Quadripartida: poemas de uma sonhadora

Sou amiga da Patrícia Pinheiro há uns bons seis anos e o que nos aproximou foi a arte de escrever. Apesar de eu não me considerar uma boa poeta, admiro isso na Patrícia. Ela sabe como brincar com as palavras e dar a elas um sentido íntimo. Eu já via isso nos poemas avulsos dela, que ela compartilhava no Facebook, mas com este livro, eu pude contemplar outras essências da autora. Quadripartida é seu livro de estreia e é lindo e intimista. 

Título: Quadripartida

Autora: Patrícia Pinheiro

Editora: Laranja Original

Páginas: 132

Ano: 2019

★★★★★❤

O livro é dividido de acordo com os quatro elementos: ar, água, fogo e terra. Em cada uma dessas partes, o leitor acompanha um tipo catártico de autoamor, afastamento e autoconhecimento. A primeira parte (ar) foi a que eu mais gostei, com muitos poemas destacados. 

A autora permeia esferas diferentes de sua vida: a família (com poemas encantadores para seus pais), o amor romântico, o amor-próprio e a escrita. O lirismo intimista dos poemas nos traz mais para perto de nós e é quase como se pudéssemos tocar as palavras, pois elas se tornam suaves, mas com uma carga emocional tão palpável que parece arrebentar nosso coração. 

Mergulhar em Quadripartida foi, por vezes, me enxergar naquelas linhas. Eu e a Patrícia temos uma história de vida meio parecida em certos pontos, o que me deu a liberdade de sentir muitas dores latentes que advinham dos poemas. Eu pude sentir muitos sentimentos que, às vezes, só me vêm à tona nas sessões de terapia, por exemplo. O aperto no coração, a autonomia de não se envergonhar da angústia. 

Eu amo histórias intimistas, pois elas expõem muito do ser humano e, por vezes, fazem com que a ligação entre leitor e arte seja ainda mais forte. Com certeza, esses poemas vão ficar comigo para sempre. A maneira natural com que me vi nas estrofes, nos sentimentos transbordantes e nas entrelinhas angustiadas e saudosistas de alguém que busca o seu lugar bateu forte em mim. Esse sentimento de deslocamento, de procura incessante, existe nos poemas e é lindo perceber como ele consegue se desdobrar em outros, mais alegres e esperançosos. 

Quadripartida é um livro para se ler com um suspiro no peito. Após a leitura, o leitor agradece pelas palavras tão lindas e bem escolhidas que transformam sentimentos na superfície. 

[...] Vou descansar / dessa capa que eu visto / e que pesa toneladas / de todas as vidas / que eu não vivo.

Onde eu me afogo, / me curo / É na superfície / que respiram / os meus fantasmas.

[...] Eu escrevo para não esquecer de / sonhar.

Quando tudo é dor / o que me ajuda a respirar / é a lembrança dos jardins / que florescem / no concreto do meu peito.  

Love, Nina :)