Garotas tristes: crescimento e complexidades emocionais

março 19, 2020
Eu queria ler Garotas tristes, da Lang Leav, desde que ele foi lançado em inglês, então fiquei feliz demais que a Globo Alt decidiu traduzi-lo no ano passado. Comprei-o no fim de 2019, mas fui lê-lo somente no final do mês passado. E vou te dizer: ainda nem sei como vou escrever essa resenha de tanto que esse livro me proporcionou!


O livro começa com Audrey dizendo que seus ataques de pânico começaram assim que ela contou uma mentira sobre uma colega de aula que, dias depois, aparece suicidada. Esse começo já é forte o bastante, especialmente porque a personagem acredita que o motivo de Ana ter se suicidada foi sua mentira. Então, vemos Audrey no velório de Ana e é aí que as coisas começam a mudar. Ela conhece o ex-namorado de Ana, Rad, alguém que a tira desse entorpecimento emocional. Audrey e Rad começam a se ver cada vez mais, e a garota tenta cessar os boatos sobre eles, especialmente porque ela tem um namorado possessivo e ciumento.

Mesmo em meio aos sentimentos contraditórios, é inegável que o leitor comece a torcer para Audrey e Rad. Ele parece um cara sensível, amoroso e infinitamente apaixonado por conversas íntimas, o que deixa Audrey cada vez mais ligada a ele. Ela sente como se ele fosse a única pessoa que a entende e, claro, não consegue controlar o que sente por ele.

A protagonista tem duas melhores amigas, a Lucy e a Candela. O trio é bem unido, mas a vida acaba acontecendo. Candela parece ter tido alguma relação afetiva com Ana, o que a leva a uma depressão e a caminhos tortuosos. Audrey também precisa lidar com os ressentimentos familiares, especialmente vindo de sua mãe, alguém que quer a todo custo controlar a filha.

É profunda a maneira com que a autora trabalha seus personagens, suas falhas e seus âmagos. A relação deles, também, é muito certeira. Durante a narrativa, Garotas tristes apresenta relacionamentos tóxicos, saúde mental e a complexidade das emoções.

O modo como a autora tratou da ansiedade, para mim, foi extremamente importante, pois vemos Audrey ter ataques de pânico por coisas mínimas, conferindo à personagem uma profundidade inegável. O modo como a saúde mental apareceu, incluindo as sessões de terapia, soou extremamente real e significativo. Como alguém que convive com problemas psicológicos, posso dizer que não há romantização e que é tudo muito vívido e doloroso como esse tema acontece no livro. Numa sociedade em que os jovens estão cada vez mais desenvolvendo problemas psicológicos de muitas naturezas e cada vez mais cedo, é necessário que um livro dialogue com o tema de maneira franca e aberta.

Outro ponto muito positivo foi a maneira com que a autora tratou do amadurecimento das personagens. Todas são vistas saindo de casa em algum momento, buscando independência. Isso se relaciona muitíssimo com a juventude que não quer mais estar calada pelos pais, vivenciando seus ideais por conta própria. Como alguém que ainda não conseguiu ter o seu próprio cantinho, esse tema bateu em mim como um tapa na cara, fazendo-me perceber que a independência é muito mais do que meramente sair de casa. Na trajetória de Audrey, por exemplo, acompanha-se um amadurecimento emocional que, obviamente, envolve o conceito espacial, mas deve-se, especialmente, ao modo como ela se relaciona consigo mesma a partir dos outros. Ela precisa entender uma infinidade de novos sentimentos e novas emoções, o que a leva, a cada cena, a um passo longe de quem ela achou que queria ser.

A narrativa é envolvente e fracionada, o que me faz pensar que se relaciona muito com a ansiedade da protagonista. A profundidade como as emoções são desenvolvidas e expostas, com certeza, é o ponto mais incrível do livro. A autora conseguiu trazer uma complexidade vasta em seus personagens, dificilmente vista na maioria das narrativas YAs. A leitura é quase poética e quase sempre, tem um trecho que você para e pensa: puta merda, é isso! A sinceridade com que a autora tratou e atacou o amor, de diferentes níveis, é sensacional e nos faz somar aprendizados incríveis.

Em Garotas tristes, você sempre fica esperando alguma coisa ruim acontecer e, quando acontece, é apavorante e chocante. O final do livro é, com certeza, a coisa que mais me marcou. É quando vem uma tonelada de outras bagagens para você assimilar e que destroça todas as suas certezas. Foram tantas emoções no final da leitura que eu fiz um fio no Twitter sobre as reações possíveis depois da leitura.

Estamos somente em março e Garotas tristes já se tornou no meu livro favorito do ano pelo que conseguiu me causar e pelo que apresenta. A delicadeza e a brutalidade com que a autora desnuda questões importantes é impactante. Com certeza, um livro que todo mundo deveria ler, mas com cuidado e sempre prezando por sua saúde mental, pois é uma narrativa que ferra a sua cabeça, sério.

Eu adoro sentir um misto de emoções ao final de uma leitura, pois sempre fico com a sensação de que o livro me entregou um arsenal de questionamentos e que conseguiu atingir o seu propósito. Acredito que um bom livro consegue te transformar de alguma maneira e Garotas tristes, com certeza, fez isso comigo.

Só digo uma coisa: leia, pois não vai se arrepender.
Eu costumava achar que as pessoas eram faróis. Que estavam ali para proteger você. Mas elas não são. As pessoas são como redemoinhos. Elas puxam você para dentro, te arrastam para o fundo. Você tem que se esforçar muito só para ficar com a cabeça fora da água, p. 375.



Love, Nina :)

6 comentários:

  1. Olá, tudo bem? Não conhecia o livro e adorei saber mais a respeito dele, acredito ter sido uma excelente leitura com uma abordagem muito interessante, espero conseguir ler também!

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  2. Oi Nina.

    Adorei conhecer este livro através da sua opinião, pois eu não conhecia e ele apresentou temas importantes e interessantes. Vou adicionar na lista de desejados e espero ter o mesmo misto de emoções quando ler. Obrigada pela dica.

    Bjos

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  3. Nossa, é tudo de melhor no mundo quando estamos loucas por uma tradução, e ela vem, né?
    Sei como é ansiar por algo que sai lá fora e a gente só fica de dedos cruzados pra chegar aqui logo.
    Fiquei feliz em saber que não foi uma vontade frustrada, e que a história te entregou tanto quanto você queria.
    Beijão

    Carol, do Coisas de Mineira

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  4. Oi Nina!!

    Fico bem feliz que você tenha gostado da leitura e que você já encontrou o seu primeiro livro favorito do ano!! Achei a premissa do livro interessante demais, sem dúvidas seria um livro que eu leria, pois gosto muito do gênero, ainda que eu vá sofrer um pouco junto com os personagens. Diferente de você eu não acho que os jovens estão desenvolvendo problemas psicológicos cedo, eu acredito que estamos numa geração onde pedir ajuda deixou de ser vergonha e com isso claro há o aumento de pessoas buscando ajuda psicológica.

    Beijos!
    Eita Já Li

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  5. eu adoro a capa desse livro, ela condiz muito com o título eu achei bem interessante, e lendo sua resenha ela me soa ainda mais assertiva, eu lembro que quando vi essa capa fiquei curiosa mas ainda não consegui ler e agora quero muito :'(

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  6. Gostei bastante do artigo, muito bom mesmo! Estou amando ler seus artigos e compartilhar com os amigos!


    Meu Blog: Loteria Goiás da Sorte

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