Helena: um romantismo brasileiro
Ganhei Helena, do Machado de Assis, em 2016. Até este mês (novembro), eu tentei lê-lo duas vezes e nunca saía das páginas preliminares.
Muitos dizem que ler Machado é coisa difícil, que cansa, que é chato. Pessoalmente, eu não acredito muito nisso, porque sou do tipo que também gosta de se aventurar pelos clássicos. Apesar de Machado passar bem longe de autores clássicos que eu me identifico, é inegável que seus livros deixaram um legado interessante.
Escolhi Helena para integrar o Mês da Consciência Negra porque Machado era descendente de escravos, portanto, negro. Ainda que até hoje não se saiba se ele renegava mesmo sua ancestralidade, acho que é um momento oportuno para reconhecermos que pessoas negras sempre produziram conteúdos literários, mesmo em situações desfavoráveis, como era o caso de Machado.
Pobre, nascido no Morro do Livramento, em 1839, no Rio de Janeiro, Machado de Assis viveu durante o "fim" do sistema escravagista no Brasil. Mesmo que não tivesse um padrinho a quem pudesse recorrer, ele conseguiu ascender socialmente por conta própria, trabalhando como jornalista, poeta, tradutor e dramaturgo durante a década de 1860. Na década de 1870, dedicou-se à crítica e à prosa narrativa, que não largou em 1980, produzindo romances, contos e crônicas.
Helena foi lançado em 1876 em folhetim. Foram 34 edições no jornal O Globo, entre agosto e setembro. Em outubro, o autor lançou o livro em alterações. Nesta época, ele já era bastante popular.
Título: Helena
Autor: Machado de Assis
Editora: L & PM
Páginas: 223
Ano: 2015
★★★
Helena é um livro curto, sem muitas reviravoltas, que expressa muito do movimento artístico Romantismo. Duas características são muito visíveis nele: o pessimismo e a crítica social.
A narrativa se inicia com a morte do conselheiro Vale, 1850. Descobre-se que ele teve uma filha fora do casamento e que seu desejo é que ela, chamada Helena, more com a família, composta por Dona Úrsula (irmã) e Estácio (filho). Dona Úrsula não gosta da ideia, mas Estácio aceita Helena. A garota, que tem 17 anos, sai do colégio e vai direto para a casa nova.
Boa parte do livro é sobre como Helena se adapta à nova casa. Dona Úrsula, a princípio, não consegue aceitar a garota, mas, após uma situação específica, demonstra abaixar a guarda. Estácio, pelo contrário, se afeiçoa à Helena logo de cara.
Um ponto muito bom sobre o livro é o desenvolvimento das personagens. Apesar de a história ser meio enfadonha durante boa parte do tempo, é fácil gostar dela por causa de suas personagens. Helena é descrita como alguém "espírito livre", uma "andorinha viajante", por não ser uma garota caseira. Apesar de muitas cenas ao ar livre, com conversas estimulantes, eu achei Helena uma personagem meio apática. Ainda assim, ela não é o estereótipo da garota perfeitinha e boazinha à espera de um príncipe encantado. Helena não faz o que esperam dela, é uma moça culta e muito curiosa. Já Estácio é alguém equilibrado, mas que não apresenta ambições ou habilidades. Ele é desperto pela meia-irmã, começa a fazer coisas diferentes por causa dela e gosta de sua companhia. Durante boa parte da narrativa, Estácio revela o óbvio, mas, aos poucos, o leitor começa a duvidar de suas palavras e ações.
Na verdade, tanto Estácio quanto Helena não são personagens confiáveis. Helena é vendido como um romance de amores proibidos, ou seja, em algum momento o leitor sabe que vai se deparar com emoções adversas das personagens. O interesse de Helena por Estácio é menos visível, porque ela sabe camuflá-lo muito bem com ações e dizeres contrários, como insistir que Estácio se case com sua namorada. No entanto, é mais óbvio o amor de Estácio por Helena, pois o ciúme é um sentimento bem recorrente nele, especialmente depois que um amigo retorna de viagem e se interessa por Helena.
A crítica social é bastante frequente. A maioria das personagens liga para condições sociais e não se interessa por política. São personagens bem desenvolvidas de um vazio consciente, de uma futilidade bastante característica.
É mais para o final do livro que a narrativa tem uma reviravolta grande, mas previsível (pelo menos pra mim). Essa reviravolta sai da comodidade da trama e promove o pessimismo. Quem reconhece tramas românticas, sabe o que vai acontecer no final. Apesar de Helena ter um desfecho bastante típico, ele também é chocante, pois esvazia o sentido da narrativa.
A linguagem é rebuscada, por vezes exagerada. Descobri muitas novas palavras durante a leitura, o que foi bastante legal. Esta edição pocket traz anotações, linha do tempo, biografia do autor e um panorama sobre a vida cotidiana da época, o que dá ao leitor uma compreensão melhor do que se está sendo dito.
Helena não é um livro difícil, é bastante agradável e inteligente. Há nuances dele que nos faz refletir sobre a sociedade e nos faz perceber que, por mais que um século nos separe da época em que o livro foi escrito, ele continua atual com suas críticas. Só não gostei mais dele, porque achei-o previsível, ainda assim é uma leitura interessante que reflete sobre as mulheres, o status e o amor.
Não se deliberam sentimentos; ama-se ou aborrece-se, conforme o coração quer.
Love, Nina :)
Oi Nina!
ResponderExcluirEu não diria que clássicos são difíceis de ler, para mim eles são enfadonhos demais, como você mesma disse há uma linguagem rebuscada em exagero e isso é cansativo, mas não difícil. Machado adorava lançar livros que provocavam desconfiança né? Vide Dom Casmurro até hoje o debate para saber se Capitu traiu ou não kkkkk. Mas achei bem interessante a premissa desse livro que sinceramente nem sabia da existência. Seu um dia me sentir inspirado o lerei.
Beijos!
Eita Já Li
Nossa! Esse livro me lembrou das leituras que fiz enquanto estava no ensino médio. Gosto de alguns clássicos, porém são raros os da literarura brasileira que me marcaram. Já dá nova geração de escritores acho que tem bastante coisa boa que foi e está sendo publicado.
ResponderExcluirOs clássicos nacionais eram de leitura obrigatória onde eu estudei boa parte da minha vida e por ser obrigatório, na maioria das vezes não eram nada prazerosos. Não falo nem de linguagem rebuscada, muitos clássicos que aprecio da geração "morta", foram apreciados depois que li sem obrigação e com vontade própria.
Conheço o livro em questão e já o li duas vezes. Uma na época de escola e outra recente no segundo curso de graduação que estou fazendo. Tem um tema relevante, mas não é nada que eu tenha me encantado demais! Algumas pegadas que Machado de Assis lança em seus livros, como dualidade nos personagens e também algumas dúvidas que ele planta, são sem dúvidas interessantes, mas ainda assim não são livros preferidos que eu tenha lido, se é quee entende?!
Gostei bastante do artigo de hoje, sempre estou aqui acompanhando seu blog. Tenho aprendido muitas coisas legais aqui e te agradeço por compartilhar...
ResponderExcluirBeijos 😘.
Meu Blog: Melhores da internet: dicasdaweb.net
Olá, tudo bem?
ResponderExcluirConfesso que a obra está bem fora da minha zona de conforto, mas achei bem interessante o post e irei anotar a dica para uma leitura futura.
Um beijo.
Eu preciso ler mais obrar do autor <3
ResponderExcluirE estou com planos para fazer isso ano que vem. Ainda não li esse clássico, mas sei que foi trabalho da minha irmã na faculdade e acabei pegando um pouco da história no ar e agora essa resenha <3 Preciso conhecê-la
Sai da Minha Lente
Olá,
ResponderExcluirEu li este livro da época de escola, e sinceramente não me lembro quase nada da história, creio que para idade que eu tinha só achei tudo chato, mas isso faz tanto tempo que hoje em dia provavelmente eu pensaria diferente quanto a essa história.
Debyh
Eu Insisto
Que interessante, Nina! Do autor apenas li Dom Casmurro, mas adorei! Gostei bastante da forma como ele cria personagens e debates insistentes. Tenho uma "meta de vida" que consiste em tentar ler todos os clássicos brasileiros e Helena está na lista, por isso gostei muito de ter contato com essa sua resenha. Vou com um pé atrás, pois os pontos ressaltados provavelmente não agradarão a mim também, mas espero que seja uma leitura agradável.
ResponderExcluirwww.sonhandoatravesdepalavras.com.br
Oi, tudo bem? Ler obras nesse estilo pode ser desafiador para algumas pessoas ainda mais pela linguagem rebuscada. Lembrei de quando fiz cursinho pré-vestibular e logo no início não curtia muito livros do gênero. Mas meu professor era tão bom que quando dei por mim já tinha lido vários indicados por ele. Um dos meus favoritos é Dom Casmurro. Gosto também de Memórias de um sargento de milícias. Mas Helena ainda não conhecia. Um abraço, Érika =^.^=
ResponderExcluirOlá, tudo bem?
ResponderExcluirEu confesso que não recordava desse livro do Machado de Assis, então é praticamente como um primeiro contato. Eu sei que o Machado apresenta uma linguagem mais rebuscada, mas isso não é um problema ao meu ver. Gostei da publicação/resenha, ficou bem completinha.
Abraço!
Se eu ouvi sobre esse livro, faz muito tempo. Machado de Assis é um clássico, né? Me recordo da época de escola que precisava ler suas obras. Enfim, Helena parece interessante, apesar de ser bem desafiador por conta da narrativa. O fato da personagem ter cativado bastante, isso faz com que a gente se prenda na obra. Gostei da sua resenha.
ResponderExcluirBeijos,
Blog PS Amo Leitura