Um milhão de finais felizes: liberdade, independência e amor

Em 2017, eu resenhei o primeiro livro do Vitor Martins, Quinze dias, e quando saiu Um milhão de finais felizes, eu fiquei bem animada, especialmente porque li muito do processo de escrita dele pelo twitter do autor. 

Título: Um milhão de finais felizes

Autor: Vitor Martins

Editora: Globo Alt

Páginas: 551

Ano: 2018

★★★★★ + ❤

Um milhão de finais felizes traz um protagonismo incrível, já que o principal personagem é Jonas, um jovem adulto ainda no armário (mas só para os pais) que não faz muita coisa além de trabalhar num café temático e escrever ideias para histórias. Jonas ainda mora com os pais e, ao ter conseguido o trabalho, começa a ter mais responsabilidades dentro de casa. 

Acho que Jonas é altamente relacionável, porque ele representa uma parcela da população que não teve oportunidade de ir para a faculdade e que ainda está sob as asas dos pais menos pelo comodismo e mais pela falta de condições financeiras para se sustentar sozinho. Além disso, o autor usa de muito sarcasmo na construção do personagem, o que deixa Jonas cada vez mais próximo do leitor. 

O ambiente familiar, aos poucos, vai se revelando tóxico e abusivo, com o pai de Jonas sempre exigindo perfeição da esposa, que não faz nada para mudar a situação - talvez por sua criação religiosa. Dá para entender que Jonas não gosta do pai como deveria, apesar de ter (poucas) lembranças boas com ele. É por causa da dinâmica familiar corroída e preconceituosa que o personagem acaba tendo que crescer mais rápido do que gostaria. De forma ampla, dá pra dizer que Um milhão de finais felizes é um drama familiar. 

O contraste de como eu me sinto dentro e fora de casa fica cada vez mais evidente. É cansativo viver nessa montanha-russa que sobe e desce o tempo inteiro. Eu não aguento mais. Quero andar em linha reta, na montanha-russa mais sem graça de todos os tempos. Ou melhor, quero descer desse brinquedo. Quero sair daqui. Eu não sei como sair daqui. Eu quero me sentir bem. p. 133

Jonas acaba conhecendo Arthur no café onde trabalha e o romance é super legal, fofo e real. Mas, por causa dele, Jonas começa a perceber que viver com o pai começa a ficar cada vez mais difícil. 

Os amigos de Jonas nessa hora são essenciais. Ele acaba tendo que se juntar a uma amiga, pois é expulso de casa depois de ser descoberto pelo pai. Como o próprio Vitor escreveu na dedicatória, os amigos dele são a família que ele escolheu: pessoas que o aceitam e o amam acima de qualquer coisa. E cada um desses amigos tem uma personalidade incrível e que, num conjunto todo, é muito necessária para Jonas. Cada um consegue auxiliar o amigo num momento específico e essa amizade é muito linda. 

A forma como a representatividade homo e bissexual é apresentada é muito linda, sensível e real. Você não lerá frases de efeito cafonas ou forçadas: elas se aproximam muito da vida real, das pessoas reais. E isso é muito legal de se ver num livro, especialmente num livro nacional. Dá pra entender que o autor sabe com quem está falando e sobre o que está falando e isso passa muita segurança na narrativa. 

Ah, dentro da história de Jonas e Arthur, há também a história de dois jovens piratas, pois Jonas começa a investir numa de suas ideias, tendo Arthur uma de suas inspirações. Então, há capítulos exclusivamente para os Piratas Gays, o que torna a leitura muito dinâmica e divertida. 

De modo geral, Um milhão de finais felizes traz um passatempo justo, admirável e rico. É impossível não torcer para Jonas e Arthur, assim como é impossível não torcer pra um final feliz. É uma história muito lindinha e memorável, recomendo demais pela representatividade! 

O Brasil é um país cruel demais com quem nasceu diferente, mas, juntos, nós temos muita força. E os finais felizes que a gente tanto quer são apenas o começo.[agradecimentos do autor]

Love, Nina :)