Girl: sobre ser uma mulher trans

Pensando no mês do #OrgulhoLGBT, coloquei Girl, um filme bélgico, na minha lista da Netflix. Fiquei tão curiosa para saber sobre ele que o vi depois de poucos dias. Ele conseguiu me tocar muito, por isso o recomendo bastante (e ele parou aqui hehe).

Título: Girl

Direção: Lukas Dhont

Ano: 2019

Duração: 1h45

Onde assistir: Netflix

★★★★★

O filme conta um recorte da vida de Lara, uma garota trans que ama ballet e que quer muito entrar em uma das melhores escolas de dança do país. Ela vai fazer um teste na escola e consegue um período de treinamento, para saber se vai mesmo conseguir uma vaga. Os professores acham que a garota está atrasada quanto às aulas e as práticas, mas após o período de experiência, Lara consegue a vaga. A determinação dela é algo que chega a nós de forma corajosa e dolorida.

Na escola, é ótimo ver que ela não sofre tanta transfobia como achei que sofreria. Apesar de alguns episódios de bullying realmente horríveis, ela não sofre violência física, por exemplo. Era de se esperar que no mundo das artes as pessoas sejam mais abertas, mas não podemos esquecer que ela está numa escola em meio a jovens que, apesar de tudo, continuam sendo adolescentes comuns.

Fiquei muito feliz de ver que o pai a apoia totalmente. Ele, é claro, não consegue entender totalmente a filha, mas muitas cenas passam a sua preocupação com ela, especialmente quando ele começa a perceber que Lara esconde muitas verdades sobre como está se sentindo na nova rotina.

É perceptível o quanto Lara quer ser uma mulher completa, por isso, além de cenas em que ela toma hormônios e vai ao psicólogo, logo quer fazer uma cirurgia de redesignação, mas as circunstâncias para que a cirurgia aconteça são bem específicas. Aqui entra a parte mais triste do filme, na minha opinião: Lara esconde seu pênis durante a escola todos os dias, o que acaba provocando complicações em relação à cirurgia. O filme não tem pudor na hora de retratar as cenas de ela escondendo seu pênis, o que confere muita veracidade à narrativa e, especialmente, ao drama. 

Além de ser pressionada a não demonstrar ainda ter partes de homem, Lara se cobra demais para alcançar o nível de seus colegas, o que acaba prejudicando seu psicológico e sua saúde de forma geral. É muito triste perceber como seu sonho, aos poucos, vai acabando com ela. 

Girl é um drama que convence, mesmo que Lara seja interpretada por um ator cis. Então, fica aqui a minha admiração ao ator, pois ele conseguiu completamente interpretar uma garota adolescente. A atuação dele é incrível. 

Durante todo o filme, eu fiquei apreensiva, achando que sempre alguma coisa muito ruim aconteceria: que ela sofreria nas mãos dos colegas, especialmente. O bullying foi o meu maior medo, mas o final do filme é simplesmente o pior medo que eu nem imaginaria. Foi completamente chocante assistir à cena, além de desesperador. 

Eu sou uma mulher cis, então não faço ideia de como é nascer no corpo errado, mas, mesmo assim, eu sofri demais durante esse filme e, especialmente, nas cenas finais. Apesar de a última cena ser mais esperançosa, Girl é extremamente dramático, sensível e verdadeiro.

Recomendo pela carga emocional, pelas ótimas cenas bem feitas e por realmente saber expressar a vida de uma pessoa trans. 

~

Love, Nina :)