O mau exemplo de Cameron Post: uma jornada para si mesma
Já fazia muito tempo, mais de um ano, que eu estava a fim de ler O meu exemplo de Cameron Post, da Emily M. Danforth, mas só recentemente é que consegui um exemplar. Posso dizer que gostei, mas foi uma leitura árdua e cansativa.
Título original: The miseducation of Cameron Post
Autora: Emily M. Danforth
Editora: Harper Collins
Páginas: 447
Ano: 2012
★★★★
Cameron é a protagonista do livro. Ela está passando as férias com a avó, totalmente da própria maneira, com a melhor amiga Irena. É logo nas primeiras páginas que a sexualidade de Cameron aparece. No mesmo dia em que ela beija Irene, seus pais morrem em um acidente de carro. A primeira coisa que Cameron pensa é que eles, portanto, não vão descobrir o que ela fez.
Cameron é uma personagem complexa. Aos 12 anos, ela já entra numa espécie de vórtice de desejo. É a partir daí que a jornada dela começa, sempre se envolvendo com meninas próximas. Tudo muda quando Coley se torna sua amiga, porque é com ela que as coisas ficam mais sérias e mais complicadas. Sua situação com sua sexualidade, então, se torna um "problema" incontrolável. Quando sua tia descobre que Cameron beijou Coley, o arco da protagonista tem uma reviravolta: ela é mandada para uma escola que pratica a "cura-gay", obviamente ligada à religião.
É muito crítica a forma com que Cameron vê o mundo. Ela não tenta se opôr a quem é e se dá ao luxo de experimentar sua sexualidade de maneira completa, sem pudor. Talvez essa seja o ponto mais positivo de Cameron. Ela não é afligida consigo mesma, não se recrimina, o que é uma novidade na literatura, especialmente se falando de literatura young adult. A adolescência, geralmente, é marcada de vergonha e cuidado, mas Cameron consegue desmitificar isso tudo com a aceitação completa de sua lesbianidade.
Quando ela vai para a escola de "cura-gay", a narrativa tem outro significado. Cameron não luta, o que me fez ficar apreensiva e com um pouco de raiva. Cameron descreve a sua rotina, bem como a dos colegas, e nos apresenta muito bem os novos personagens. Dá para perceber o quanto a religião tenta dar um "corretivo" nem um pouco assertivo às pessoas. Dá para perceber, também, que ninguém lá nessa escola entende sobre o que está tratando. Apesar de haver certa psicologização, ainda é um lugar-comum.
O livro é extenso, tem mais de 400 páginas, e a maioria do tempo tem descrições de coisas e situações que parecem não atravessar completamente a história, apesar de acrescentarem à protagonista. Por isso, a leitura foi lenta e meio exaustiva. Eu gosto de detalhes, mas neste livro eles me cansaram rapidamente. Ainda assim, eles contribuem para a descoberta de Cameron e sua sexualidade, assim como sua construção como uma personagem complexa, nem um pouco previsível.
O mau exemplo de Cameron Post é necessário especialmente porque dialoga de maneira verdadeira e sem pudor sobre a lesbianidade. É muito bom ler algo cuja narrativa não perpassa pela vergonha, culpa e derivados, o que dá a ela uma faceta de mundo real.
Quem sabe eu ainda não tenha me tornado eu. Não sei se é possível ter certeza de que você finalmente se tornou você.
Love, Nina :)
OI NINA PESSOA PERFEITA, TUDO BEM?! <3
ResponderExcluirAi eu vi você falando do livro nos stories e vim aqui ver o que se tratava e fiquei encantada, eu não sabia que esse livro era L e a escola da cura gay, meu deus! Não sei nem o que falar. Acabei de comprar o meu, assim que eu ler, eu vou te chamar no instagram pra gente conversar ahahahaha
Amei muito seu post!
Olá, o livro é novidade para mim, porém gostei de saber um pouco da sua experiência de leitura, acredito que a obra seria uma boa leitura mesmo que cansativa, e se tem uma coisa que aprecio em minhas leituras é a familiaridade com o que real, então acredito que iria gostar de ler também!
ResponderExcluirOiieee
ResponderExcluirEu também senti isso, que o livro tinha uma porção de situações que me cansavam, embora tivessem seu sentido na protagonista. Quero muito conferir a adaptação, parece bem fiel ao livro e pelo que ouvi dizer está bem contada, de maneira mais leve que o livro.
Beijos, Alice
www.derepentenoultimolivro.com
O livro pode ser a intenso, mas eu enfrentaria só pelo tema abordado e até entendo sua raiva para com o protagonista no centro de "cura", mas pode haver entrelinhas, não?
ResponderExcluirOi. Gostei da indicação do livro. Estre trecho de sua resenha "Ela não tenta se opôr a quem é e se dá ao luxo de experimentar sua sexualidade de maneira completa, sem pudor." me fez recordar um grupo específico de jovens que dei aula, eles não tinham vergonha de explorar a sexualidade. Já o final da resenha me deixou muito confusa "É muito bom ler algo cuja narrativa não perpassa pela vergonha, culpa e derivados, o que dá a ela uma faceta de mundo real. " não entendi a base para essa afirmação, talvez fosse preciso trabalhar um pouco mais a ideia. Vivemos em uma sociedade permeada pelos conceito judaico cristão que é uma merda e nisso está a vergonha e a culpa. Um dos últimos grupos que trabalhei, a culpa e a vergonha estavam causando problemas emocionais cruéis na vida dessas pessoas em questão, um grupo inteiro com sexualidade mal trabalhada por culpa e vergonha o que resultava em pura violência. No Brasil, especificamente, esse conceito judaico cristão foi trazido com os invasores europeus e já está em nossa memória celular. Gostaria de entender melhor sua ideia final porque talvez, eu tenha feito a confusão.
ResponderExcluirPela sua resenha deu pra sentir que foi uma leitura intensa. Fiquei curiosa para saber como o assunto foi abordado. Infelizmente ainda existem pessoas que acreditam que exista uma cura, como se fosse doença. Mas fiquei com vontade de ler, acredito que vai ser uma leitura arrastada em algumas cenas, mas que são importantes pro desenvolvimento da protagonista. Gostei da indicação <3
ResponderExcluirSai da Minha Lente