Todas as coisas bonitas & douradas
Você se lembra de como eu estava com muito medo de pular e encontrar o desconhecido e a ausência das coisas bonitas? Eu não me movi por anos, dormi em uma tempestade imersa numa escuridão gelada. Eu me afastei de você e de todos, das risadas, dos beijos, do conforto — achei que o tempo levaria tudo embora, que seria capaz de me abrir e me curar para todo o sempre. A jornada foi no meio de uma floresta inabitada, onde eu só podia ouvir meu próprio eco implorando por socorro. Não havia céu cor de rosa ou mesmo o meu pôr do sol preferido; apenas havia verde-musgo, cinza e amarelo-queimado — eu não conseguia respirar, mal conseguia dizer meu nome.
Eu segui meus medos até o fim. Eu me mudei, comprei um casaco novo, me apaixonei por outras pessoas. Eu também chorei noite adentro, pensando no tempo perdido. Me afoguei em lágrimas, porque queria arrancar todas as emoções e deixá-las esquecidas em algum canto no meio de todo aquele verde. Eu também achei que fosse morrer coberta de culpa e de tristeza.
Lembra que o banheiro da faculdade parecia um lugar perfeito para chorar? Lembra quando eu tive o primeiro ataque de pânico e achei que estivesse morrendo na frente de todo mundo? Lembra quando me chamaram de louca e eu fui embora para nunca mais voltar?
Eu também tive epifanias — todas com tanta profusão de palavras que eu era incapaz de contê-las. Desisti da única pessoa que amei, fugi no meio da noite, voltei para antigos amores. Eram tentativas falhas, tentativas que não expressavam o dourado que queria irromper do coração aos fragmentos. Eu achei que fosse recomeçar com meu amor amarelo-queimado e com a tristeza constante de sempre. Eu estava tentando tanto que apenas produzia raiva. Acordava e gritava comigo mesma, tentando ser diferente, tentando sentir diferente, tentando calar os pensamentos vermelhos.
Eu queria o dourado de um novo dia, da luz que penetra nas frestas da janela, do amor que acalma tudo.
Eu queria de volta as coisas bonitas de cinco anos atrás, de quando eu ainda não sabia nada sobre a vida. Eu ainda morava numa caixa construída pelos outros, os olhos não se queimavam por causa das palavras que machucavam a alma e as músicas românticas ainda eram suficiente. Eu queria que o tempo pegasse na minha mão e me mostrasse que crescer era como ser atingida por um trem, mas que também era como afundar os pés na espuma do mar.
Eu sentia falta do céu celeste, das flores amarelas do portão de casa, do silêncio reconfortante.
Eu não queria mais as folhagens ásperas na minha pele tão machucada, as grades que me separavam dos futuros amores, as ruas vazias do coração. Eu queria voltar a ser minha amiga, queria voltar a sentir meu coração gigante e habitado pelas pétalas cor de rosa de antes.
Eu procurei a luz por muito tempo. Fiquei debaixo do sol tentando entender como me sentir de novo como um dia incrível de verão na beira do lago. O medo não foi embora. Eu me mudei mais uma vez, comprei um vestido e passei um batom púrpura que me fez sentir como se eu pudesse lembrar como era a vida antes da fuligem que me recobria.
Eu deixei o fogo abrandar, espalhei coisas por onde passei e acabei entregando mais cartas de amor do que gostaria. Era um adeus escuro e difícil. Eu não queria mais nada azul, eu só queria que existisse dourado nas minhas pegadas pela costa.
Você se lembra de como eu parecia feliz no meio das montanhas? E de como pareceu tão fácil alcançar o céu?
Eu ainda me lembro da esperança de acreditar que tentar era o suficiente. Agora, estou de volta às memórias retorcidas de uma vida desencontrada e vermelho-sangue. O ciclo continua, mas eu nunca deixei de ser aquela garota que tentava encontrar as coisas bonitas — a cor do céu, o meio-sorriso quase invisível de alguém que preferiu ir embora antes do tempo, as palavras sobre como o amor transforma a alma.
Passei muito tempo tentando me ajustar e querendo retornar a um lugar que nunca foi meu. Eu espero que você saiba que eu estou tentando descobrir novos jeitos de vivenciar a paz e a esperança. Você ainda parece uma fotografia antiga no meio das minhas infinitas palavras de amor que nunca foram entregues aos seus destinatários. É como se estivesse indo embora, mas não o suficiente. Você ainda é um meio-caminho, e eu continuo abrindo todas as clareiras dessa floresta, querendo saber para onde me levarão.
Eu ainda continuo morrendo em cada encosta, em cada respiração, em cada novo batimento cardíaco.
Mas você pode continuar, querida. Olhe as nuvens cor de rosa e se lembre que existem coisas bonitas e douradas na próxima montanha. Você não precisa mais chorar. Você pode pegar seu manto amarelo e arrastá-lo para baixo do sol, enquanto seu coração se enche de felicidade por um novo dia. Sinto muito por todas as lágrimas, por todas as vezes que implorou para morrer, por toda a raiva que sentiu de si mesma.
Menina, acabou. Ouça os passarinhos no fim de tarde. Respire. Lembre-se de como você amou as flores brancas, de como aquele casaco cor de rosa nunca mais vai sair da sua mente (você até finge que ele não existiu, às vezes) e de como aqueles três minutos desconectada foi o melhor momento da sua vida.
Respire. Caminhe até a próxima montanha e deixe que o medo seja engolido pelo amor dourado do seu peito. Continue tentando. Eu vou encontrar novos horizontes para você, sempre.
UAU, que texto lindo e profundo! Alguns trechos até parecem que foram escritos para mim, rs. Tão bom ler algo e se identificar, ter a sensação de realmente -ou ao menos tentar ao máximo- entender os sentimentos que o texto quer transmitir.
ResponderExcluirAguardo para conferir novos textos,
abraços,
Andy - StarBooks
Amei a poeticidade desse texto, amiga!
ResponderExcluirObrigada pelo texto Nina. Como sempre, é muito bom ler algo teu!
ResponderExcluirÉ um bom texto, quase uma catarse, e como bem colocado, tudo passam e novos horizontes surgem porque a vida, mas experiências a noções sobre as coisas também podem ser subjetivas, não uma caixa fechada de conceitos determinados.
ResponderExcluirNossa nina, que texto, eu me vi muito nisso que você escreveu e eu tô arrepiada com isso, que experiencia ler algo seu.
ResponderExcluirEu nem sei o que falar, você sempre me emociona com as coisas que escreve e suas fotos transmitem uma coisa muito boa, adorei, assertiva como sempre!
Olá, tudo bem? Que texto, que mensagem! Me identifiquei em muitas cenas que vi pelo texto, e o final chegou com certo alívio. A vida às vezes nos faz seguir caminhos e passar por coisas que nem imaginamos, ou que pensamos que nunca vai acabar. Mas no final, sempre há luz. Amei demais as fotos e que transmistiu sobre!
ResponderExcluirBeijos
Oi, tudo bem?
ResponderExcluirNossa, estou aqui procurando palavras para falar sobre o seu texto. É tão bonito e tão real, me identifiquei muito. E você escreve com muita sensibilidade, transmite para o leitor os seus sentimentos. Adorei!
Beijos!
Que texto maravilindo!
ResponderExcluirSeu texto meio que caiu como uma luva! Estou numa fase meio de ter medo de pular e encarar tudo de frente. Ele é inspirador. Parabéns!
Bjs
Lucy - Por essas páginas
Que texto mais lindo e tocante! Me identifiquei em muitas partes, principalmente quando você fala: "Passei muito tempo tentando me ajustar e querendo retornar a um lugar que nunca foi meu." É um texto que me fez refletir muito e li no momento certo. Obrigada <3
ResponderExcluirBem profundo o texto, sensível e discorre de coisas reais que vivemos em alguma fase da vida como medo que pode paralisar ou a ideia que o tempo vai curar,às vezes, ele cura mesmo, às vezes, só empurramos o problema para sombra que nos assombra. amei
ResponderExcluirGostei bastante do artigo, muito bom mesmo! Estou amando ler seus artigos e compartilhar com os amigos!
ResponderExcluirMeu Blog: Como funciona o Gol Bet?