sou extremamente sensível para cenas assim, mas talvez por isso me tocou tanto. A gente reflete sobre como o Brasil está se encaminhando para um ponto onde não tem mais volta, no qual os direitos são retirados por mera opinião (sendo que os direitos humanos não são uma questão de opinião, não é você quem decide quem deve tê-los; ele é universal, ou seja, todas as pessoas, independentemente de quem são, devem tê-los). 

Se você quer pensar mais sobre a atualidade e sobre o Brasil, assista, pois não vai se arrepender! Eu amei e estou l-o-u-c-a pela próxima temporada, mas a Netflix ainda não anunciou nada sobre isso. 

~

Links legais: 


Love, Nina :)

4 comentários:

  1. Um assunto importante este! Acho mesmo que discutir sobre os direito humanos seja algo importantíssimo. Precisamos urgente procurar uma forma de educar e criar oportunidades! Porque tem muita gente sofrendo. Tanto do lado dos que não tiveram oportunidade e são marginalizados, quanto do lado dos que tem um pouco mais de oportunidade e dão duro para conquistar algo na vida.

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  2. Admito que eu só estava esperando um "empurrãozinho" para começar a assistir essa série, pois desde que vi que estava na Netflix fiquei curiosa para saber sobre o que se tratava. Atualmente eu estou correndo de séries com episódios longos, mas acredito que se a série trata de um assunto tão importante e atual devemos, sim, dar uma chance, inclusive já a coloquei na lista para assisti-la futuramente. Ótimo texto, Nina!

    www.sonhandoatravesdepalavras.com.br

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  3. Olá,
    Eu realmente raramente vejo série brasileira, eu prefiro séries de comédia ou coisas mais leves, então não é uma indicação pra mim. Mas sempre bom apoiar produções nacional.

    Debyh
    Eu Insisto

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  4. Como eu não tinha visto essa série no catálogo da Netlfix ainda??? adorei a indicação e vou correr para adicionar na minha lista, tenho certeza que vou gostar muito!

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