The half of it: o amor é diverso

The half of it (Você nem imagina) estreou este mês na Netflix e, rapidamente, se tornou um dos filmes mais vistos do dia. 

Eu já estava sabendo do filme mesmo sem as divulgações da Netflix, pois encontrei um perfil no Instagram que falava sobre o filme e, pelas fotos que vi, estava aguardando algo bonito. Aí, no dia da estreia, vi muita gente reclamando que o filme é meio nonsense, então já comecei a assisti-lo meio arrependida... E que burra, viu? Eu fiquei nada arrependida depois de vê-lo, fiquei bem feliz, na verdade. 

Título: The half of it (Você nem imagina)

Direção: Alice Wu

Ano: 2020

Onde assistir: Netflix

★★★★

The half of it começa mostrando o início de um dia na vida da protagonista, a Ellie Chiu, uma garota aparentemente afastada dos colegas de escola e que não dá bola para os comentários alheios. Ela frequenta o coral da escola e, entre estudos, ela cobra para fazer os deveres de casa dos colegas. Essa apresentação ficou confusa, de início, mas depois o espectador vai entendendo, vai juntando os fatos. 

Ficamos sabendo que o pai da Ellie só fica em casa assistindo a filmes para treinar a língua inglesa e, então, entendemos por que ela cobra para fazer deveres alheios: ela precisa desse dinheiro para gerir a casa, uma vez que seu pai não trabalha. Aí, entra um colega de escola, o Paul. Ele pede à Ellie que escreva uma carta de amor à garota que gosta, a Aster. A princípio, Ellie fica brava e declina, mas acaba aceitando. Aí o filme realmente começa.

Nem Ellie nem Paul poderiam prever que Aster responderia à carta e, então, entra um dinamismo na trama. Para Ellie saber exatamente o que conversar com Aster, ela e Paul começam a investigar a vida de Aster para saber seus gostos. Com isso, Ellie começa a se soltar mais nas cartas e também na rede social pela qual conversa com a garota. Paul, é claro, não é nada compatível com Aster, mas Ellie tenta ajudar o quanto pode. 

A trama é extremamente previsível, clichê e até meio pobre, mas acaba funcionando, porque as personagens convencem e são cativantes. A partir de mensagens maduras demais para a idade das personagens, que falam de amor, o espectador acaba comprando a narrativa. Há situações engraçadinhas, mas o filme foca bastante no amadurecimento e no drama familiar. 

A partir do drama, vamos conhecendo as três personagens centrais. Esse drama é muito humano, fala do deslocamento, de ancestralidade, de família, de escolhas pessoais. Ele é diluído conforme a história avança e acaba transmitindo um acolhimento muito bonito. 

The half of it, apesar de parecer, não fala no amor romântico estrito. Ele fala de relações, de como o amor é transformador e de afeto. Achei que as personagens tiveram um desenvolvimento bastante bom, à exceção de Aster — senti que não tive muito acesso a ela, como se ela fosse meramente o "objeto" de afeto. Apesar de o filme, tecnicamente, rodar nela, senti que foi uma personagem apagada. Há cenas simplesmente jogadas na narrativa para complementar diálogos. 

Como disse, os diálogos são bem maduros, mas não deixaram de expressar a juventude. Essa juventude que busca respostas para tudo, que contesta, que não se conforma com uma resposta pré-pronta. Há cenas poéticas, doces, que quebram com a violência do drama. 

O filme em si é redondo, mas sinto que daria para construir uma continuação. O clichê é ora bom e ora muito batido, mas a maturidade emocional das personagens é ótima. A maturidade do enredo está no fato de não transformar a narrativa em uma romcom boba e reciclada. Apesar de, no início, dar a impressão de que falará de um amor romântico como todos os outros, The half of it inova na hora de falar de amizade, de fortalezas, de união. 

O final é bastante maduro, com cada personagem seguindo seu rumo a partir das lições aprendidas. Cada uma teve de lidar com fatos e cargas emocionais diferentes, mas, ao final, fica óbvio que o amadurecimento era a peça central. 

Numa sociedade que superestima o amor romântico, especialmente para as mulheres, foi muito bom ver outra narrativa ser construída. O grande trunfo do filme é justamente falar de amor em suas diversas formas e intensidades e de relacionamentos — não o quanto são difíceis e confusos, mas o quanto são humanos, com suas falhas e acertos. 

Falar de The half of it é falar de uma juventude diferente, é escancarar o quanto jovens são maduros e o quanto narrativas de coming of age são necessárias.

Eu nunca quero ser o tipo de cara que para de amar alguém por ela amar do jeito que ama.

Love, Nina :)