Special: chega de armários
Fiquei sabendo sobre Special, uma produção da Netflix, por meio do Vitor Martins.
O fato de o protagonista ser totalmente fora da curva me fez ter certa expectativa, que foi contemplada, mas com menos entusiasmo do que achei que teria. Ainda assim, é um seriado rico, necessário e que dialoga muito bem com o público diverso de hoje em dia.
Título: Special
Criação: Ryan O'Connell
Ano: 2019
Temporadas: 1 (até o presente)
Onde assistir: Netflix
★★★★ + ❤
Special é meio que autobiográfica, pois é baseada no livro de Ryan O'Connell I'm Special: And Other Lies We Tell Ourselves. A série, inclusive, foi criada e escrita por Ryan, que tem paralisia cerebral e é gay.
Então, o seriado foca nessas duas característica de Ryan: a deficiência e a sexualidade, mas o interessante é que na maior parte do tempo elas não são uma barreira para o mundo real. Apesar de o personagem tratar a paralisia como um capacitismo, acaba percebendo que as pessoas gostam dele pelo que é.
A trama não investe em uma história de superação triste e memorável, pois passa a imagem do mundo real, de como Ryan realmente é e como é lidar com as várias situações diferentes de sua vida. Sim, há cenas mais emocionantes, especialmente em diálogos que Ryan tem com a mãe, pois ele vive num dilema constante: não quer ser tratado diferente, mas quando as pessoas o tratam assim, ele se sente acuado.
É com calma, apesar dos episódios curtos, que vemos Ryan fazer novos amigos, ter novas experiências e se apaixonar. São oito episódios ao total, cada um entre 10 e 13 minutos, mas que condensam sem pressa a vida desse jovem adulto que busca pela independência.
Ryan tem duas bases na série: a mãe, com quem tem uma relação boa, mas de certa dependência, e Kim, uma amiga de trabalho. As cenas com a mãe são cotidianas, mas de uma sensibilidade ímpar. A relação com ela demonstra como pais e filhos podem se ajudar mutuamente sem interferir na felicidade um do outro. Já com Kim, uma indiana fora do padrão estético, Ryan aprende a ser mais expansivo, dar a cara a tapa e lidar melhor com a autoestima.
Kim é, provavelmente, a segunda melhor personagem, depois de Ryan. Apesar do pouco tempo de seriado, ela é mostrada de uma forma positiva, densa e muito marcante. Ela tem várias inseguranças e isso mostra ao Ryan que, independentemente de qualquer desabilidade que ele tenha, as pessoas também carregam histórias depreciativas sobre si mesmas e precisam lidar com o mundo real.
A sexualidade de Ryan é algo tão puro e banal, o que faz essa parte dele ser sensacional. Ele não se esconde no armário, por isso vemos que ele não tem vergonha de se expressar como gay. Então, essa narrativa passa bem longe do clichê que ainda existe sobre sexualidade, da pessoa que precisa esconder quem é para continuar vivendo. Ryan, pelo contrário, vive com suas peculiaridades de uma forma aberta e real.
Ainda que eu não tenha rido como achei que riria, o dinamisno da série é muito bom e faz com que o espectador maratone os episódios sem paradas. A fotografia, inclusive, ajuda bastante, pois consegue mostrar as nuances das personagens e das atmosferas das cenas.
Special mostra que a deficiência e a sexualidade são pequenas partes de Ryan, e que ele tem muito a oferecer. O seriado fala sobre empatia, especialmente. E como é importante aceitar o diferente. É muito lindo ver como as narrativas conseguem incluir mais e oferecer mais acolhimento ao diferente. E esse diferente não precisa ser, necessariamente, o que é mostrado na série, pois acho que muito do que a série aborda - confiança, autoestima, redes sociais, padrões estéticos e expectativas amorosas - é facilmente relacionável por qualquer um.
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Love, Nina :)
E a primeira vez que vejo falarem sobre essa série, e achei bastante interessante falarem sobre dois temas que ainda são vista com preconceito de uma forma ampla, que como você mesma citou não apresenta o personagem com suas limitações e sexualidade mas para além disso. Acredito que isto seja muito importante para quebra estigmas. Porém odeio esses episódios curtos, me incomoda de mais era preferível ter feito um filme e pronto. Pretendo dar uma chance e acredito que vou gostar.
ResponderExcluirOlá! Tudo bem?
ResponderExcluirÉ a primeira vez que leio e tomo conhecimento dessa série e já vi que ela tem tanto a nos dizer! Amei, amei! Já tomei a dica como próxima série a assistir!
Beijos,
Blog Diversamente
eu cheguei a iniciar essa série mas ainda não acabei, mas no pouco que vi eu gostei do intuito dela, de trazer um personagem gay com deficiência, isso é que chamamos de trabalhar e refletir o respeito das diferenças.
ResponderExcluirEu tinha visto no catálogo da Netflix, mas não tinha dado ideia, agora com o seu post eu fiquei muito curiosa e vou até adicionar à minha lista para poder ver quando tiver um tempinho!
ResponderExcluirOi, Nina! Eu meio que vi essa série no Netflix, mas não tinha dado muita bola pra ela! Achei interessante a naturalidade com que o autor aborda as questões de sexualidade e da paralisia cerebral, que na verdade para ele realmente vai ser bastante natural, já que ele é assim rs. Mas achei muito bacana ele ter noção de que nada disso é problema para ele ser o que ele quiser na vida. Vou acompanhar a série.
ResponderExcluirBjos
Lucy - Por essas páginas