A diferença invisível: Síndrome de Asperger em cores

outubro 06, 2017
Já fazia um tempo que eu via essa graphic novel na página da editora Nemo e não resisti, quando a vi por um preço muito bom na Amazon. Eu tenho amado cada vez mais ler esse gênero, não somente porque ele é visual e nos permite ir além da imaginação, mas porque ele tem evidenciado temas não muito recorrentes nos romances.


Título original: La différence invisible
Roteirista: Julie Dachez
Adaptação do roteiro, desenho e cores: Mademoiselle Caroline
Editora: Nemo
Páginas: 192
Ano: 2016 (FRA) | 2017 (BR)
★★★★★

Como a maioria das graphic novels, a leitura é bastante rápida. Acho que a li em uns quarenta minutos, madrugada adentro. O enredo nada complicado também auxilia na compreensão. O tema que permeia o livro, no entanto, precisa de um esforço, se você nunca ouviu falar da Síndrome de Asperger. Ainda assim, o cuidado que a roteirista e a desenhista tiveram não somente em abordá-lo e torná-lo real, mas em oferecê-lo da forma mais natural possível tornam a leitura enriquecedora e emocionante. 

Margueritte tem 27 anos, então, você não encontrará uma personagem ainda em construção e em desenvolvimento pessoal. Ela está pronta e isso é ótimo, porque o leitor acompanha consequências do que ela já é, não do que ela está em busca, ou quer ser. Ainda assim, existe o conflito, meio que existencial, de Margueritte, já que ela se sente não apenas invisível, mas mal compreendida e bastante excluída. No ambiente de trabalho, com seu namorado, no mínimo círculo de amigos: ela não tem lugar, isso porque tem muitas restrições e uma rotina peculiar. O "não gostar" dito por ela, algumas vezes, nada mais é do que um limite que não depende dela. Ela não gosta de música alta, de ficar fora de casa por muito tempo, de almoçar com seus colegas, mas tudo isso é um efeito do que ela não consegue suportar. E não que ela tenha escolhido se afastar de ambientes sociais: às vezes, até se esforça para estar em convergência com o esperado, mas muitas vezes acaba tendo ataques de pânico. 

A personagem é constantemente julgada (especialmente por seu namorado, o que me fez ficar com muita raiva), trapaceada e zombada. Por isso, mesmo que ela se sinta razoavelmente confortável com como é, também se sente bastante triste e culpada por não conseguir atingir as expectativas dos outros. Mas é na internet que ela começa a perceber que o modo como é tem uma explicação. A internet, é claro, ajuda muitas pessoas a se sentirem melhores consigo mesmas, mas ela não deve ser a única fonte consultada. E é por isso que Margueritte contesta seu psicológico e todos os outros pelos quais já passou, porque: se ela sempre teve Síndrome de Asperger, como é que ninguém nunca a diagnosticou? Um dos médicos, finalmente, a diagnostica e ela entra em contato com um centro de apoio, onde passa por vários testes para comprovar clinicamente que convive com a Síndrome. A espera é longa, mas quando o diagnóstico positivo vem, ela se vê muito feliz, porque, finalmente, o que ela sente tem uma explicação. 


A partir daí, Margueritte ganha mais amigos (como ela) e a vida ganha mais cor. É incrível como a ilustradora conseguiu demonstrar a ascensão da qualidade de vida da personagem. Enquanto Margueritte se sentia triste, poucas páginas tinham cores vívidas, mas depois do diagnóstico, o mundo (e as páginas) são tingidas com muito mais frequência. É lindo acompanhar esse processo, porque é, literalmente, um desabrochar de cores. 

A graphic novel ganha o leitor por tudo, mas a sensibilidade é a maior. O leitor sente que a roteirista (Julie), por ter esse tipo de autismo - já que a Síndrome de Asperger é um grau de autismo -, conta sua própria vida, o que faz com que a a realidade ilustrada ganhe outras proporções. Por conhecer a fundo o assunto, ao final, já uma espécie de guia, que contextualiza a doença e oferece maneiras de identificar alguém com a Síndrome. 

A história me tocou de uma maneira bem pessoal, porque diversas coisas que a Margueritte faz e sente me fizeram perceber que também faço e sinto. Em parte, eu sei que é porque a minha fobia social e a minha ansiedade me afetam de um modo que parece que escolhi não tolerar muitas coisas (festas e grupos muito grande de pessoas, especialmente). Mas é importante salientar que o que a gente sente é sempre válido e, se você acha que precisa de ajuda, a internet é boa, mas nada substitui um especialista ;)

A diferença invisível é extremamente humano; uma aula sobre empatia, amor-próprio e respeito ao outro. 


Love, Nina :)

6 comentários:

  1. Que graphic mais amorzinho Nina, eu realmente não conhecia e senti-me envolvida diante da linda mensagem que parece transparecer, suas palavras sempre me deixam envolvidas e me cativam de um jeito sem igual, com toda certeza adoraria ler, ainda mais que são poucas páginas.
    Beijinhos

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  2. Não conhecia este tipo de livro, mas fiquei muito curiosa para ler algo assim. As gravuras são lindas e a história parece ser bem reflexiva, abordando um assunto que passa despercebidos por muitos. Aqui no trabalho tenho contato com crianças com diferentes grau de autismo e vejo os olhares dos demais, uma pena. Enfim... que bom que se identificou com a leitura, vou procurar a oportunidade de ler o gênero.

    Beijos.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  3. Olá!
    Que livro mais encantador. Fiquei com muita vontade de conhecer mais a fundo. Apesar de trabalhar na área da saúde não conheço muito sobre essa síndrome.
    Excelente dica!
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  4. Olá, tudo bem?
    Fui pesquisar para ver se esse livro já tinha sido lançado cá em Portugal e não :( Fiquei com muita vontade de ler. Desde que comecei a estudar psicologia gosto de ler livros de ficção que falem sobre o assunto em vez de ler apenas livros de estudo sabe? Nunca tinha nenhum que falasse sobre Síndrome de Asperger e esse sendo uma graphic-novel deu-me ainda mais vontade. Vou tentar procurar online porque preciso conhecer essa história.
    Beijinhos
    www.fofocas-literarias.blogspot.pt

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  5. Nada substitui um especialista mesmo. Li o livro e me apaixonei tanto pela história, como pela qualidade dos quadrinhos. Amei a forma como a diferenciaram antes do diagnóstico e ela depois de saber sobre sua síndrome.
    Bjs, Rose

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  6. OIieee


    De uns tempos pra cá andam publicando umas graphic novels bem interessantes, sobre assuntos diversos que chamam a minha atenção. Essa parece ser interessante por tratar de uma síndrome que até pouco tempo era pouco conhecida.

    Beijos

    aliceandthebooks.blogspot.com

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Editado por Alice Gonçalves . Tecnologia do Blogger.