O oceano guarda as minhas colheres

dezembro 16, 2017
Quando as coisas estão ruins, eu procuro pelo oceano. Ele me lembra que não importa quão raso ou profundo seja, vai dar pé, mesmo nos piores dias. Ele arrebenta em meus pés e me traz respostas, assim como eu envio algumas cartas para além de tudo o que meus olhos conhecem. 

O oceano sabe que existe muito azul, um azul escuro, em mim - e, às vezes, não dá pé. Às vezes, é tanto azul que parece um maremoto, invadindo ilhas, destruindo os dias alegres, soterrando lembranças intocadas. Mas, quando tudo isso acontece, quando a água verte e não sei como parar, é quando o oceano consegue me dizer: vai parar. Não é que ele saiba como, ou quando - mas ele sabe, porque as coisas voltam, também. As ondas que já atingiram rochedos, submergiram baleias e feriram navios também já tocaram a areia, os pés das crianças e serviram de moldura para tantas fotografias.

Às vezes, ele vem em fragmentos. Traz todos os sentimentos juntos, os que não conseguiram transbordar. Mesmo que sejam bolhas, se parecem com cinzas, porque eu não sei bem como remontá-los a partir de todas essas partículas soltas, à minha espera. Eu sinto tudo isso, mas não entendo direito. É uma paisagem linda, sem palmeiras, mas com muitas conchas - só que parece estar em um mosaico desorganizado. Se você chegar muito perto de um mosaico não verá o todo, não saberá o que está enxergando, não saberá o que está à sua frente. Às vezes, ficar muito perto do oceano é assim: você não entende qual é o propósito. Pode ser um afogamento, mas também pode as ser férias. 

O oceano em mim não é mais como um maremoto. Eu sequer me sinto no meio dele; não sou mais o oceano, mas o barco acima dele. E não estou mais dentro do barco, também. Eu esperei por esse momento: no qual eu seria o barco, não mais que estivesse à mercê dele. 

Eu sei: barcos quebram, explodem, afundam - mas eu não tenho mais medo. Acho que eu não tenho mais medo do oceano em mim, entende? 

Barcos trafegam pelas coisas que carregam, e eu não tenho mais medo da carga que ele - eu - leva, ou do peso dela. Eu sei que vai ficar difícil, às vezes, insuportável; às vezes, será difícil sobreviver a tantos reparos, mas alguns barcos sabem como pairar acima da tempestade, sabem que vai existir céu azul e sol, sabem que existe vida a ser completada e desejada e amada. Alguns deles sobrevivem com metade do carregamento faltando, com o motor exausto e com muitas ranhuras. Alguns chegam ao seu destino, mesmo quebrados, mesmo que isso custe tudo o que são. 

Eu ainda estou com uma colher na mão, tentando retirar a água que entra. Isso ainda não acabou, eu ainda sou essa pessoa, só que eu não tenho mais pavor da água gelada, do sal na pele, do quanto ela arrebenta todos os meus fios. 

Eu estou saindo da tempestade, posso ouvir os pássaros do continente, ver a espuma que bate com mais gentileza - quase um shhh, você está sobrevivendo -, respirar gotículas mais suaves que não tentam me sufocar. 

Eu não estou mais afogada. Meu barquinho não virou. 

Algumas colheres foram embora com as ondas mais furiosas, e eu achei que fosse morrer. Mas tudo precisava sobreviver e ouvir as últimas batidas extenuadas pedindo, implorando que a calmaria voltasse, porque oscilar é melhor do que virar. Oscilar significava que eu estava tentando resistir com a minha única colher. 

Ela sobreviveu; menos brilhante do que antes, agora bastante corroída pela água e pelo sal. 

O barco está em reparação. Mas o oceano é testemunha: as coisas sempre chegam onde precisam estar, desde o início. 

Algumas viagens são mais longas do que outras, mas não significam que não precisavam ser feitas. Também não significam que nos querem distante de quem somos: é porque nos querem mais perto do que jamais estivemos da vida. 


A realidade vai quebrar seu coração.
A sobrevivência não será a parte mais difícil,
é manter todas as suas esperanças vivas
quando todo o resto de você morreu.
Então, deixe quebrar seu coração.


Love, Nina :)

12 comentários:

  1. Oiee
    Que lindo texto, amei! Sua visão e opinião sobre o oceano são maravilhosos. Acho uma coisa linda também, quando se olha por vários minutos pra ele e fica pensando em várias coisas. Adorei o post.
    Bjos, Bya! 💋

    ResponderExcluir
  2. Oii, Nina. Eu admiro muito você, seu jeito de escrever resenhas e textos, eu amei o último conto que foi publicado na amazon. Eu estava ansiosa pra ler algo seu além das coisas postadas no seu blog, fiquei muito feliz quando consegui.
    Sobre esse texto, estava precisando ler algo assim, foi como se uma faísca de esperança nascesse em mim através dele. Foi como se eu entendesse que tudo é preciso acontecer para chegar no destino <3 obrigada por esse texto, você arrasou demais. Vou reler e reler.
    Cupcakeland

    ResponderExcluir
  3. TRYING TO EMPTY THE OCEAN WITH A SPOOONNNNNN
    MELDELS TE AMO MUITO.
    E O TANTO QUE EU TÔ ORGULHOSA DESSE TEXTO? O FATO DE ELE EXISTIR POR SI SÓ ME FAZ QUERER TE ABRAÇAR 147X
    EU SEQUER CONSIGO DESATIVAR O CAPS LOCK PORQUE, DEUS, COMO ESTOU FELIZ POR SABER QUE VOCÊ FOI CAPAZ DE ESREVÊ-LO ASSIM DESSE JEITO TÃO NINA
    TE AMO DEMAIS,
    C
    www.horinhasdedescuido.com

    ResponderExcluir
  4. Bom dia! Tudo bom?
    Que texto lindoooo esse. Sabe que eu nunca pensei no oceano dessa forma? Nunca foi um lugar que me atraiu tanto, tenho até um pouco de medo, mas usá-lo em seu texto me fez ver com outros olhos. Amei!
    beijos
    www.apenasumvicio.com

    ResponderExcluir
  5. Uauuuu 👏👏👏
    Nunca me arrependo de ler seus textos ou contos na Amazon. Você consegue tocar a alma com palavras. Quem nunca achou que não iria naufragar em algum momento da vida está mentindo... acho que é inerente ao Ser Humano.
    Beijos,
    www.gatitaecia.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  6. Oi, tudo bom? ❤
    ALGUÉM ME AJUDA COM ESSA MÚSICA MARAVILHOSA DO PARAMORE? SOCORRÃO! Que texto incrível, estou apaixonado na sua escrita, sério, é uma forma envolvente e delicada que você traz neles, e além de tudo consegue transmitir todos os sentimentos para o leitor! Estou doido para ler seu livro e contos também, acho que já li um da editora Andross pelo que me recordo, eu acho que era seu (auhhauuha). Parabéns pelo lindo texto <3

    Abraços,
    www.cluaz.tk

    ResponderExcluir
  7. Oi, linda! Fazia um tempinho que não passava por aqui, tinha esquecido de como é bom ler seus textos. Você tem um dom com as palavras que me fazem emocionar. Parabéns.

    bjs
    www.livrosdabeta.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
  8. Ola
    Belo texto, muito tocante, não conhecia seu trabalho, mas vou começar a acompanhar.

    Bjus
    Jis Rocha
    Bçog Cá Entre Nós

    ResponderExcluir
  9. Oi!
    Adorei a profundidade que utilizou em seu texto, combinando bastante com a temática. Parabéns, você escreve muito bem. Espero ler mais textos seus em breve. Nunca deixe de escrever, é uma das mais belas manifestações de arte.
    Beijos e sucesso.

    ResponderExcluir
  10. Oi, Nina!
    Tudo bom? Menina, toda vez que leio um texto seu fico apaixonada, pois sua escrita é tão envolvente e delicada que é impossível não ser cativada logo de cara. Bom, eu adorei as comparações que você usou no texto e me identifiquei várias vezes com o que estava sendo dito no mesmo, pois muitas vezes já me senti afundando também, com medo que o oceano dentro de mim fosse me afogar. Além disso, gostei muito da mensagem positiva e inspiradora que o texto traz para o leitor, nos dizendo algo como: não desista, persista, siga forte. Enfim, parabéns pela texto, ficou realmente incrível e eu adorei essa música da banda Paramore no final, ainda não a conhecia, acredita? E agora já tenho uma nova música na minha playlist.

    Bjbj :*

    ResponderExcluir
  11. Olá,
    Nossa adorei a mensagem! Gosto do toque de destino e misturar com o cotidiano. Fica bem mais interessante o texto.

    Debyh
    Eu Insisto

    ResponderExcluir
  12. Oii Nina.
    Que texto mais maravilhoso é esse menina, a cada dia que passa você escreve cada vez melhor. Seus textos são sempre profundos e cheios de emoção, continue escrever cada vez mais.

    ResponderExcluir

Olá, obrigada pelo comentário, mas, para evitar passar vergonha na internet, por favor, não seja machista, LGBTQAfóbico(a), ou racista. O mundo agradece :)

Qualquer preconceito exposto está sujeito à remoção.

Editado por Alice Gonçalves . Tecnologia do Blogger.